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“Ana Cristina Ribeiro foi uma desilusão como autarca”

“Ana Cristina Ribeiro foi uma desilusão como autarca”

Rogério Monteiro é presidente do Centro de Bem-Estar Social da Glória do Ribatejo e um dos seus fundadores

O Centro de Bem-Estar Social da Glória do Ribatejo comemorou o 30º aniversário no dia 23 de Janeiro. Rogério Monteiro é o presidente da instituição e um dos seus fundadores. Homem ligado ao movimento associativo foi presidente da Junta de Freguesia da Glória do Ribatejo e vereador na Câmara de Salvaterra de Magos entre 1985 e 1993, eleito nas listas do PS. Não poupa nas críticas à anterior presidente de câmara a quem acusa de se ter deslumbrado com o poder.

O Centro de Bem-Estar Social de Glória do Ribatejo comemorou o 30º aniversário. Que balanço faz destas três décadas de actividade? Têm sido 30 anos de muito trabalho. A instituição tem contribuído para que um conjunto de pessoas, mais velhas, tenha uma boa qualidade de vida, o que não teria acontecido se não existisse. Os tempos que vivemos desestruturaram um bocado as famílias e até na Glória do Ribatejo o conceito de família tem-se perdido. Temos ‘deitado a mão’ a muita gente que se não fosse o Centro de Bem-Estar Social da Glória estava sozinha e abandonada. Por isso não podemos parar por aqui.Que projectos pretendem desenvolver? Queremos, em conjunto com a União de Freguesias de Glória do Ribatejo e Granho, a Câmara de Salvaterra de Magos e a Segurança Social, arrancar rapidamente com a Estrutura Residencial para Idosos. A junta de freguesia já nos fez a doação de um terreno contíguo ao Centro de Bem-Estar Social para esse fim. A nossa proposta é criar um espaço com capacidade para 30 camas. Queremos aproveitar algumas estruturas que já temos a funcionar como a cozinha, lavandaria, serviços administrativos, o que fará baixar o investimento do projecto. Glória do Ribatejo tem necessidade de uma infraestrutura desse tipo? Segundo dados do último Censos, nos últimos dez anos, o número de pessoas com mais de 65 anos, na Glória, cresceu cerca de 80 por cento. É extremamente importante cuidar desta área. Já disse ao senhor presidente da câmara que não há um concelho que cresça senão tiver pessoas. Para cativá-las e mantê-las nas suas terras temos que criar algumas condições para elas cá residirem.Como vê a evolução do concelho de Salvaterra de Magos nos últimos 20 anos? O concelho de Salvaterra de Magos teve um desenvolvimento nas infraestruturas básicas mas depois houve um intervalo de tempo em que não houve evolução. Fizeram-se algumas obras que são questionáveis, como o pavilhão desportivo da Glória, por exemplo. Qual é a taxa de aproveitamento desta infra-estrutura? Não se criaram as dinâmicas que são necessárias para que as obras tenham aproveitamento. O concelho estagnou quando Ana Cristina Ribeiro chegou à presidência do município, em 1997.Ana Cristina Ribeiro foi uma desilusão como autarca? Para aquilo que prometeu foi uma desilusão. O poder por vezes endeusa as pessoas e ela endeusou-se a ela própria. O poder é uma coisa muito complicada, que tem tendência a isolar as pessoas e ela isolou-se do mundo. Como é possível uma pessoa que andou de porta em porta depois fazer as pessoas dependerem dela?O que quer dizer com isso? É indecente fazer alguém depender do outro e Ana Cristina Ribeiro fazia as pessoas dependerem dela. Chamava as pessoas às duas da manhã para lhes aprovar um projecto de obra. E nós tínhamos que ir porque precisávamos do projecto aprovado. As pessoas tinham que estar à disposição dela. Uma vez telefonou-me a sua secretária a dizer-me que ela ia estar na Glória à noite e para eu ir lá ter com ela. Apareci na junta de freguesia e disseram-me que tinha que tirar senha porque a senhora presidente estava a atender outras pessoas. Eu disse que não fazia qualquer sentido porque tinha sido convocado por ela para estar ali. São estes exemplos que demonstram o tipo de presidente que Ana Cristina Ribeiro foi. Hoje a situação é completamente diferente. O concelho não evoluiu por culpa de quem? De Ana Cristina Ribeiro, que durante os anos em que esteve à frente da autarquia não criou um único emprego no concelho. Não há nenhum concelho que progrida se não tiver pessoas.Salvaterra de Magos tem sido um dos concelhos com mais desemprego no distrito, 1300 pessoas inscritas no Centro de Emprego, em Novembro do ano passado. Como se combate este problema? Não é fácil de combater porque grande parte desse emprego é afecto ou à agricultura ou à construção civil. São duas áreas que dificilmente vamos retomar. A agricultura hoje não emprega pessoas, é tudo mecanizado. E a construção civil está parada. Temos que criar infraestruturas para darmos mais empregos. O sector da solidariedade pode ser uma ajuda importante para criar emprego.Centro de Bem-Estar Social da Glória é o maior empregador da freguesiaO seu mandato no Centro de Bem-Estar Social termina em 2017 e Rogério Monteiro ainda não sabe se continua à frente da instituição. Confessa que gostava de concluir os seus projectos para depois deixar a presidência. Um dos projectos que gostava de ver concluído era a creche entrar em funcionamento. Há três anos a instituição candidatou-se a um projecto do PRODER (Programa de Desenvolvimento Regional) para a criação dessa valência. A obra está feita, o mobiliário está dentro das salas e o licenciamento aprovado. Só falta o protocolo com a Segurança Social que ainda não avançou por não haver dinheiro desse organismo do Estado.“Este é um meio rural e não conseguimos avançar se não tivermos apoio da Segurança Social, porque os ordenados desta população são muito baixos. Se um projecto destes fosse 100 por cento privado, os preços a pagar para pôr lá as crianças teria que ser elevado e assim não conseguiríamos ser uma ajuda para quem vive na freguesia. Por isso precisamos do apoio da Segurança Social”, esclarece.Além do centro de dia, frequentado por 49 utentes, dispõem também de apoio domiciliário, onde dão apoio a 30 pessoas. Para os estudantes têm um centro de estudos que dá apoio a 19 alunos, do 1º ao 9º ano. Actualmente, têm protocolado 75 refeições no âmbito das cantinas sociais, sete dias por semana. Segundo Rogério Monteiro, o CBESGR intervém directamente em mais de 250 famílias da freguesia da Glória do Ribatejo. É a principal instituição da freguesia e o maior empregador, com 22 funcionários e vários voluntários. Com um orçamento anual de cerca de 300 mil euros, nos últimos cinco anos investiu cerca de 250 mil euros em obras, aquisição de viaturas e electrodomésticos.“Câmara cometeu erro enorme ao não ficar com instalações da Raret”Foi um dos primeiros alunos da escola da Raret, tendo entrado um ano depois do início do seu funcionamento. Que memórias guarda desses tempos? Boas memórias. Era um centro americano que trouxe uma qualidade de vida muito grande às pessoas da Glória do Ribatejo. O clique da mudança na freguesia foi o aparecimento da escola da Raret. Os professores eram muito bons, quadros superiores, que davam disciplinas muito práticas.É pena não haver uma solução para a Raret. Dói-me o coração quando passo ali e percebo que aquele projecto foi por água abaixo. Foi um erro enorme a câmara municipal não ter assumido, junto do poder central, a hipótese de ter ficado com aquelas instalações porque podia ter feito ali um verdadeiro pólo de desenvolvimento regional. Podíamos ter aproveitado aquelas infraestruturas que hoje estão totalmente degradadas.Foi presidente da Junta de Freguesia da Glória do Ribatejo e vereador da Câmara de Salvaterra entre 1985 e 1993. O que é que o levou para a política? A política é feita de convicções, como o futebol. Sou militante do Partido Socialista desde 1975. Há regras para pertencer aos partidos políticos mas continuo a pensar pela minha cabeça e assim vou continuar.Saiu depois de dois mandatos na câmara municipal. Não ficou com o ‘bichinho’ do poder? A vida tem ciclos e o meu caminho na política activa terminou. O poder é uma coisa muito efémera. Prefiro passar o meu tempo a fazer o bem às pessoas, não estar em centros de decisão e estar junto das pessoas.Concorda com a limitação de mandatos? As pessoas não se devem eternizar nos cargos. Nem na política nem em qualquer outra área. Nesta instituição que dirijo defendo isso. Só não dei o lugar a outras pessoas porque ninguém se chega à frente para assumir a presidência da instituição.Nunca pensou voltar à política activa?Não. Dou o nome para as listas da assembleia municipal mas não mais que isso. No entanto, não deixo de intervir activamente nas campanhas políticas.O novo presidente Hélder Esménio tem feito um bom trabalho? Sou suspeito, porque o engenheiro Esménio veio para a câmara quando eu era presidente de junta. Quando estive na câmara trabalhei muito directamente com ele. O CBES foi um dos projectos que ele fez connosco enquanto engenheiro civil. Conquistou a câmara numa altura muito difícil do país. Tem desenvolvido alguma dinâmica e tem projectado o concelho, que é o mais importante. Já se notam algumas diferenças.Como vê esta coligação na câmara com o PSD? Era necessária? As instituições precisam de muita estabilidade e precisam de ter pessoas a remarem no mesmo sentido. Faltava essa estabilidade na câmara. O engenheiro Esménio, antes de tomar essa decisão, ouviu o PS e houve alguma unanimidade nessa posição de coligação com o PSD.Foi colega de carteira da filha mais velhaRogério Monteiro nasceu a 3 de Julho de 1954 na Glória do Ribatejo, concelho de Salvaterra de Magos. Não sabe estar parado e gosta de estar ligado ao movimento associativo. Já pertenceu a quase todas as colectividades da sua freguesia. É presidente do Centro de Bem-Estar Social da Glória do Ribatejo (CBESGR), que comemorou 30 anos no dia 23 de Janeiro, tendo sido um dos fundadores da maior instituição da freguesia. Era presidente da Junta de Freguesia da Glória, em 1985, quando constituíram a comissão instaladora do CBESGR. Arranjaram dinheiro dado pela comissão de festas e com o apoio da Câmara de Salvaterra de Magos construíram o edifício base, onde funciona actualmente a instituição. Foi vereador na Câmara de Salvaterra entre 1985 e 1993, durante os mandatos dos presidentes António Moreira e José Gameiro.Foi dos primeiros alunos da escola da Raret (instalações de uma antiga rádio americana - Rádio Europa Livre), onde adorou ter estudado. Fez cursos complementares que, naquela altura, correspondiam ao 12º ano. Começou a trabalhar aos 21 anos e fez um pouco de tudo. Foi electricista, canalizador, operário fabril. “Temos que saber fazer um pouco de tudo. É isso que falta hoje. Quem vai entrar no mercado de trabalho pensa que tem o emprego sempre à mão e não é assim”, refere. Entrou para EDP em 1979, como técnico de electrónica. Ficou lá durante 36 anos e chegou a gestor de grandes clientes. Está actualmente na pré-reforma. Aos 60 anos é a prova viva que nunca é tarde para aprender. Licenciou-se em Gestão de Empresas, no ISLA, em Santarém, com quase 50 anos, e foi colega de carteira da filha mais velha. “Sempre privilegiei a valorização contínua. Tenho tentado fazer isso no Centro de Bem-Estar Social da Glória. Incentivo as pessoas a que façam da formação contínua o mote da sua vida. Todos devemos aprender sempre mais”, afirma.É casado há 39 anos e tem duas filhas. Gosta de passar os tempos livres com a neta, de três anos. Quando está bom tempo gosta de caminhar e lê muito. “Galveias”, de José Luís Peixoto, é o livro que está a ler neste momento. É porta-voz da Comissão de Utentes do Concelho de Salvaterra de Magos há cerca de ano e meio. Quando assumiu este cargo, o concelho estava na iminência de ver fechar os centros de saúde de Glória e de Marinhais, depois de terem sido encerrados os centros de saúde de Granho e Muge. Rogério Monteiro considera que esta comissão e a câmara municipal tiveram um papel muito importante para evitar esses encerramentos que chegaram a ser anunciados.Os médicos estrangeiros que estão a trabalhar no Centro de Saúde da Glória são transportados diariamente para o local de trabalho e para casa, em Salvaterra de Magos, por uma carrinha do Centro de Bem-Estar Social da Glória. Também o almoço dos médicos é no refeitório da instituição.
“Ana Cristina Ribeiro foi uma desilusão como autarca”

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