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Henrique Teodoro reformou-se e viu na escrita uma libertação

Henrique Teodoro reformou-se e viu na escrita uma libertação

Escritor da Espinheira, na Azambuja, apresentou o primeiro livro, “Disputado”, aos 63 anos

Quando terminava uma vida inteira de trabalho percebeu que tinha outra dentro de si. Quis mostrá-la e deixou que o papel, o lápis e um banco de jardim o fizessem. Assim nasceu “Disputado”, o primeiro romance de Henrique Teodoro, apresentado sábado em Azambuja.

Nascido na Espinheira, Azambuja, Henrique Teodoro esperou até aos 58 anos, até ser pai de dois filhos, avô de uma neta e a chegada da pré-reforma para, como diz, se “libertar” e dar asas à vontade de escrever. “Disputado”, uma história de amores, desamores, lutas interiores e a violência doméstica é o primeiro exercício publicado pelo ex-funcionário da PT que, agora com 63 anos, afirma a O MIRANTE ter sido uma necessidade que o levou a escrever. “Depois da pré-reforma, achei que tinha chegado a altura de deixar escrito pela ponta dos dedos o que não conseguia dizer. Senti essa necessidade. A pré-reforma não foi o fim, foi o princípio. Sentia em mim este dom, que não é meu, foi Deus que me o deu. Tinha algo a dizer a alguém, descobri que tinha imaginação, criei personagens que viviam comigo. Aos 58 anos descobri esta paixão pela escrita. Descobri que podia estar cinco horas a escrever até o braço me doer”, confessa com ar satisfeito.Três anos depois nasceu a obra em dois tomos - Alvorar e Bruma - em parte baseada em si mesmo, mas com pedaços colhidos das vivências diárias de outros. “Só escrevo às terças-feiras porque não tenho mais tempo. Gosto de escrever ao ar livre. Este livro foi 99% escrito num banco de jardim. Foram 11 blocos A4, mais de mil páginas que a minha mulher transcreveu para computador. As pessoas à minha volta inspiram-me, dão-me espiritualidade”, justificou.A exigência, diz, “é maior agora do que a que tinha quando trabalhava”, mas a escrita assumiu outro papel. “Escrever é um acto de libertação. Para mim é libertar-me da minha vida, da minha pessoa. Quando escrevo deixo o mundo real e envolvo-me nas minhas personagens. É um mundo paralelo em que posso rir e chorar, ter ódio, raiva e amor”.O envolvimento é tão tenso que chegou a ter medo de Hermenegildo, criança de 10 anos e personagem principal. “Queria transmitir algo e aparece uma personagem tremendamente má. Eu próprio tive medo dela. É mau, mas teria de haver dentro dela um fermento dessa maldade. Retrocedi ao meu passado e vi uma história com amor de pai e mãe e, por vezes, a maldade fomentada pelo álcool. Um pai, que pode ser extraordinário, mas o álcool transtorna, pode dar 23 horas de amor e uma de terror. Nestas horas podem-se criar dois eus dentro do próprio ser. Ao longo da sua vida, a parte inteligente, amor e bondade estão sempre por cima. Quando as coisas vão para o lado contrário, salta dentro de si o instinto mau. Qual vencerá?”, atira em jeito de convite à compra da obra.Não foi fácil o percurso do papel até à edição. “O livro foi lançado porque a minha mulher e filha me incentivaram. Fiz uma edição de autor de 150 livros que desapareceram. Não sei se é um fiasco, mas quem o leu veio dar-me os parabéns. Pensei que teria pernas para andar e mandei e-mails para editoras. A Chiado respondeu e editou mil livros. Vamos ser sinceros: pegarem num indivíduo que começa a escrever com 63 anos, é um risco. Não tenho alegria em ser escritor, apenas represento um dom que Deus me deu e estou a defender as minhas criações”, diz. E na forja estão já mais dois produtos da imaginação, porque essa não se reformou.Obra apresentada na terra natalO escritor Henrique Teodoro apresentou, no sábado, o seu livro “Disputado”, na Biblioteca Municipal da Azambuja. O autor, natural da Espinheira, contou com a presença de cerca de 20 pessoas, num ambiente familiar, e deu conta do seu processo criativo.Apresentado pelo vereador da Cultura, António Amaral, Henrique partilhou experiências que o percorreram ao longo da produção do livro, interagiu com a plateia, onde alguns dos seus contemporâneos aproveitaram a partilha para se identificarem com a história de Hermenegildo, criança de 10 anos e personagem principal do romance, onde encarna um corpo complexo numa história com temática actual, a da violência doméstica. Alguns amigos de longa data do autor sentiram-se mesmo a viver a história e elogiaram, alguns entre lágrimas, a coragem do escritor ao descrever esta narrativa. O romance, em dois tomos, é editado pela Chiado Editora e tem um custo unitário de 12 euros.
Henrique Teodoro reformou-se e viu na escrita uma libertação

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