A médica que também é cantora lírica
Hélia Castro nasceu no Porto mas vive em Santarém há 13 anos. Desde criança que quis ser médica. Um sonho que concretizou há já 20 anos. Nunca ambicionou ser cantora mas em menina costumava cantar no quintal da avó, empoleirada numa laranjeira. Teve formação e além de médica é também cantora lírica. Actualmente, concilia as duas paixões. No sábado vai cantar com o tenor Carlos Guilherme no Convento de São Francisco, em Santarém, a convite da Orquestra Típica Scalabitana, que está a celebrar 65 anos de existência.
Em criança brincava aos festivais da canção com a irmã e uma prima. Imitava as “Doce”, a primeira girlsband portuguesa dos anos 80 do século XX, e cantava êxitos da época. Também costumava cantar no quintal da avó, empoleirada numa laranjeira. Apesar de já mostrar queda para a música, Hélia Castro não pensava ser cantora. Desde menina que o seu sonho era ser médica. E conseguiu alcançar esse sonho. Natural do Porto, onde nasceu há 45 anos, cresceu em Sangalhos, distrito de Aveiro, e viveu durante muitos anos em frente a um hospital, do qual guarda as melhores memórias que a ajudaram também a seguir a carreira na área da medicina.“Era um hospital pequeno, comparado com as dimensões dos actuais, mas servia as gentes da terra. Ali tudo era familiar e todos se conheciam. Faziam-se lá partos e várias cirurgias. O que mais gostava naquele hospital era da limpeza e brancura da sala de espera, das fardas impecáveis das enfermeiras, do cheiro a éter da sala de tratamentos, das histórias que ouvia sobre doentes. Funcionava tudo com muita ordem e respeito. Às vezes, o enfermeiro, o senhor Manuel Augusto, deixava-me assistir a algumas suturas e pensos e eu sentia-me uma doutora de verdade”, recorda.Hélia Castro licenciou-se em Medicina, na Universidade do Porto, em 1994, e é médica há 20 anos. Em 2001, especializou-se em Medicina Geral e Familiar. Trabalhou no Hospital de Santo António e São João, ambos no Porto; no Instituto Português de Oncologia do Porto; Centro de Saúde de Modivas, em Vila do Conde, e Centro de Saúde da Senhora da Hora, em Matosinhos. Há 13 anos veio morar para Santarém porque o seu marido aceitou um emprego em Lisboa e como ele tem família na cidade escalabitana decidiram ficar a viver no Ribatejo, onde sabiam que iriam ter melhor qualidade de vida do que na capital. Deu consultas na Extensão de Saúde de Alcanede (Santarém); no serviço de urgência do Hospital Distrital de Santarém; na Clínica de Hemodiálise Ribadial; no Lar de Idosos e de Acamados da Santa Casa da Misericórdia de Santarém; e na Unidade de Cuidados Continuados da Misericórdia de Santarém. Desde Março de 2012 que trabalha no Hospital Privado de Santarém.Hélia Castro é médica e, nas horas vagas, cantora lírica. O que começou como um passatempo tem-se tornado, aos poucos, algo mais sério. Na noite desta quarta-feira (já depois do fecho da edição de O MIRANTE) actuou na sessão solene do 90º aniversário da Fundação Madre Andaluz, em Santarém. A médica conheceu esta instituição em 2010 quando algumas Irmãs da Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima lhe pediram para ensaiar uns cânticos para uma missa de aniversário da Fundação Madre Luiza Andaluz, na paróquia de Marvila. “Como não sabia nada sobre a Madre Luiza Andaluz comecei por ler livros sobre ela. A partir daí fiquei a conhecer a sua obra e senti-me “chamada” a colaborar com a instituição através da minha música”, explica. Este sábado, 24 de Janeiro, pelas 21h30, sobe ao palco do Convento de São Francisco, para cantar com o tenor Carlos Guilherme, acompanhados pela Orquestra Típica Scalabitana. Um espectáculo no âmbito da comemoração do 65º aniversário da orquestra.Confessa que já lhe passou (e ainda passa) muitas vezes pela cabeça a ideia de deixar a medicina e dedicar-se ao canto. O que a impede de tomar tal decisão é a falta de segurança financeira que a música vive em Portugal. “A medicina permite ter um ordenado mensal, enquanto um cantor vive dos espectáculos que faz. Se não tiver quem lhos pague, como sobrevive?”, questiona acrescentando que em Portugal não é possível viver do canto lírico, a menos que se dê aulas para obter um vencimento que permita pagar as contas do dia-a-dia.Televisão só divulga música pimbaHélia Castro considera que existe público para ouvir música lírica. E dá o exemplo de Andrea Boccelli ou os Il Divo, que se tornaram tão populares, assim como os tenores Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo. “Nos concursos de talentos aparecem tantos a tentarem imitar os grandes cantores líricos, é sinal que gostam. Infelizmente, a nossa televisão divulga a toda a hora a chamada música pimba, de tão triste qualidade. A televisão passa tão pouca música e concertos que enriqueçam culturalmente as pessoas. É uma pena”, lamenta.A médica vai mais longe nas críticas e refere que se gastam milhares de euros com bandas de qualidade “duvidosa” para animar festas populares e, para se organizar um espectáculo com orquestra ou uma ópera, com músicos profissionais, que toda a vida estudaram e se aperfeiçoaram, não há dinheiro. “São prioridades que revelam o estado da cultura no nosso país”, afirma. Apesar de cantar música lírica, Hélia Castro tem um gosto eclético. Elege o grupo britânico Queen como a melhor banda musical e gosta dos portugueses Deolinda e Azeitonas. Profissionais de saúde do sistema público não são bem tratadosCom uma carreira médica de duas décadas, Hélia Castro revoltou-se com a forma como são tratados os profissionais de saúde no sistema público e por isso resolveu trabalhar apenas no sector privado. “A forma como os profissionais de saúde são tratados no serviço público impede-os de realizar um bom trabalho junto dos doentes. Foi por isso que decidi exonerar-me da função pública em 2007. Procuro que o meu trabalho, embora sendo uma gota no oceano, sempre possa ajudar alguém”, explica.Primeiro espectáculo a solo foi durante 25º aniversário do Hospital de SantarémHélia Castro nasceu a 12 de Maio de 1969 no Porto. Na escola primária, a professora ensinava-lhe canções e, em casa, a avó também lhe incutia a paixão pela música. Ouvia na rádio, discos e até nos filmes. Aos 12 anos começou a ter aulas de piano com uma professora particular. Sempre ouviu música clássica e era fascinada pelos livros de mitologia greco-romana. Começou a perceber que algumas óperas se baseavam em histórias da mitologia clássica, o que aumentou a sua curiosidade. “Além disso, comecei a perceber que era capaz de reproduzir vocalmente algumas árias e canções cantadas pelos grandes cantores líricos que se ouviam na época”, conta a O MIRANTE.A paixão pela música começou a ganhar forma quando foi estudar para o Porto, aos 18 anos. Entrou para o Orfeão Universitário do Porto, onde conheceu o maestro Mário Mateus, o seu primeiro professor de canto. Foi com a ajuda dele que conseguiu uma bolsa da Gulbenkian. “Os meus pais não viram com bons olhos a ideia de me estarem a pagar os estudos de medicina e, de repente, terem de pagar também o curso de canto. Tiveram medo que eu me perdesse e não fizesse coisa nenhuma”, refere.Em 1991, quando abriu a Escola Superior de Música e de Artes do Espectáculo do Porto, Hélia Castro teve que optar entre prosseguir os estudos superiores de música ou seguir medicina. A Gulbenkian só lhe renovava a bolsa se prosseguisse os estudos superiores. Acabou por escolher medicina uma vez que estava no terceiro ano e se fosse para a Escola Superior de Música teria que ir para o primeiro ano. Foi mantendo as aulas de canto e completando as principais disciplinas do Conservatório. Isto já depois de terminar a licenciatura em medicina, e quando já trabalhava, o que lhe permitiu pagar as aulas.Com 15 anos venceu o prémio da melhor interpretação num Festival de Canções Originais, organizado pelo Colégio de Nossa Senhora da Assunção, em Anadia, onde estudava. No entanto, o seu primeiro espectáculo a solo ocorreu em 2010, em Santarém, durante a comemoração do 25º aniversário do Hospital Distrital de Santarém, num espectáculo que decorreu na Igreja da Graça, em Santarém. Canta um pouco por todo o país mas também já actuou no estrangeiro. Destaca os espectáculos em Oxford (Inglaterra), Itália, Paris, Berlim e Madrid. Não realiza mais espectáculos por falta de tempo.Vai conciliando as suas duas paixões com “muito amor” por ambas. É casada e tem duas filhas, com 23 e 19 anos. Nos poucos tempos livres gosta de cozinhar, estar com a família, organizar a casa e preparar o reportório para novos concertos.
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