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Jovem árbitra ribatejana sonha apitar os grandes jogos

Jovem árbitra ribatejana sonha apitar os grandes jogos

Cátia Leal tem 18 anos e dirige jogos de futebol das camadas jovens dos campeonatos da Associação de Futebol de Santarém desde os 14. Diz que por vezes ouve insultos e ameaças mas reage com indiferença, porque a atenção tem que estar focada no que se passa dentro das quatro linhas. A estudante de enfermagem, residente em Samora Correia, garante que vai continuar a trabalhar para tentar chegar longe num mundo ainda marcadamente masculino.

A história de Cátia Leal é invulgar. Tem 18 anos mas desde os 14 que é árbitra da Associação de Futebol de Santarém (AFS), tendo-se inscrito no curso com apenas 13 anos. É juiz principal em todos os escalões de formação, mas, nos seniores, devido à idade, ainda só pode ser assistente. A jovem de Samora Correia, que também é estudante de Enfermagem em Évora, ficou conhecida por ter acompanhado a equipa de arbitragem que dirigiu a final da Taça da Liga, entre o Benfica e o Rio Ave, em Maio de 2014. Mas como começou Cátia na arbitragem? “Acompanhava o meu irmão que jogava à bola e via a Inês Henriques (também da AFS) a arbitrar. Na altura devia estar mesmo a começar. Vi que uma rapariga podia arbitrar e inscrevi-me com 13 anos. Quando me chamaram para o curso já tinha 14, fiz o curso, comecei a arbitrar, fui gostando e fui ficando. Gosto muito da arbitragem. Todas as experiências que já tive motivam-me a seguir”, conta a O MIRANTE, sem nunca esquecer o curso, que considera uma mais-valia e que pretende continuar a conciliar com a arbitragem.Três anos mais tarde, surgiu então a oportunidade de estar na final da Taça da Liga, em Leiria, acompanhando a equipa liderada pelo árbitro Hugo Miguel. Cátia e o colega Diogo Marques estiveram sempre integrados em tudo, como a conferência de imprensa, o treino no estádio e o estudo das equipas, feito na véspera. No próprio dia estiveram na reunião preparatória do jogo e acompanharam o quarteto de arbitragem até ao apito inicial. Uma experiência marcante para a jovem. “A Taça da Liga foi em Maio e a mim ligaram-me no fim de Abril, da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF). Fiquei surpreendida e ao mesmo tempo contente e motivada. Não estava à espera. Também fiquei um bocado receosa, se bem que sabia que íamos lá quase que passear, íamos aprender muita coisa mas não tínhamos de tomar decisões. Mas sim, foi uma sensação excepcional, espectacular, entrar no estádio cheio”, recorda.Indiferente às bocas e ameaçasE como reage uma jovem aos apupos, insultos e ameaças vindos das bancadas? O MIRANTE assistiu a um jogo dirigido por Cátia Leal para tentar perceber e as coisas correram bem. Na partida de iniciados do campeonato distrital da 2.ª divisão da AF Santarém, entre o União de Almeirim e o Ouriquense, estava pouca gente nas bancadas. Apenas se ouviu, em tom de surpresa, “olha é uma árbitra”, mas de resto não houve qualquer problema. Mas, segundo Cátia, nem sempre tudo é tão calmo. “Há pessoas que apupam mas com o tempo acaba por ser normal. Sendo rapariga, às vezes oiço coisas piores mas com o tempo acaba por ser um hábito. Às vezes há coisas que já nem oiço. Se estivermos mesmo concentrados nem ouvimos. Depende do sítio em que estamos a arbitrar, do jogo que for. Em todos os jogos ouve-se sempre qualquer coisa. Já me disseram coisas em tom ameaçador mas nunca senti medo”, revela.Indiferente aos insultos, o sonho de Cátia é apitar jogos de topo. Sabe que não o pode fazer ao nível do futebol masculino, porque às mulheres não é permitido, mas há sempre as competições femininas. “Olho para uma árbitra internacional portuguesa e que está na lista de elite da FIFA, que é a Sandra Bastos, e vejo que ela teve de trabalhar muito para chegar lá e continuar lá. Sei que é preciso muito trabalho mas é para isso que cá estamos. Não custa tentar”, diz, esperançada.Para finalizar a conversa, Cátia Leal esclareceu uma dúvida a O MIRANTE. Mas afinal como faz para ter privacidade nos balneários, tendo em conta a presença dos árbitros assistentes masculinos? A jovem sorri e explica tudo com naturalidade. “Já apanhei 3 campos no distrito que têm um balneário à parte e faço tudo aí. Quando não há, que é na maioria dos campos, visto-me eu primeiro ou vestem-se eles, trocamos e no banho de igual forma. Ou então, se há balneários que têm divisão no duche eu meto-me lá atrás, dispo-me, visto-me e pronto. Mas normalmente eles saem, eu visto-me, depois saio eu e vestem-se eles”.
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