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Poda das videiras continua a dar trabalho a muita gente

Poda das videiras continua a dar trabalho a muita gente

Actividade vai decorrer até ao final de Fevereiro nas vinhas da região
Os bons dias são calorosos apesar de estar um frio de rachar. São dez da manhã quando O MIRANTE chega à quinta do Casal do Monteiro, nas redondezas de Almeirim e a saudação é repetida pelos oito trabalhadores que andam na vinha. A poda das videiras, que consiste em desbastar os ramos mais compridos, já não é feita apenas por trabalhadores agrícolas. Profissionais de outros ofícios aproveitam a oportunidade de haver trabalho no campo e aparecem. Há muita gente que vem da área da construção civil onde não há muito que fazer. Ao longo da vida aprenderam a arte de podar com pais, avós, vizinhos. De tesoura em punho e serrote à cinta, de finais de Novembro até finais de Fevereiro aquela é a sua ocupação. “Há pessoas que andam uma vida inteira a aprender a podar e nunca lá vão”, opina logo Manuel Alves enquanto acaba de desbastar os ramos de uma videira. Tem 72 anos e é o mais velho do rancho. Na mão direita, envelhecida e gretada pelo frio, manuseia uma tesoura vermelha que vai amolando com uma pedra preta. A lâmina fica tão afiada que dava para fazer a barba, garante. Natural de Fazendas de Almeirim, aprendeu a podar há mais de meio século e sabe bem que a poda é uma tarefa essencial para garantir que as videiras ficam com mais força para produzir uvas. Com os dedos e as unhas encardidas pela terra, Manuel aponta para uma cepa e explica que quanto mais curto o talão - extremidade do ramo podado -, com mais força nasce a vide. “Se tiver muitas vides aqui a nascer é como uma mulher quando tem muitos filhos e não é capaz de ganhar dinheiro para nenhum”, explica em jeito de comparação, despoletando a risota dos colegas que confidenciam que ele passa os dias a contar as histórias das dancetarias onde vai aos domingos à procura de convívio. Vão falando e trabalhando. Findam uma carreira de árvores e passam para outra. O encarregado, David Freitas, é desafiado pelos outros a meter a sua colherada na conversa. O calor da respiração embacia-lhe os óculos. O pingo teima em cair-lhe do nariz.. É de poucas palavras. “Isto poda-se tudo da mesma maneira”, explica. Vai nos 53 anos. Diz que aprendeu ainda em jovem a podar com o pai e com o sogro. Vai cortando para exemplificar que quantidade não é qualidade e que “mais vale ficar um talão bom e bem jogado do que muitos talões”. David Freitas estima que a poda daquela carreira de 200 metros fique pronta dentro de cinco horas e frisa que “quanto mais golpe de vista se tiver mais rápido trabalha”.A poucos quilómetros dali, na Azeitada, também no concelho de Almeirim, um rancho de cinco mulheres entretêm-se a podar mais um campo de cepas junto à Estrada Nacional 118. Estão todas encasacadas como se fossem para a neve. Apesar das luvas e do gorros na cabeça queixam-se do frio. O MIRANTE chega quando estão quase a despegar a fim de irem comer o farnel que trouxeram de casa. “Dei uma vardascada na perna que estou à rasca”, queixa-se Maria do Carmo Dias. “Esta é a pequena”, afirma na carreira do lado, uma senhora com um grande gorro verde na cabeça, que logo se apresenta como Rosa Aranha, “uma flor linda nascida, criada, baptizada e casada em Almeirim”. Maria do Céu Ferro está apetrechada com uma tesoura eléctrica. “Isto corta que é uma categoria. É só despachar serviço”, afiança. Já há vinhas que são podadas com máquinas mas aquela ainda não. “O que temos mais perto da poda totalmente mecanizada é isto que tenho na mão”,diz a rir, enquanto exibe a tesoura. Noutra zona, Teresa Arsénio, a trabalhadora mais nova do rancho, vai-se debatendo com o serrote para cortar um ramo mais grosso.Podam videiras mas nunca experimentaram podar outro tipo de árvore. Mas sabem alguma teoria. “Cada árvore de fruto tem o seu tipo de poda, umas de corte direito e outras de corte inclinado”, diz Deonilde Simões. Já os homens, na quinta do Casal do Monteiro, realçam que “as ameixeiras rebentam o fruto no pau velho”, mas também preferem deixar a poda das árvores de fruto para aqueles que “estudaram mais para isso”. Depois do almoço volta-se ao rame-rame que ainda há muito para fazer. A poda não é dos mais duros trabalhos do campo mas quem trabalha no campo, mesmo que sazonalmente, sabe que ali não há trabalhos leves.
Poda das videiras continua a dar trabalho a muita gente

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