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Hortas

À medida que os velhos mestres do sacho vão partindo as hortas e quintas da nossa terra vão acabando no abandono. Em contrapartida temos: alface lavada em sacos de plástico, tomates embalados e pêros calibrados com etiqueta em qualquer supermercado do país. Tudo igual em todas as terras.Paradoxalmente (?), as cidades são invadidas por hortas, ditas urbanas, com enormes listas de espera de pretendentes a hortelãos urbanos. A procura excede em muito a oferta. Para além disso, todos conhecemos, designadamente em Lisboa, pequenas franjas de terreno nos próprios taludes de vias rápidas “decorados” com couves e alfaces. Nestas maiores urbes, é comum as varandas e terraços estarem aproveitados, muitas vezes com engenhosos suportes, pelo menos com temperos. (Estou a olhar para os meus vasos de coentros, basílico e tomilho, que bem necessitam de uns raios de sol para crescerem).Em Portugal, os telhados verdes – aproveitamento das coberturas para diferentes tipos de culturas – ainda não passam de poucos bons exemplos, mas vão chegar em força. As vantagens são muitas e esta boa opção é, de facto, incontornável. Era óptimo que os nossos autarcas, projetistas e empreiteiros despertassem para esta realidade e oportunidade. Quase apetece escrever: a cidade invadiu o campo e agora o campo invade a cidade.Mas porquê esta explosão da apetência por uns metros quadrados de terra para cultivar? A resposta é simples: porque somos terra e na terra sentimo-nos bem. Como sempre, haverá uma mescla de razões mas, provavelmente, a mais significativa é o efeito terapêutico e de bem estar que a prática tem nas pessoas. Lêem-se com facilidade textos onde se defende e prova que a horticultura e a terra, como factores socioterapêuticos de uma comunidade, mexer e cultivar a terra fazem bem.O exemplo vem da tia Isabelinha que, com oitenta e muitos anos, afirma que a sua nesga de terreno hortícola, que mais parece um jardim, é o remédio para todas as doenças. A cabeça fica limpa e não há maleita que lhe resista. Graças ao efeito curativo e terapêutico, obtido através do contacto com a terra e da frescura das plantas hortícolas, a octogenária esquece as hérnias discais, a diabetes e outras que tais.A crise social, económica e humana obriga seriamente a uma mudança de olhares e de ações. As pequenas hortas parecem ser um interessante caminho, só com vantagens, num mundo de incertezas, onde a terra é das poucas verdades que nos restam como fonte de vida, saúde e bem estar. A primavera já aí está, aproveite e entre na onda, vai ver que compensa. Curiosamente, este tempo de primavera foi aproveitado por uma conhecida multinacional com a campanha “mais varandas, menos marquises”. Na verdade, qualquer pequeno espaço serve para ter terra e lhe lançar sementes. Todos nós podemos fazer uma horta. Ponha uma horta na sua vida, onde quer que viva, para ser mais feliz. Este é um excelente projeto para esta primavera, colha os seus morangos e cheire o seu alecrim, vale a pena.Carlos A. Cupeto

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