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“Câmara de Tomar está a ser governada pelo chefe de gabinete da presidente”

João Tenreiro, presidente da concelhia do PSD de Tomar e vereador no executivo, em entrevista a O MIRANTE

Autarca social-democrata diz que não pode concordar que o município nabantino seja governado na sombra pelo chefe de gabinete e companheiro afectivo da presidente, Luís Ferreira. Diz que as promessas dos socialistas estão por cumprir e que até agora a gestão da coligação PS/CDU se caracteriza pela propaganda e demagogia.

João Calhaz/Elsa Ribeiro GonçalvesFez parte de um conjunto de militantes que afrontou o poder vigente no PSD de Tomar, que tinha como figura tutelar Miguel Relvas, um homem todo-poderoso no partido mesmo a nível nacional. Sentiu isso como um desafio redobrado? Não. Os partidos políticos devem fomentar a democracia interna e mal dos partidos que não discutem internamente a sua orientação. Na altura fiz parte dessa lista como candidato a vice-presidente contra a comissão política que estava instalada à época. Miguel Relvas era presidente da mesa da assembleia de militantes. Nós saímos vencedores porque os militantes assim o quiseram e entenderam que devia haver um novo rumo e uma nova estratégia na concelhia de Tomar. Mas obviamente que não foi uma questão pessoal contra ninguém. Miguel Relvas ainda tem ligação ao partido em Tomar? Sim, ainda é filiado em Tomar. Temos conversas esporádicas, para desejar um bom Natal ou um feliz aniversário, por exemplo, mas é um amigo de longa data.Não ficaram sequelas desse processo? Não, nenhumas mesmo. Sempre distinguimos as questões pessoais das questões políticas.Miguel Relvas foi um dos mentores do acordo político no anterior mandato que culminou na partilha da gestão da câmara entre o PSD e o PS. Considera que foi um erro estratégico? Com certeza. E nós denunciámos isso no momento da nossa candidatura à concelhia. Não sei se Miguel Relvas foi um dos mentores ou não. Mas na altura criticámos e quando ganhámos a concelhia quisemos acabar com esse acordo com o PS, nomeadamente por terem como vereador Luís Ferreira, o que não dignificava em nada o concelho de Tomar. Na altura, o presidente da câmara Corvêlo de Sousa quis manter a coligação e nós lavámos as mãos do assunto. Houve contactos neste mandato para uma possível reedição desse acordo, já que também o PS agora não tem maioria absoluta? Não, nenhum. Nem nós queríamos. É uma questão política ou de pessoas? A presidente da câmara Anabela Freitas disse claramente na campanha eleitoral que não queria nenhum acordo com o PSD e esse, de facto, é um compromisso que está a cumprir. Tenho de lhe dar os parabéns nesse aspecto. O PSD também nunca estaria interessado em fazer uma coligação com o PS mantendo a presidente o chefe de gabinete que tem. Há quem diga que a câmara é efectivamente liderada pelo chefe de gabinete da presidente e seu companheiro afectivo, Luís Ferreira, que foi vereador no anterior mandato. Partilha dessa tese? Sim e já o denunciei várias vezes em reunião de câmara. Nota-se da sua parte uma certa animosidade relativamente a Luís Ferreira. Em termos pessoais não há qualquer animosidade. Mas não posso concordar que uma câmara esteja a ser governada na sombra por um chefe de gabinete. Muitas vezes as questões são discutidas nas reuniões e depois vemos que as propostas são alteradas ou pela mão dele, pensamos nós, ou chegam por prévia instrução dele. E desconfiamos que até os vereadores da maioria por vezes nem sabem do que está por trás de certas propostas, que é ele que as faz.Custou-lhe ver Luís Ferreira com funções executivas quando a Câmara de Tomar era liderada pelo PSD? Não foi com o nosso aval, com certeza. Quanto às suas capacidades e competência não me pronuncio, porque ele pode ser uma pessoa capaz e competente. Não ponho isso em dúvida. Mas entendo que não dignificou a câmara como vereador e basta lembrar alguns episódios, como o que envolveu o escritor Lobo Antunes.O PSD ressuscitou há dias a situação dos eleitos do PS na assembleia municipal que têm funções de assessoria na câmara, entre elas a situação do chefe de gabinete da presidente da câmara. Vai continuar a bater nessa tecla? Legalmente eles podem fazer isso. O que é certo é que o deputado municipal Luís Ferreira não se consegue distanciar nas suas intervenções do chefe de gabinete Luís Ferreira nas assembleias municipais. E isso causa incómodo a todos os deputados municipais, até mesmo aos do PS. Disponível para ser candidato à câmaraFoi o PS que ganhou as últimas eleições autárquicas em Tomar ou foi o PSD que as perdeu? Houve um conjunto de factores que contribuiu para a derrota do PSD em Tomar. Para mim o principal factor foi o grande desgaste do Governo PSD e o cartão amarelo que as pessoas lhe quiseram mostrar. A abstenção foi muito elevada e houve uma grande quantidade de votos nulos e brancos.Mas o processo de escolha do candidato também não foi muito linear e pacífico. Houve dois nomes falados e depois as estruturas nacional e distrital do partido acabaram por impor o nome do então presidente Carlos Carrão. Chegámos a acordo e o Carlos Carrão foi o candidato da concelhia.Inicialmente falou-se noutro nome, o de Lourenço dos Santos, como sendo a escolha da concelhia. Sim. Falou-se mas acabámos por chegar a um entendimento. Não houve nenhuma cisão nem avocação do processo.Se dependesse só de si Carlos Carrão seria o candidato do PSD? Essa questão está ultrapassada. Posso dizer que o Carlos Carrão foi o meu candidato e tive orgulho em fazer parte da lista à Câmara de Tomar. O nome de Carlos Carrão não me foi imposto.Porque teve que ser o senhor a fazer a declaração oficial da derrota na noite das eleições em vez do cabeça de lista? Na qualidade de presidente da comissão política concelhia do PSD assumi os erros que possam ter sido cometidos e tenho de dar a cara pelo bem e pelo mal. Por isso entendi que deveria ser eu a fazer essa declaração. Como viu o pedido de renúncia ao mandato de Carlos Carrão? Entendeu que devia abraçar outro projecto, que não político, e achei isso natural. O seu afastamento abre caminho a novos protagonistas, onde obviamente o senhor se inclui, não só por ser vereador mas também presidente da concelhia do PSD. Pode-se inferir que é um potencial candidato a liderar a lista do PSD à Câmara de Tomar nas próximas autárquicas. Falta muito tempo, ainda faltam três anos para as eleições…Três anos em política é pouco tempo e a escolha do candidato é feita com alguma antecedência face ao acto eleitoral. Neste momento a nossa principal preocupação é fazer uma oposição construtiva e clara e denunciar os aspectos que achamos negativos desta gestão de esquerda PS/CDU. Há-de chegar a altura certa em que, perante o cenário da época, escolheremos o candidato apropriado para reconquistar a Câmara de Tomar.Está disponível para esse desafio? Como presidente da concelhia do PSD terei obviamente que estar disponível para ser candidato. Qualquer militante terá que estar sempre disponível para o partido.Admirador de Sá Carneiro, sportinguista sofredor e apaixonado por TomarJoão Miguel da Silva Miragaia Tenreiro, presidente da concelhia do PSD de Tomar e vereador no executivo camarário, tem 40 anos. Nasceu em Tomar a 17 de Março de 1974. Advogado, é casado com uma farmacêutica e tem um filho de dois anos e meio. Por razões de natureza familiar e profissional vive em Lisboa mas tem como objectivo regressar definitivamente a Tomar, cidade à qual se desloca, em média, duas a três vezes por semana. A mãe é natural da freguesia da Madalena (Tomar) e o pai é natural do concelho de Pinhel, distrito da Guarda. Depois de casados ainda estiveram um ano a viver em Lisboa, período após o qual regressaram a Tomar, onde ambos ficaram a dar aulas. Tem uma irmã mais velha. João Tenreiro estudou no antigo Colégio Nun’Álvares desde a pré-primária até ao 5.º ano. Mais tarde passou pela Escola Preparatória n.º 1 (antigo Ciclo Novo) e frequentou no 7.º ano uma secção do antigo Liceu de Tomar. O 8.º e 9.º ano foram feitos na Escola Secundária Jácome Ratton mas completou o 3.º ciclo de escolaridade (10.º. 11.º e 12.º ano) na Escola Secundária Santa Maria do Olival, antes de rumar a Lisboa para tirar o curso de Direito. Foi músico da Sociedade Banda Republicana Marcial Nabantina entre os 15 e os 24 anos, tendo tocado trombone de varas até à conclusão do curso. Teve como patrono o conhecido advogado Urbano Rei. Após o estágio, montou escritório. Gosta do exercício do poder da retórica e da barra do tribunal.Foi presidente da assembleia-geral do Sporting Clube de Tomar entre 2003 e 2011. Recebeu a medalha de 25 anos de sócio do clube, que é a filial n.º 1 do Sporting Clube de Portugal, emblema pelo qual o seu coração sofre desde sempre. Actualmente é o presidente da assembleia-geral do grupo Leões de Tomar. Foi membro organizador do encontro anual dos jovens tomarenses da Casa do Concelho de Tomar em Lisboa e integrou a equipa de repórteres da Rádio Hertz, fazendo a cobertura de muitos jogos de futebol e hóquei em patins.A par do associativismo, o interesse pela política começa a desenhar-se em jovem. Inscreveu-se na Juventude Social-Democrata (JSD) aos 16 anos. “Sempre me cativou, desde criança, a figura de Sá Carneiro. Em casa já ouvia os meus pais dizerem que era a figura de um político de excelência”, recorda. Com 18 anos foi eleito presidente da JSD de Tomar mas também foi presidente do conselho de jurisdição distrital e vice-presidente da Comissão Política Distrital da JSD.Entre 2001 e 2005, no segundo mandato de António Paiva como presidente da Câmara de Tomar, foi eleito para a assembleia municipal, período após o qual fez uma pausa na vida política embora sem abandonar a causa pública. “Mantive-me como autarca na Junta de Freguesia de São João Baptista, onde fui vogal, quando a mesma era liderada pelo engenheiro Acácio Norte”, conta. O seu percurso político, como autarca em Tomar, alcança outro ímpeto quando, a 16 de Março de 2012, desafiado por José Delgado, concorre e ganha a presidência da concelhia social-democrata a Carlos Carrão que liderava, na ocasião, a câmara municipal devido à renúncia de Corvêlo de Sousa. Um momento de felicidade redobrada, dado que foi também nesse dia em que o seu filho nasceu. Tem na leitura, especialmente nos autores portugueses e biografias de personalidades políticas, o seu grande passatempo e aproveita os poucos tempos livres para os dedicar à família que pretende ver alargada. Há pouca coisa que o tira do sério mas falsidade e incongruência são duas delas. Defende que os políticos não são todos iguais. “Infelizmente, há uma minoria que tem manchado a classe e que surge nas manchetes dos jornais mas a maioria dos políticos é séria e tudo faz para defender os interesses de todos os cidadãos”, considera.“Eleitores que votaram PS sentem-se defraudados”Raramente um partido que ganha uma câmara a perde ao fim do primeiro mandato. Ao fim de um ano de mandato tudo parece indicar que daqui a três anos a tradição se vai manter. Ou não concorda com essa visão? Com o que foi feito durante este ano penso que os eleitores que votaram PS se sentem defraudados. O plano de habitação social que devia ter sido apresentado em 100 dias onde está? Temos um orçamento e um plano de actividades que não fala em qualquer realojamento da comunidade de etnia cigana. Não sabemos onde está a famosa incubadora de empresas para implementar no campus do Politécnico. Dirão que têm mais três anos para fazer, e a bem do concelho de Tomar esperamos que os problemas sejam resolvidos, mas entendemos que o caminho que está a ser percorrido não é o mais correcto. As coisas devem-se fazer não de forma propagandística, mas de forma cautelosa. Os projectos devem ser anunciados só quando houver certezas. O que mais retém deste primeiro ano de mandato? Sobretudo a propaganda. Temos uma câmara muito mais propagandística, com um gabinete de comunicação a funcionar de forma muito mais agressiva. O objectivo desta coligação de esquerda foi dar uma imagem de mudança, mas que não passa só de imagem. Porque em termos estruturais não vemos como se pode atingir essa mudança que aliás veio culminar, por exemplo, com o fim do Festival Estátuas Vivas, que trazia milhares de visitantes a Tomar.O que pensa da coligação PS/CDU que gere os destinos da autarquia? É uma coligação sui generis porque o próprio vereador da CDU já veio dizer que não era uma coligação mas sim um acordo pontual. É uma questão semântica, porque ou há coligação ou não há. Se cada um caminhar para seu lado as coisas não andam.Esperava mais do vereador da CDU? Todos sabemos que normalmente os autarcas da CDU evidenciam-se pelo trabalho, pelo empenho, e o antigo vereador Rosa Dias foi um bom exemplo disso quando teve o pelouro da higiene e limpeza. O actual vereador da CDU tem o pelouro do horto e o dos mercados e feiras que já deu bastante polémica - tivemos uma Feira de Santa Iria em que a parte de animação e espectáculos falhou - e tem o pelouro da saúde, onde pensava que íamos ter um vereador reivindicativo. Mas o que notamos é um desacompanhamento total nessa área. Limita-se a fazer relatórios das reuniões que tem com as várias entidades.Por onde pode partir a coligação PSCDU? Não faço a mínima ideia. Não sei se vai partir-se ou se vai até ao fim. Só tenho a certeza que não beneficia o concelho de Tomar.A câmara municipal fez bem em não recorrer da decisão judicial que obriga o município a indemnizar alguns trabalhadores em mais de um milhão de euros. Foi uma opção de quem gere a câmara. O que digo peremptoriamente é o seguinte: se na altura o vereador Luís Ferreira, que era do PS, votou contra a deliberação que deu origem a esta indemnização, se calhar uma das primeiras medidas que o PS devia tomar, quando chegou ao poder, era anular essa deliberação e não estar à espera que fosse o tribunal a anular. Se consideravam a decisão injusta não deviam ter esperado pelo tribunal. Deviam ter logo feito um acordo com os sindicatos. Porque é contraditória a sua posição.Por que razão o PSD não se manifestou sobre essa decisão? Não quis ficar mal visto perante os funcionários? Porque é uma questão judicial. Houve a decisão de não recorrer e deve ser respeitada a lei. O PSD entende que se a lei diz que deve ser paga essa indemnização aos trabalhadores, então que seja cumprida a lei. Que comentário lhe merece o afastamento de quatro antigos dirigentes da autarquia e a nomeação de um novo chefe de Divisão Financeira, que não é colaborador, nem faz parte dos quadros do Município de Tomar? Sobre isso o PSD tem-se manifestado desde o início. Puseram quatro antigos dirigentes na prateleira que estão praticamente sem fazer nada, o que é uma violação clara dos direitos dos trabalhadores. Estamos à espera de resposta ao requerimento que fizemos há quase um ano sobre essa situação, como esperamos resposta a muitos outros requerimentos.Quanto ao novo chefe de Divisão Financeira? Denunciámos a ilegalidade da nomeação do mesmo, porque entendíamos que não podia estar por mobilidade em regime de substituição pois não faz parte dos quadros da Câmara de Tomar. Também não obtivemos resposta. Daí a necessidade de haver uma proposta na última assembleia municipal no sentido de remeter o assunto à Inspecção Geral de Finanças para que a mesma, de uma vez por todas, se venha a pronunciar acerca de um pedido que fizemos há quase um ano para saber da legalidade ou ilegalidade dessa nomeação. Que palavras utilizaria para definir o trabalho da actual governação da Câmara de Tomar? Propaganda e demagogia.

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