
Jogos tradicionais são uma espécie de ilustres desconhecidos para muitas crianças
VI Convenção Nacional dos Jogos Tradicionais juntou no Jardim Municipal de Rio Maior miúdos e graúdos que experimentaram e recordaram como se brincava antigamente.
“Os jogos tradicionais são mais antigos e melhores para aprender, enquanto que os jogos de computador cansam mais a vista e são só para passar o tempo”. A opinião é da pequena Madalena, de 9 anos, que na tarde de sábado, 31 de Janeiro, esteve pelo Jardim Municipal de Rio Maior na VI Convenção Nacional de Jogos Tradicionais a experimentar vários jogos que ainda não conhecia.Sentada numa pequena mesa, na tenda onde estavam dispostos jogos de tabuleiro e baralhos de cartas, Madalena fixa com os bonitos olhos verdes o tabuleiro de damas. Está na dúvida sobre que movimento fazer com as peças pretas e brancas. Lá fora chove cada vez com mais intensidade e faz bastante frio. “Sei mais ou menos jogar, fui vendo as pessoas jogarem”, explica Madalena. Nas cadeiras do lado, com ar de reguila, a irmã mais nova, Alice, e o pequeno amigo Francisco, riem-se e trocam segredinhos. Não estão interessados no jogo de damas. Ambos com 6 anos, o que eles gostam mesmo é de jogar no computador e no tablet.Na mesa do lado, Gabriel, de 7 anos, está entusiasmado a jogar dominó com os pais. Simão, o irmão, anda por ali a fazer uma birrita daquelas tão características dos meninos de 5 anos, chateado porque não pára de chover e quer ir lá para fora brincar. “É importante eles terem contacto com os jogos que fazem parte da nossa cultura”, sublinha a mãe, Carla Araújo. Vieram do Bombarral para passar um dia diferente em família. Desde muito cedo que os dois irmãos começaram a ter contacto com vários jogos tradicionais e a aprender que o importante são as relações interpessoais. “É esta a nossa filosofia familiar. Em casa, por exemplo, deixámos de ter televisão porque começámos a perceber que isso os deixava alienados da realidade”, explica Carla.Andar no carrinho de rolamentos, fazer uma corrida de sacos, jogar ao moinho, passear de andas, derrubar latas com uma bola foram algumas das actividades que os irmãos puderam experimentar. O carrinho de rolamentos foi o que Gabriel mais gostou. “É muito divertido. Claro que às vezes mandava uns trambolhões, mas é normal”, explica meio atrapalhado.Um raio de sol começa a espreitar e as irmãs Madalena e Alice e o Francisco aproveitam a deixa para sair da tenda e ir brincar mais um bocadinho lá para fora. Primeiro mataram a curiosidade do jogo do moinho, uma actividade praticada pelos romanos há cerca de 1900 anos. Recebidos por dois casais vestidos a rigor à época, aprenderam que o jogo é disputado entre duas equipas que devem dispor de forma estratégica nove troncos de madeira de modo a fazer três numa linha, obrigando a equipa adversária a retirar uma peça. “Isto é um princípio do jogo das damas”, salientou Carlos Pereira, responsável pela Casa Senhorial d’El-Rei D. Miguel, em Rio Maior.Ao fundo, soava o eco repetitivo das malhas de ferro a cair no cimento. No rinque, um grupo de quatro mulheres da Associação de Reformados Pensionistas e Idosos do Concelho de Montemor-o-Novo entretinha-se a lançar peças de 800 gramas para derrubar os palitos que estão a sete metros da zona de lançamento, queixando-se de que o vento só atrapalha. Ao lado, oito homens do Grupo Folclórico Etnográfico de São José da Lamarosa, concelho de Coruche, praticavam uma modalidade diferente de chinquilho em placas de madeira com um prego no meio, onde as malhas de ferro de três quilos lançadas deviam ficar o mais próximas possível. Nas pausas, aproveitavam para estar na paródia e aconchegar o estômago com chouriço e pão caseiro, regados com um bom tinto. Os mais novos observavam com entusiasmo esses jogos que, para muitos deles, eram até ali ilustres desconhecidos.A VI Convenção Nacional dos Jogos Tradicionais é organizada pela Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto e pela Federação das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto do Distrito de Santarém, em parceria com a Câmara Municipal de Rio Maior, a empresa municipal Desmor e o Instituto Português do Desporto e da Juventude, tendo ainda o apoio do Comité Olímpico de Portugal.Jogos tradicionais querem ser património imaterial e cultural da humanidadeApresentar uma candidatura dos jogos tradicionais a património imaterial e cultural da humanidade é um objectivo que a Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD) e as suas congéneres europeias integradas na Associação Internacional de Desporto para Todos pretendem alcançar em 2017.A preparação da candidatura vai decorrer ao longo de dois anos. Em Portugal, começou já com a primeira exposição de jogos tradicionais portugueses, inaugurada a 30 de Janeiro e patente até 27 de Junho, no Museu Nacional do Desporto, em Lisboa. “Jogos Tradicionais - 100% Futuro” é o título desta exposição que mostra cerca de uma centena de jogos tradicionais, incluindo uma peça única com 3400 anos.O Clube de Actividades de Lazer e Manutenção (CALMA), de Tomar, é a única colectividade do distrito de Santarém representada na exposição. “A CALMA foi a primeira associação do país a juntar os jogos tradicionais nas actividades de enriquecimento curricular e nas actividades de tempos livres e já começa a ser seguida por muitas associações”, destaca João Alexandre, membro da direcção da CPCCRD.Em 2016 vai ser criada uma plataforma onde os 28 estados-membros que integram a União Europeia poderão apresentar os jogos tradicionais que marcam a identidade dos seus países. Os jogos tradicionais recolhidos na plataforma ao longo de todo o ano serão apresentados, em 2017, numa candidatura conjunta a património imaterial e cultural da humanidade.

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