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Na “Cabana dos Parodiantes” houve conversa a sério sobre os malefícios do sebastianismo

Na “Cabana dos Parodiantes” houve conversa a sério sobre os malefícios do sebastianismo

António Sebastião e Silva lembra que além de Salazar também Cavaco Silva já foi o “O Desejado”

Os prejuízos causados a Portugal pelo rei D. Sebastião, que desapareceu a 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer-Quibir, são incalculáveis. Em Salvaterra de Magos, um professor apaixonado por história “arrasou” o mito.

Os nacionalistas portugueses, nomeadamente os do PNR (Partido Nacional Renovador), estão a agrupar-se à volta do mito de . D. Sebastião, como já o tinham feito no tempo do Estado Novo. O pretexto é o livro “D. Sebastião - O Elmo de Alcácer-Quibir” de Rainer Daehnhardt, um pesquisador, de 72 anos, descendente de alemães que afirma ter comprado o capacete que o rei usou na batalha. Quem o diz é o professor reformado António Sebastião e Silva, que leccionou nos últimos anos na Escola Marquesa de Alorna, em Almeirim, e que foi o orador convidado da “Cabana dos Parodiantes” em Salvaterra de Magos, para mais uma das suas tertúlias.“Agora até há um grupo na Internet chamado O Elmo de D. Sebastião. A maioria são pessoas ligadas ao PNR. O que me preocupa é que D. Duarte Pio de Bragança também lá ande. O nacionalismo está a tentar, como fez no tempo do antigo regime, aproveitar-se do mito de S. Sebastião e branquear a memória de um rei que não foi lá grande coisa”, afirmou.O professor, que está aposentado há pouco mais de um ano, falou na noite de 30 de Outubro e terminaria a sua intervenção com uma citação de Mário Domingos, um escritor falecido em 1977 que, segundo diz, escreveu “o livro mais equilibrado” sobre o monarca, com o titulo, “D. Sebastião - O Homem e a sua época”.“A obstinação mórbida de D. Sebastião era incurável e os desastrosos prejuízos que poderia causar no reino, justificavam que se lhe vestisse um colete de forças, única maneira de evitar que o alienado se transforme num perigo público. Era um caso patológico flagrantíssimo. Se os psiquiatras do nosso tempo analisassem esse rei com o rigor que a ciência moderna já permite, prestariam alto serviço à história nacional.”António Sebastião e Silva lembrou que D. Sebastião recebeu o cognome de “O Desejado”, por ter sido um filho desejado por questões de sucessão ao trono de Portugal e não pelo facto de muitos suspirarem pelo seu regresso após ter desaparecido na batalha travada no Norte de África. O pai do rei era o 8º filho dos 10 filhos do rei D. João III, príncipe D. João Manuel, que casou aos 15 anos e morreu antes do nascimento daquele que viria a ser o rei de Portugal. Segundo o orador o rei terá contraído gonorreia aos 10 ou 11 anos, numa altura em que a corte estava em Almeirim e que a doença lhe provocou uma “disfuncionalidade”. Admirador dos feitos de D. Nuno Álvares Pereira, terá decidido afirmar-se através de uma acção heróica. Fugiu sempre ao casamento, talvez por saber que era impotente. Morrendo sem descendência deu origem à perda da independência e a uma situação catastrófica. “Sessenta anos de ocupação e mais quarenta de guerras e sacrifícios”.Quanto ao mito do regresso do rei que nos viria salvar e que permanece hoje na esperança do aparecimento de uma figura providencial, António Sebastião e Silva atribui-o à nossa costela judaica. Incorporamos o desejo da chegada do Messias e isso tem-nos prejudicado. “Ainda no tempo das invasões francesas se dizia que D. Sebastião iria regressar. Depois tivemos Salazar, o homem providencial e até Cavaco Silva foi uma espécie de D. Sebastião apesar da sua provável ascendência árabe”, diria com algum humor.O javali e a canção de José Cid A audiência foi cativada pelos conhecimentos de história do orador mas também pela maneira com que soube pontuar a sua exposição com pequenas curiosidades. “O cantor José Cid que compôs a “Lenda de El-Rei D. Sebastião” tinha começado a letra com um “Fugiu de Alcácer-Quibir” mas a censura interveio e a canção passou a abrir com “Depois de Alcácer-Quibir”, contou o orador. “Há quem atribua a falta de descendência do rei não ao facto de poder ter ficado impotente devido à gonorreia mas por ser homossexual. Há até uma referência a ter sido encontrado um dia agarrado a um escravo negro. Quem conta a história refere que ele terá dito que julgava ser um javali porque já estava escuro. Como ele era caçador e sabia distinguir um javali de uma pessoa, se disse isso foi no sentido de dizer que um escravo não era bem uma pessoa”.
Na “Cabana dos Parodiantes” houve conversa a sério sobre os malefícios do sebastianismo

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