Vista e pernas cansadas, Adelino Silva senta-se discretamente no pelourinho em frente à Câmara de Vila Franca de Xira numa manhã de sábado. Uma daquelas em que, de coração apertado, espera que a esposa regresse do cemitério onde, com frequência, vai deixar flores na campa do filho já falecido. Nessa manhã de sábado, Adelino aguarda-a contemplando o mar de gente que circula entre ele, indiferente à sua presença. Está a decorrer uma mostra de artesanato e toda a gente quer ser a primeira a descobrir uma novidade única nas bancas cheias de peças feitas à mão. Adelino é paisagem, até falarmos com ele. Aos 75 anos, natural de Vila Franca de Xira, confessa gostar de ver o centro cheio de gente. Gosta de artesanato, sobretudo das peças de metal, mas quando toca a panos aí a última palavra cabe à esposa. “Gostava de ver mais eventos destes, para não ser só o Colete Encarnado e a Feira de Outubro”, diz-nos com um afável sorriso. Adelino confessa que a mostra de artesanato foi “uma coisa bonita” naquela manhã. Porque nem só de coisas feias é feita a vida. Filipe Matias