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“Adoro o imprevisto e a adrenalina faz-me bem”

“Adoro o imprevisto e a adrenalina faz-me bem”

António Graça, 34 anos, presidente de Junta da Sabacheira, Tomar

Em criança queria ser mágico. Mais tarde os psicotécnicos apontavam-lhe um futuro como polícia. Acabou por se formar na área da assistência social. O actual presidente da junta da Sabacheira, em Tomar, seguiu os passos do pai que também geriu os destinos da freguesia durante muitos anos. Eleito pelo Partido Socialista, refere que não olha à cor política na hora de defender os interesses de quem nele confiou o voto. O seu sonho é simples: ser feliz e ver os outros felizes.

Em criança queria ser mágico, astronauta e piloto de fórmula 1. Mais tarde, e mesmo antes de fazer testes psicotécnicos, queria ser polícia. Acontece que, nesta altura, se deram as primeiras lutas entre polícias em Portugal. Lembro-me que achei mal e pensei que poderia ajudar as pessoas como assistente social. Depois de ter tirado a licenciatura, inscrevi-me no mestrado em Recursos Humanos e Comportamento Organizacional. Em Coimbra fiz sempre parte da Associação de Estudantes. Fui fundador da Tuna do Instituto Miguel Torga. Sou formado em Serviço Social.Só sei falar com verdade talvez por ser castigado quando era criança e mentia. Eu gostava muito de inventar e uma palmada na hora certa, se calhar, faz bem. A mim fez-me bem. Aprendi a lição da pior maneira mas não me considero melhor que ninguém. Sempre quis e gostei de ajudar os outros. Faz parte de mim. O que digo é o que penso e o que sinto.Detesto jogos políticos. Não me dou bem com isso. A melhor forma de conseguirmos um mundo melhor é começando pela nossa casa. Se eu puder ser uma melhor pessoa em casa e ajudar a minha família e os amigos a serem melhores, o Mundo é um sítio melhor. Não penso que isto seja uma utopia, o mundo é pequeno. Tive muitas actividades na adolescência. Pertenci ao clube do Pingue Pongue e do Xadrez no Ciclo Velho. Depois, no 7.º ano, entrei na Escola Santa Iria e estava inscrito no Desporto Escolar. Ganhei imensas medalhas em provas de corta mato e também estive nas finais distritais de basquetebol. Era bom a jogar andebol. Fiz muito desporto quando era mais jovem. Quando tinha aulas de manhã, à tarde já estava em Tomar outra vez, para onde ia de bicicleta.Nasci em Paris porque os meus pais eram emigrantes. Mas eles são da Sabacheira e eu também me sinto daqui. Fiz o 1.º ciclo em França. Tinha cerca de dez anos quando regressámos. Os meus pais nasceram e foram criados cá e, desde pequeno, que passava as minhas férias naquela que viria a ser a nossa casa. Hoje ainda moro cá com a minha mulher que é professora.Toda a vida trabalhei com os meus pais, que eram vendedores, nas férias e aos fins-de-semana. Não queria sobrecarregar os meus pais com propinas e só existia curso de Serviço Social no privado. Tenho os melhores pais do mundo que me deram muito amor e carinho mas também me ensinaram o valor da responsabilidade e do trabalho. Quando me davam uma prenda faziam-me ver que era merecida. Sei o que custa ganhar a vida e o esforço que os pais fazem para ter um filho a estudar. Sou tudo menos formal porque sinto que isso afasta as pessoas. Antes de acabar o curso estive alguns meses na Suécia. Foi em 2003. Era um país com políticas sociais inovadoras e desenvolvemos um projecto de intercâmbio, financiado a cem por cento, entre três países. Éramos um grupo de dez pessoas. Foi uma experiência marcante porque era uma cultura totalmente diferente da nossa. Recordo que resolvi, eu e mais dois rapazes, levar fato e gravata para as cerimónias oficiais e quando cheguei lá só faltavam andar de calções e t-shirt. Para mim, usar gravata é um sacrifício.O povo diz que pela boca morre o peixe e eu sou a prova que o provérbio é verdadeiro. Nunca pensei ser presidente de junta e até criticava o meu pai quando ele exercia o cargo por ter mais tempo para os outros do que para a família. O meu pai ainda se podia candidatar mais uma vez mas não quis. Na altura, foi-me proposto e, sinceramente, disse que havia outras pessoas disponíveis para o lugar porque num cargo político não se consegue agradar a toda a gente mas decidi aceitar o desafio. Tento ser um conciliador.Na junta tento fazer o melhor que consigo com o dinheiro que há. Ajudamos as pessoas da nossa freguesia a preencher papéis a toda a hora, traduzimos cartas para outras línguas, e estamos aqui ao sábado à tarde. O desafio foi concretizar todas as ideias que tinha para a freguesia mas penso que, devagar, temos conseguido. Concorremos a fundos comunitários quando os há para podermos realizar obra, mas acima de tudo ajudamos as famílias da nossa freguesia nestes tempos de crise. Quando não estou na junta, estou na Câmara de Tomar onde sou adjunto da presidente. Gosto muito de ver séries televisivas. Programas leves para que o pensamento desligue completamente. Dantes fazia ginásio mas tive que parar. Gostava de retomar o exercício físico porque quando praticamos desporto a mente desliga. Quando eu e a minha mulher conseguimos conciliar as férias vamos para o sítio onde nos conhecemos, a Nazaré, ou vamos para o Algarve onde temos família. Sei cozinhar mas raramente o faço porque tenho muito pouco tempo e a minha mulher sabe fazer isso muito bem.Adoro o imprevisto e a adrenalina faz-me bem. Fico bastante nervoso perante o imprevisto embora aparente estar calmo. Por norma não reajo a quente às críticas. Prefiro falar mais tarde com as pessoas. Tudo tem o seu tempo, até para dar uma resposta. Durante muito tempo o meu lema era viver um dia de cada vez embora tenha planos a longo prazo definidos há muito tempo. Acima de tudo, o que é importante para mim é a família, os amigos e as pessoas. O que sempre me preocupou foi a felicidade. Estar de bem com a vida e com as pessoas que me rodeiam. Fico feliz quando os outros estão felizes.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Adoro o imprevisto e a adrenalina faz-me bem”

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