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“Falta estratégia turística e de marketing para atrair visitantes a Santarém”

António Matias é um homem multifacetado que trabalha como arqueólogo, é atleta de artes marciais e maestro

António Matias é arqueólogo na Câmara de Santarém, maestro dos coros infantil, juvenil e sénior do Círculo Cultural Scalabitano e há cerca de um mês sagrou-se vice-campeão nacional de jiu-jitsu. O atleta da Casa do Benfica de Santarém alcançou o segundo lugar numa prova em que nem sequer ia participar. Nasceu na Figueira da Foz mas apaixonou-se por Santarém, onde vive há cerca de 15 anos, quando fez uma proposta de trabalho para desenvolver um estudo bio antropológico, na Igreja de Alcáçova. Homem multifacetado, confessa-se apaixonado por tudo o que faz. Entrou para a Marinha para integrar a banda mas nem com cunha teve sorte. Mudou o rumo da sua vida e foi por acaso que se tornou arqueólogo. Diz que Santarém tem um dos maiores centros históricos do país e lamenta que não exista estratégia turística para atrair visitantes ao concelho.

“Santarém tem tudo para dar certo. Tem um dos maiores centros históricos do país. O que lhe falta é estratégia turística para atrair visitantes à cidade e ao concelho. É uma pena ver as potencialidades desta cidade não serem aproveitadas”. A opinião é de António Matias, arqueólogo da Câmara de Santarém, maestro dos coros infantil, juvenil e sénior do Círculo Cultural Scalabitano e que recentemente conquistou o segundo lugar no campeonato nacional de jiu-jitsu. Em entrevista a O MIRANTE, António Matias dá como exemplo o dinamismo da vila de Óbidos, que se tornou uma máquina de fazer dinheiro, aproveitando da melhor maneira o seu centro histórico. “Há ali uma grande estratégia empresarial de marketing que vende toda a cidade. É o que falta a Santarém. Faça-se o mesmo”, refere. Para o arqueólogo, a recolha de material feita em Santarém vem comprovar que a existência de vida humana no concelho remonta a 200 ou 300 mil anos. Ao longo dos anos o município criou uma estrutura orgânica que permite que a arqueologia esteja ligada aos sectores dos museus, obras públicas, processos de licenciamentos de florestações, pedreiras ou obras particulares. Ou seja, todas as obras requerem um parecer de arqueologia. O objectivo é conseguir guardar todos os vestígios históricos existentes no concelho. “Durante as obras de requalificação de uma perfumaria no centro histórico da cidade surgiu um enterramento e descobriu-se uma necrópole islâmica, onde 70 por cento das ossadas eram de crianças e bebés. Uma situação inédita em Santarém”, conta o arqueólogo.O material descoberto é sempre recolhido e entregue no Museu Municipal de Santarém para estudo. António Matias defende que a população devia exigir saber o que acontece aos objectos e ossadas descobertos durante as escavações. E considera que os cidadãos, por vezes, estão “divorciados” da própria cidade. “Os escalabitanos deviam exigir esse reconhecimento. Deveriam querer saber o que é feito dos objectos que são retirados das escavações”, reforça. E acrescenta que as pessoas iriam ficar surpreendidas ao verem que a importância do património de Santarém é reconhecido no Canadá, Brasil, Suécia, entre outros países. “Infelizmente, as pessoas não dão valor ao património do concelho. É uma pena que não valorizem tanto Santarém, que tem um valor patrimonial indiscutível”, sublinha.O maestro que começou a aprender música com o avô autodidacta António Matias nasceu na Figueira da Foz [distrito de Coimbra] no dia 10 de Julho de 1975. A sua primeira paixão foi a música. Aos nove anos aprendeu música com o avô, um autodidacta que fez parte da Banda Filarmónica de Santana (Figueira da Foz). Também o pai fez parte desta banda e António integrou-a depois de ter aprendido o inicial com o avô. Trompetista de formação andou nos Conservatórios de Música da Figueira da Foz e mais tarde em Coimbra. Quando terminou o 12º ano decidiu apostar na carreira musical. Ingressou na Marinha em busca do sonho por uma carreira no mundo da música. No entanto, a vida trocou-lhe as voltas. Nem com uma cunha conseguiu entrar na Banda da Armada. Como não queria estar na Marinha sem poder estar na banda começou a pensar em alternativas. O passo seguinte foi ingressar na universidade, apesar de não saber que curso deveria tirar. Como a namorada estava no curso de Direito em Coimbra decidiu seguir-lhe os passos. Depois de realizar os exames de acesso ao curso planeado inicialmente verificou que tinha tido 93 por cento na prova de História, apesar de não ter tido essa disciplina desde o 9º ano de escolaridade. “Aquela boa nota tinha uma razão de ser e percebi que tinha que escolher um curso relacionado com História”, explica. O curso de Direito ficou posto de lado e escolheu Arqueologia. Mais tarde percebeu que queria trabalhar e estudar esqueletos e fez também umas cadeiras de Medicina para aprofundar os seus conhecimentos e especializar-se nessa área. “Fui construindo a minha paixão pela arqueologia”, afirma.Diz que o ano que estudou em França, através do programa Erasmus, foi uma experiência única na vida. Passado pouco tempo de regressar propôs desenvolver um estudo bio antropológico, na Igreja de Alcáçova, em Santarém. Foi fazendo contratos com a Câmara de Santarém até que entrou para os quadros sendo, actualmente, o único arqueólogo do município. É maestro dos coros infantil, juvenil e sénior do Círculo Cultural Scalabitano desde 2008. O convite surgiu depois da direcção do Círculo Cultural Scalabitano (CCS) ter conhecimento da experiência e formação de António Matias em música. O maestro deu aulas em escolas de música e conservatório e começou a trabalhar em orquestras ligeiras na sua terra natal. Gosta de liderar pessoas porque sabe que vai aprender sempre coisas novas com elas. Lidera cerca de seis dezenas de elementos divididos pelos três coros do CCS.É casado há 12 anos mas a relação com a esposa já dura há mais de duas décadas. Tem um filho, David, de oito anos. O único senão é estar longe da mulher e do filho que vivem na Figueira da Foz, onde a mulher é advogada e empresária na área da gestão de condomínios. As saudades são colmatadas ao fim-de-semana. “A nossa relação fica penalizada porque não estamos juntos todos os dias mas não podia exigir à minha esposa que abdicasse da sua carreira profissional para recomeçar do zero”, refere.Conquista segundo lugar na primeira prova em que nem sequer estava previsto participarAntónio Matias sagrou-se, há cerca de um mês, vice-campeão nacional de jiu-jitsu. O atleta do Clube de Jiu-Jitsu da Casa do Benfica de Santarém alcançou o segundo lugar numa prova em que nem sequer estava inscrito para participar. O campeonato realizou-se na Golegã e como António Matias ia ficar a assistir disse aos treinadores que queria participar. Uma ideia que não agradou muito aos seus mestres. “Eles tinham receio que eu me magoasse porque nunca tinha participado numa competição mas eu queria sentir a adrenalina de participar num combate”, explica António Matias a O MIRANTE. A prova acabou por correr bem e depois de vencer o primeiro combate, o mestre Anjinho (treinador de Matias) até lhe deu um beijo, surpreendido com a vitória alcançada.O actual vice-campeão da modalidade começou a treinar jiu-jitsu há cerca de três anos. Um colega de trabalho desafiou-o a conhecer o clube e António Matias gostou da experiência. Nunca teve a ideia de competir mas agora apanhou-lhe o gosto e pretende continuar a fazê-lo. “Agora tenho a responsabilidade de defender o título conquistado”, brinca. Treina duas vezes por semana, uma hora e meia. Em criança praticou natação e fez surf nas praias da Figueira da Foz. Jogou futebol mas nunca praticou uma actividade física regular e federada. Não dispensa os treinos sobretudo pela vitalidade que o seu corpo atinge. “Os problemas ficam sempre à porta da sala de treinos. Durante aquele tempo há uma lavagem cerebral em que não penso nos problemas e a actividade física até ajuda no dia-a-dia a encarar os problemas de outra forma”, sublinha.Recentemente trocou de cinturão. Passou de verde para azul. Ficam-lhe a faltar o castanho e preto. António Matias quer conquistar o cinturão mais elevado do jiu-jitsu e também do judo, modalidade que pretende experimentar em breve. “Vou conseguir conquistar os cinturões pretos de ambas as modalidades”, afirma com convicção.

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