O que fica depois de António Dias Lourenço é a sua sede de liberdade
Museu do Neo-Realismo realizou sessão evocativa do centenário do seu nascimento onde se evocou a sua “coragem e a dedicação total” à liberdade.
Nunca a sede de liberdade, a incapacidade de resignação e a coragem de mudar a sociedade para melhor de António Dias Lourenço foram tão necessários. A ideia ressaltou de uma sessão evocativa do centenário do nascimento daquele destacado vilafranquense que foi, durante anos, combatente anti-fascista, dirigente do Partido Comunista Português, jornalista, pintor e poeta. A cidade onde nasceu este amigo de Alves Redol, preso político, amante de teatro e estudioso das desigualdades sociais que se viviam no Portugal de Salazar, prestou-lhe tributo na tarde de sábado, 28 de Março, com uma sessão evocativa no Museu do Neo-Realismo. Na plateia estavam sobretudo pessoas ligadas ao PCP. Falecido a 7 de Agosto de 2010 com 95 anos, António Dias Lourenço foi o homem que “viveu durante décadas a ficção de um Portugal livre e democrático”, uma ficção que mais tarde conseguiu “concretizar e viver”, notou António Pedro Pita, director do Museu do Neo-Realismo. Dias Lourenço, “que pertencerá para sempre à história do neo-realismo”, nunca gostou dos privilégios da política e defendia que a arte era inerente aos processos de transformação social. “Uma vida como a dele não pode deixar de nos motivar”, notou João Arsénio Nunes, professor. A “coragem e a dedicação total” à liberdade foram as principais memórias levantadas na sessão, juntamente com a audácia e a coragem do homem que era filho de um ferreiro e de uma costureira. Dias Lourenço, que inventou um sorriso para os agentes da Polícia Internacional de Defesa do Estado (PIDE) não lhe verem a tortura na cara, foi também um dos protagonistas da célebre fuga da prisão de Peniche, em 1954. “Na prisão recusava a tortura da estátua e preferia expor-se aos golpes selvagens da PIDE. Era de um carácter forte e excepcional”, notou João Arsénio Nunes. A sessão contou ainda com a exibição da curta-metragem “O Segredo”, de Edgar Feldman.Redol na “retrete”António Dias Lourenço era uma pessoa conhecida por não ter papas na língua. Foi isso mesmo que provou numa entrevista a O MIRANTE em 2007, uma das últimas entrevistas que deu, quando disse que Alves Redol não iria gostar da estátua que lhe fizeram na cidade. “Parece que está na retrete. Em Vila Franca nenhum de nós gostou disso”, notou. Dias Lourenço foi um dos criadores dos “Passeios no Tejo”, juntamente com Alves Redol. “Uma vez eu, o Redol e o Miguel Torga passámos o Tejo para o lado de lá. Tinha acabado a Guerra Civil de Espanha. Estávamos os três a falar sobre o assunto. O Torga, o Redol e eu a certa altura começámos a cantar a internacional (hino dos partidos comunistas e socialistas). A certa altura diz o Torga: “Caramba, nunca pensei que alguma vez se pudesse cantar a Internacional alto neste nosso Portugal!. É claro. Ninguém mais podia ouvir. Senão nós três. Estávamos sozinhos”, recordou.No seu livro sobre Vila Franca de Xira, “Um concelho no país”, relata a dura realidade da vida dos camponeses, dos proprietários que soltavam os cães para os manter em ordem e fala numa mulher caprichosa que pedia ao marido para baixar os ordenados dos trabalhadores para lhe poder comprar um colar de pérolas.
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