“Os espanhóis estão muito bem organizados para aproveitarem a água do rio Tejo. Com a maior das facilidades conseguiriam reter o caudal do rio de forma a que durante um ano inteiro não chegasse uma gota de água ao oceano”.Esta declaração é de Pedro Serra um dos homens que mais sabe da problemática dos nossos rios e dos problemas com os nossos vizinhos espanhóis que a cada ano que passa complicam mais as relações na gestão dos caudais do Tejo e do Guadiana, dois dos rios mais importantes que nascem no país vizinho.As declarações foram proferidas no dia 10 de Março no Centro de Congressos do LNEC - Laboratório Nacional de Engenharia Civil numa iniciativa que visava debater o “Planeamento dos recursos hídricos no âmbito da DQA - desafios para 2016-2021”.O ex-presidente do Instituto da Água e das Águas de Portugal, agora a trabalhar como consultor de uma empresa ligada ao ambiente, dramatizou de forma clara e objectiva as questões relacionadas com a falta de caudal nos rios portugueses e a irresponsabilidade dos espanhóis que para além de poluírem os rios têm políticas diferentes no tratamento das águas e directivas bem diferenciadas quanto ao nível dos nitratos.“A água chega a Portugal sem ser tratada e só não vê quem não quer. O rio Lima é um bom exemplo de como os esgotos correm a céu aberto. Mas há outros exemplos”, denunciou.Pedro Serra defendeu ainda que há muito trabalho a fazer com o governo espanhol sobre cada uma das bacias hidrográficas e que “não basta conversar, é preciso formalizar os acordos e com actas assinadas”.Vários dos intervenientes neste debate, entre os quais se contava o ex-ministro Francisco Nunes Correia, confirmaram que os atuais protocolos com o governo espanhol não dão garantias do cumprimento dos caudais do rio Tejo que nesta altura de Inverno corre para o Oceano com níveis muito abaixo do ecologicamente sustentável. Recorde-se que alguns autarcas da região estão sensibilizados para o problema embora por enquanto as vozes apareçam dispersas e sem a relevância que o assunto merece.