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“Nunca me escondi atrás de nada nem de ninguém”

“Nunca me escondi atrás de nada nem de ninguém”

António Mor, 65 anos, director do Centro Social do Pego, Abrantes

Natural do Pego, Abrantes, foi torneiro mecânico na Metalúrgica Duarte Ferreira (Tramagal) antes de entrar para o movimento político. Foi durante vários anos vereador na Câmara de Abrantes, eleito pelo Partido Socialista, e membro do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo antes de se entregar de alma e coração ao Centro Social do Pego, instituição que abriu um lar residencial para idosos.

Quando terminei o curso industrial, aos 16 anos, fui trabalhar como torneiro mecânico na Metalúrgica Duarte Ferreira, no Tramagal. Foi no dia 1 de Junho de 1965. Frequentei a 4.º classe na escola primária do Pego e depois fiz o curso industrial na Escola Industrial e Comercial de Abrantes, actual Solano de Abreu. Nasci no Pego a 6 de Dezembro de 1948 e tenho desenvolvido toda a minha actividade profissional sempre no concelho de Abrantes que considero ter um um grande potencial. Durante os cinco anos que estudei em Abrantes fui sempre a pé e eram oito quilómetros para cada lado. Quando era criança recordo que dizia apenas que queria estudar. Certa vez, teria cinco anos, fui com o meu avô às compras ao Rossio ao Sul do Tejo e ouvi uns senhores a dizerem que ia abrir uma coisa importante em Abrantes: a escola industrial. Registei a ideia e disse ao meu avô que gostava de ir para esta escola. Ainda não tinha sequer entrado na escola primária.Não sou pessoa de lamentações mas de acções. É com capacidade de trabalho e com um espírito positivo que podemos fazer a diferença. É com as sucessivas aprendizagens que chegamos a algum lado na vida. Tinha cerca de 20 anos quando fui convidado a fazer parte do Clube de Amadores de Pesca e Caça do Pego, como tesoureiro, para ajudar a dinamizar o clube. Nunca fui caçador mas era pescador desportivo. Sempre gostei de acompanhar os mais velhos na pesca tal como hoje também gosto de acompanhar os mais novos. Mantém-nos vivos esta permanente aprendizagem. Gosto do contraste das idades, sempre com respeito uns pelos outros. Fui eleito presidente da direcção do Centro Social do Pego em Agosto de 1998 e a obra do Centro de Dia ficou pronta em Dezembro do ano seguinte. Abriu no dia 1 de Março de 2000. Em 2004 arrancámos com a creche e o ATL, que entretanto já é jardim de infância. Depois de duas candidaturas chumbadas, foi aprovada a construção do novo Lar de Idosos, que demorou 26 meses. O edifício começou a receber idosos a 22 de Setembro deste ano e tem capacidade para 68 utentes. Temos mais de 80 inscritos à espera da comparticipação da Segurança Social. O nosso lema passa por tratar os nossos idosos como se estivessem na sua própria casa.Quando nos pomos em bicos dos pés o nosso centro de gravidade fica mais instável. Temos que fazer pela vida com os pés bem assentes na terra. O que é que me importa querer mostrar ao mundo que sou isto ou aquilo só pelas minhas palavras? Têm que ser os outros a reconhecer o nosso mérito. Faço parte dos órgãos sociais do Rancho Folclórico e Etnográfico do Pego há 32 anos porque, um dia, apresentei o Rancho no Festival de Gastronomia de Santarém porque não havia mais ninguém. No dia 25 de Abril de 1974 estava a trabalhar. Vivi com intensidade esses dias porque antes já estava envolvido, com alguma intensidade, no movimento dos trabalhadores da Metalúrgica Duarte Ferreira. Com a minha discrição possível sempre fui intervencionista. Após ter regressado do serviço militar, já havia senhoras a trabalhar mas ganhavam menos vinte por cento que os homens. Um dia fez-se uma eleição entre os 173 trabalhadores e eu fiquei em primeiro com uma larga vantagem sobre o segundo. Saltei para cima de uma máquina e disse que só aceitava se pudesse representar toda a gente, inclusive as mulheres e os chefes. Nunca me escondi atrás de nada nem de ninguém. Dou o corpo às balas e, nos tempos políticos mais conturbados, sempre apareci a fazer a defesa daquilo que achava correcto, mesmo contra a corrente. Fui dos primeiros a aderir ao Partido Socialista. Deixei a Comissão de Trabalhadores quando senti que estava a seguir uma corrente sindical. O meu maior professor foi o meu avô materno que, curiosamente, morreu analfabeto. Transmitiu-me um conjunto importante de valores. O meu pai era um homem muito convicto e extremamente inteligente. Muito antes do 25 de Abril e de ir para o Serviço Militar era daqueles que ouvia a rádio que era emitida a partir de Argel. Recordo a voz emblemática do Manuel Alegre que se estivesse no país era preso. Gosto muito de lidar com pessoas mais velhas. Com elas aprendi a saber ouvir os outros. As pessoas que são muito ocupadas são as que nos podem ser mais úteis. Entrei como vereador na Câmara Municipal de Abrantes, eleito pelo PS, no dia 5 de Janeiro de 1977. Fui eleito na lista do Engenheiro Bioucas. Apesar de ser vereador em permanência, existia um regime jurídico diferente de agora e, durante um ano, acumulei esta função com a actividade profissional. A oportunidade surgiu porque, a seguir ao 25 de Abril, os partidos organizaram-se e, em Abrantes, fui dos primeiros a aderir ao Partido Socialista. Integrei o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo de 2007 a 2011.Sei que em alguns momentos não sou totalmente justo mas luto sempre pela dignidade das pessoas. Se tivermos condições para ser úteis aos outros devemos sê-lo. Temos sempre que plantar para colher. Gosto de pôr as pessoas a serem parte das soluções porque dos problemas somos todos parte. Frequentava o 2.º ano do Curso de Engenharia Mecânica, no Instituto Superior Técnico em Lisboa, quando decidi parar para ir tirar o curso de Gestão de Empresas, já com 40 anos, na Universidade Aberta de Abrantes que abriu em 1990. Já era casado e, a meio do curso, tornei-me avô. Tenho uma filha e dois netos.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Nunca me escondi atrás de nada nem de ninguém”

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