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Francisco Cunha diz que a democracia ainda não chegou a Alpiarça

Francisco Cunha diz que a democracia ainda não chegou a Alpiarça

Vereador da oposição na câmara municipal não poupa executivo comunista

Um ano e meio após ter tomado posse como vereador na Câmara de Alpiarça, Francisco Cunha faz um balanço do seu mandato e anuncia a sua candidatura às próximas eleições autárquicas em 2017. Nesta entrevista a O MIRANTE, publicada no dia do município, que se assinala a 2 de Abril, Francisco Cunha critica a gestão comunista e acusa o presidente, Mário Pereira, de ser incompetente para o cargo e de não ter experiência de vida profissional para gerir uma autarquia.

Com a entrada na vida política perdeu a amizade que tinha com o presidente da Câmara de Alpiarça? A relação pessoal com as pessoas não devia ser posta em causa por posições políticas. Sempre vi no Mário Pereira um jovem que jogou futebol comigo, por quem sempre tive respeito, estima e admiração e vice-versa. Não alterei nada na nossa relação. Ele apenas fica perturbado quando eu coloco perguntas para as quais não tem respostas. Mário Pereira não está habituado a ser contestado nem questionado e não lida bem com isso. Sinto que a minha oposição pode pôr em causa a carreira política dele se ele não tiver um bom desempenho.Tem o mesmo respeito pelos restantes vereadores comunistas? Respeito-os a todos, sobretudo a nível pessoal, mas em termos políticos estamos em campos opostos. Eles estão aqui para defender um partido, na minha opinião arranjaram um emprego, de funcionários da autarquia. O presidente e os vereadores devem ser pessoas com ideias, que liderem, que corram riscos e façam alguma coisa em prol da população.O que gostava de fazer pelo seu concelho?O problema é que a democracia ainda não chegou a Alpiarça. As pessoas têm medo de falar porque podem ser prejudicadas. Os trabalhadores da autarquia não são valorizados pelo seu mérito ou experiência mas sim pela cor política. Gostava de devolver a Alpiarça a liberdade de falar e de pensar. Os funcionários da câmara foram avisados pelo presidente para não falarem comigo nem me darem qualquer documentação.Como é que consegue respeitar essas pessoas quando é tratado dessa forma? Consigo separar as coisas e não fomento ódios, mesmo em relação a quem me tem feito muito mal. Sou tolerante. O que sinto por eles é pena porque muitas vezes noto que estão a dizer uma coisa e a pensar outra. Eles gostariam de fazer de outra forma mas o partido não os deixa fazer o que pensam.Pode haver da parte deles alguns ódios em relação a si tendo em conta as atitudes políticas? Isso é notório. Muitas vezes noto esse ódio nas pessoas que os acompanham. Existem pessoas que eram minhas amigas e me falavam muito bem e que deixaram de me falar quando comecei a fazer uma oposição que acho que devo fazer.O presidente da câmara tem as qualidades suficientes para liderar uma câmara como Alpiarça? Mário Pereira não tem preparação académica nem experiência de vida [n.d.r. é licenciado em História e professor] para gerir uma casa com a dimensão desta autarquia que tem cerca de 150 funcionários. Essa inexperiência podia ser minimizada se tivesse um gabinete de apoio que fosse uma mais-valia e que o aconselhasse bem, mas não é isso que acontece. O gabinete de apoio ainda é mais fraco que o presidente. Além disso já estão todos formatados pelo PCP. PRESIDENTE DA CÂMARA ASSUME CULPA NO CASO DE FUNCIONÁRIA DESCONTROLADAComo é que reage a situações como a do munícipe que lhe chama ladrão em plena reunião de câmara ou da funcionária que secretaria as sessões camarárias que se descontrolou, aparentemente, por sua causa? Em relação ao munícipe, acredito que foi instrumentalizado para fazer o que fez. Entreguei o caso à justiça e vou aguardar a decisão do tribunal. No caso da funcionária ela não se descontrolou por minha causa, porque não disse nada que a pudesse ofender. Nem estava a falar para ela ou sobre ela. Era de bom-tom que me pedisse desculpa. Sempre tive um relacionamento correcto com ela. Existe uma pressão enorme. Por muito que tentem transparecer para opinião a pública que estão calmos, na verdade não estão.Mário Pereira pediu-lhe desculpa por este episódio com a funcionária da câmara? O presidente falou comigo e assumiu que a culpa era dele porque a funcionária já tinha pedido, mais do que uma vez, para não fazer este serviço. Ele é que insistiu que ela o fizesse.Pediu apoio jurídico da câmara no caso do processo contra o munícipe que o injuriou? Pedi, mas nem sequer obtive resposta do presidente, apesar de ter direito a esse apoio jurídico. Não tive resposta a esse pedido como não tenho resposta a nenhum dos cerca de duas dezenas de requerimentos que pedi até agora.O problema é do PCP ou do presidente da câmara? É dos dois. O PCP exige que as coisas sejam feitas com esse objectivo. E o presidente não consegue libertar-se da força do partido.Candidato à câmara em 2017 se não houver imprevistosComo se sente quando misturam a sua vida privada com a vida política? Isso acontece quando não têm outros argumentos. Muita gente fala da minha vida e não sabe nada dela. É óbvio que neste momento interessa falar da minha vida privada espalhando mentiras. Há uma coisa que não se pode esquecer em relação à minha vida privada: a minha família foi a que mais impostos pagou em Alpiarça depois do 25 de Abril de 1974. Somos a família que mais criou empregos em Alpiarça, que mais ajudou o comércio a desenvolver-se. Tivemos dificuldades mas ainda cá estamos. Acham que é possível dever às pessoas e não nos acontecer nada? Os portões desta casa estão abertos a qualquer pessoa. Quando vai para uma reunião de câmara, com o peso de um dia de trabalho de empresário, sente-se superior a eles que passam o dia na política? Não me sinto superior a ninguém, mas não me acho inferior. Eles é que se acham superiores quando em termos de lição de vida ou em termos de fazer alguma coisa por Alpiarça nem sequer se podem comparar comigo ou com a minha família. Quando falam na minha vida privada e na da minha família é para dizerem mal. E ignoram hoje como sempre ignoraram que foi o meu pai que ofereceu o terreno para construir o quartel dos bombeiros em Alpiarça, por exemplo. O que é que eles já deram a Alpiarça?Quais são os projectos a que tira o chapéu a este executivo? Não tiro o chapéu porque não vejo nada de extraordinário. O centro escolar, a requalificação do Largo Vasco da Gama, a requalificação da Casa-Museu dos Patudos são projectos que vieram do mandato socialista. Fizeram apenas o parque de estacionamento dos paços do concelho.Vai até ao fim do mandato? Desde que a minha vida profissional e a saúde o permitam o mandato é para cumprir. Se não houver imprevistos em 2017 serei candidato novamente.Quais seriam as suas prioridades se fosse presidente de câmara? Para haver concelho tem que haver pessoas e, infelizmente, os jovens estão a ir-se embora porque em Alpiarça não há empregos. O presidente da câmara e o seu partido são contra a iniciativa privada. Não havendo iniciativa privada não há criação de postos de trabalho. Temos que demonstrar que somos uma terra que pretende iniciativa privada. Queremos cá empresas e empresários para que os nossos jovens não saiam de cá. Também temos que investir no turismo que é fundamental para o desenvolvimento de qualquer concelho.Que outros projectos gostaria de implementar? Gostava que a ligação do rio Tejo à vala de Alpiarça fosse concretizada e que fosse instalada uma escola de artes em Alpiarça. Têm que ser projectos que coloquem Alpiarça no mapa. Aproveitar melhor a Casa-Museu dos Patudos e os visitantes que cá vêm mas não param para almoçar no concelho. Alpiarça tem que apostar no que é mais importante, o turismo.“Muita gente está na política para servir interesses pessoais e partidários”Empresário ligado aos ramos vinícola e da educação, Francisco Cunha decidiu concorrer às eleições autárquicas em 2013. Desde jovem que sempre teve uma participação activa no movimento associativo do concelho de Alpiarça e sempre gostou de fazer algo em prol da sua comunidade. Considerou que a sua candidatura poderia ser uma mais-valia para o concelho e decidiu arriscar. “Percebi que não existiam boas ideias para Alpiarça e que as coisas no concelho não andavam para a frente por isso decidi avançar”. O seu movimento independente “Todos Por Alpiarça” (TPA) concorreu com o apoio do PSD e do MPT (Movimento Partido da Terra). O PSD obteve o melhor resultado de sempre em Alpiarça e Cunha conquistou um lugar de vereador no executivo municipal. Confessa que ganhou amigos mas também inimigos. Francisco Cunha afirma que este mandato confirmou aquilo que já suspeitava há muito no mundo da política. “Muita gente está na política para servir interesses pessoais, dos amigos e partidários, em vez de servir os interesses da população. Temos apresentado muitas propostas mas é difícil remar contra quem não está a pensar no desenvolvimento, contra aqueles que pensam apenas em como conseguir mais um voto”, sublinha.Neste quase ano e meio de mandato Francisco Cunha apresentou várias propostas que afirma não serem levadas a discussão e aprovação nas reuniões do executivo camarário. Também se queixa do presidente da câmara não lhe facultar o acesso a vários documentos que pede para consultar. A Comissão de Acesso a Documentos Administrativos já lhe deu razão e ordenou que Mário Pereira lhe faculte o acesso aos documentos mas Francisco Cunha garante que isso até agora não aconteceu.Um dos casos que mais polémica tem levantado é o do património dos legados que vários beneméritos deixaram em testamento ao município de Alpiarça. Francisco Cunha mantém a sua opinião de que o património dos legados desapareceu e exige que tanto ele como a população sejam informados do que “realmente” aconteceu. “O mais grave é que durante 40 anos alguém andou a aproveitar-se do rendimento dos legados que não foi entregue para onde os beneméritos destinaram, que era a Fundação José Relvas. Se não foi para a Fundação foi para onde? Se os rendimentos dos legados tivessem ido para a Fundação possivelmente as mensalidades praticadas seriam muito mais baixas e de acesso a todos. As pessoas deveriam ser aceites na Fundação José Relvas pelo valor da sua reforma, o que ainda não acontece, e essa é uma luta pela qual me bato há vários anos”, acusa.As contas da Agroalpiarça é outro dos documentos que Francisco Cunha tem pedido para consultar. O vereador afirma que a cooperativa só sobrevive porque a câmara municipal detém 99 por cento do capital da cooperativa. “É um capricho sustentado pelo poder para retirar dali o que lhes interessa. A cooperativa tem muitas terras e movimenta muito dinheiro. Além disso, a câmara não cobra as rendas. Como é que os outros agricultores vão sobrevivendo e a cooperativa continua a ter dívidas e as coisas não funcionam”, questiona.Em relação ao atraso de mais de seis meses para aprovação das actas das reuniões de câmara considera que existe “incompetência” por parte do presidente da autarquia neste processo. No caso do parque de campismo da vila, cuja concessionária do espaço deve mais de 12 mil euros de rendas em atraso, Francisco Cunha critica a forma como tudo decorreu. “A autarquia quis mostrar, um mês antes das eleições autárquicas, que tinha uma solução para o parque e fez as coisas em cima do joelho”, considera, acrescentando que, se tivesse poder de decisão, entregaria a exploração do parque de campismo a uma entidade que tivesse capacidade financeira e vocação.Posições ditatoriais na assembleia municipalNa última assembleia municipal a proposta do TPA de atribuição da Medalha da Liberdade a Manuel Duarte, primeiro presidente da Câmara de Alpiarça, foi recusada. Francisco Cunha diz que tudo é visto em função dos interesses do PCP. “Apesar de Manuel Duarte ter sido o grande obreiro do concelho na altura da proclamação da República, a CDU não quis prestar-lhe essa homenagem. Não sei se tem a ver com o facto das propriedades dos descendentes de Manuel Duarte terem sido ocupadas, após o 25 de Abril, pelo PCP quando estava no Governo”, refere.Nessa sessão, o presidente do órgão, Fernando Louro, afirmou mesmo que recusaria colocar à votação o documento se este fosse apresentado sob a forma de proposta, o que obrigou o TPA a alterar o documento para recomendação. Mesmo assim a proposta foi chumbada pela maioria comunista. O empresário considera que a atitude de Fernando Louro demonstra as “posições ditatoriais” que têm acontecido com frequência na assembleia municipal. “Antes da primeira assembleia municipal deste mandato, Fernando Louro garantiu-me, numa conversa particular, que até acabar o mandato nunca me iria deixar falar na assembleia, nem se eu suspender o mandato e vá lá na qualidade de público”, concluiu.
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