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Tejo

Há dois anos, quando comecei a escrever em O MIRANTE, um dos primeiros temas que abordei foi o Tejo. Nessa altura escrevi: “muito para além das suas margens o rio são as pessoas e as pessoas são o rio. Desde há milhares de anos que é assim no Tejo, o melhor e mais bonito rio do mundo, porque é o nosso rio, mas também porque tem tudo, tem vida e tem alma, que contagia a quem ele toca. Como todos os rios maduros, a diversidade torna-o ainda mais precioso. Uma bênção às terras que ele atravessa, desde a Beira, com uma beleza natural impar e estatuto de Parque Natural, até a um dos maiores estuários da Europa, em Lisboa. Um ponto singular a nível mundial em matéria de biodiversidade, designadamente no que respeita à avifauna. Contrariamente ao que possa parecer o Tejo, como todos os rios, não divide, antes une. Une Santarém a Almeirim/Alpiarça, Abrantes a Rossio ao Sul do Tejo, Rio de Moinhos a Tramagal, Vila Nova da Barquinha/Tancos a Arrepiado, etc. Também Lisboa tem que inverter o habitual paradigma da separação da margem sul pelo Tejo. É o contrário, as duas margens estão unidas pelo Tejo. Este pensamento, ao revés, muda tudo.”A forte identidade do Tejo assenta numa base social e económica muito ligada ao rio que, ao longo do seu curso, molda a paisagem e que, através dos tempos, convidou o Homem a desenhar as suas atividades e usos do território em harmonia com as características biofísicas locais. Os mais atentos constatam que o Tejo não está de boa saúde. Em pleno inverno, normal em precipitações, os caudais são anormalmente baixos, pondo em causa a vida do próprio rio e a economia que ele sustenta. Também assim falam os significativos rombos nas suas margens e marachas que aqui e ali, como chagas, põem em risco o rio e tudo à volta. Cada vez mais assoreado, o rio pede que olhem para o seu enorme potencial como via navegável promotora de riqueza inteligente. E por aqui fora.Um rio vivo necessita de cuidados e atenção. Um rio deseja ser vivido, mas para isso é preciso que se conheça e compreenda antes que se utilize e promova riqueza e bem-estar social, como o país necessita. Depende apenas de nós fazermos deste rio, e desta terra que o rodeia, um lugar de prosperidade duradoura. Ele, o Tejo, tudo nos dá para que assim seja. Como quase sempre, ninguém pode ficar de fora e demitir-se, na confortável posição do “eles” ou “não tenho nada a ver com isto”. A forte identidade do vale do Tejo é, desde logo, uma mais-valia que muitos não têm, compromete-nos profundamente a agir.Por tudo isto, e muito mais, muito para além do calendário oficial de planeamento em curso, talvez seja altura de pensar no 3º Congresso do Tejo como um momento em que este nosso rio assuma a sua importância.Carlos A Cupeto

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