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Presidente de Torres Novas não lamenta ter ficado com a missão de pagar as dívidas de vinte anos de grandes obras

Presidente de Torres Novas não lamenta ter ficado com a missão de pagar as dívidas de vinte anos de grandes obras

Pedro Ferreira não ligava à política e só há dois anos é que se inscreveu no Partido Socialista

Como muitos outros presidentes eleitos pela primeira vez em 2013, Pedro Ferreira passou o seu primeiro ano e meio de mandato a pagar dívidas e a estabilizar a situação da Câmara Municipal de Torres Novas. Se tivesse sucedido a alguém de outro partido político falaria em “pesada herança” ou em coisa parecida. Como foi vice-presidente nos últimos vinte anos, fala com orgulho da obra feita. Para além do trabalho como autarca tem outros motivos para se sentir realizado. Foi fundador e presidente durante 37 anos do CRIT - Centro de Reabilitação e Integração Torrejano.

O seu gabinete mantém a decoração que tinha no tempo do seu antecessor. Só há aqui um quadro novo. Foi pintado por uma amiga de infância e vizinha que faleceu em Janeiro do ano passado. Sempre gostei muito dos trabalhos dela e a família deu-me o quadro. Disseram-me que era intenção dela oferecer-mo. Ela chamava-se Amélia Pinheiro. Foi coralista do Choral Phydellius durante quarenta anos.Foi vice-presidente da câmara durante vinte anos. Agora é presidente. É evidente que se revê no que foi feito. Não podia ser de outra maneira. Temos um concelho muito bem apetrechado de equipamentos. Houve uma fase em que os investimentos foram para criar melhor qualidade de vida no concelho. O Palácio dos Desportos, as piscinas, o Virgínia, a biblioteca, o Jardim das Rosas, os cinco centros escolares, só falta um na cidade, enfim...Para si sobrou a parte do pagamento das dívidas. Para se fazer o que se fez até ao final do mandato anterior teve que se assumir uma dívida substancial, apesar de controlável, que nos obrigou, inclusivamente, a recorrer ao PAEL (Programa de Apoio à Economia Local). Parti para este mandato com uma visão de um maior rigor e de procura do equilíbrio financeiro.A necessidade de haver rigor e equilíbrio financeiro sempre existiu. E antes do PAEL houve o PREDE em 2009 que também se destinava a efectuar pagamentos em atraso. No entanto uma inspecção feita à câmara detectou que, para além da falta de rigor e de equilíbrio, a dívida continuou a aumentar. Foram mais 3,7 milhões até 2011. Em ano e meio de mandato conseguimos reduzir a dívida em 12 milhões de euros. Estamos actualmente com uma dívida de 25 milhões e a fazer pagamentos a vinte dias.Finalmente alguma coisa está a mudar mas o rigor de que estamos a falar acabou por ser imposto pelo Governo. O mérito é nosso. Apesar das regras serem iguais para todos, nem todos conseguiram os mesmos resultados que o município de Torres Novas. E há restrições que eu critico por violarem a autonomia do poder local. Por exemplo? A Lei dos Compromissos é demasiado severa. Devia haver uma folga diferente. Podiam partir de outros pressupostos para o equilíbrio das contas. Há coisas que não fazem sentido. Veja o caso do pessoal, por exemplo. Quem são os governantes para nos dizerem de que pessoal precisamos para fazermos uma boa gestão. Uma coisa é imporem limites financeiros e outra é imporem-nos o número de elementos dos gabinetes. Isso é ingerência. O senhor não se cansa de repetir que está orgulhoso por Torres Novas ter aproveitado todas as ajudas comunitárias que podia ter aproveitado. Foram três Quadros Comunitários. Para ir buscar mais fundos comunitários tem que recorrer à banca. Ainda o pode fazer? Se quiséssemos recorrer agora ao crédito não podíamos ir além dos 700 mil euros. Neste momento há uma discussão académica sobre se a dívida da Resitejo (Gestão e Tratamento de Lixos do Médio Tejo) conta para este endividamento. Nós achamos que conta. A Resitejo tem um parecer que defende o contrário. Se assim for a nossa capacidade de endividamento sobe para cerca de 4 milhões de euros. Mencionou uma lista de obras feitas. As que ficaram por fazer foram as que tinham menos visibilidade. O saneamento, por exemplo. Foi uma estratégia. Estavam em causa 30 milhões de euros que a Águas do Ribatejo tem vindo a investir. Já foram 17, faltam 13 milhões, se calhar até vão ser mais. A empresa tem feito um excelente trabalho e sem grandes aumentos dos tarifários. Estamos abaixo da média nacional em termos de tarifários.Em Torres Novas ainda existiam sistemas de distribuição de água geridos por comissões de moradores que vinham dos anos a seguir ao 25 de Abril. Isso já acabou? Pé de Cão passou por isso e já lá tem os contadores. A seguir será Vale da Serra. Houve negociações com associações de moradores. Era uma situação ilegal e tinha que se resolver.A cidade nova tem qualidade de vida mas a cidade velha, a parte histórica, está muito degradada. Há ruas em que praticamente não há uma casa cem por cento em condições. Como se reabilitam tantos edifícios degradados que pertencem a particulares? Um dos maiores desafios que temos é esse. Temos cerca de 700 edifícios degradados entre edifícios industriais e de habitação. A parte nova da cidade é excelente e tem qualidade de vida. Agora queremos pôr o Centro Histórico a mexer, com comércio, pessoas a viver...Como vão fazer isso? Começámos por criar uma Área de Reabilitação Urbana. Demos ao projecto o nome Urbnovas. Resumidamente vamos dizer às pessoas para colaborarem connosco. Vamos pôr técnicos à sua disposição. Não vão pagar taxas de urbanismo. Vão ficar isentas de IMI durante cinco anos. Criámos um grupo alargado para discutir soluções e temos um gabinete para esclarecer as pessoas. A câmara já começou a dar o exemplo com a recuperação da antiga Praça do Peixe. Vamos ser apoiados porque fomos incluídos no lote de cidades que beneficiarão de maiores fundos comunitários para intervenções deste género.“Bruxelas considera que há zonas industriais a mais e isso prejudica-nos”Neste novo quadro comunitário houve algumas mudanças que não lhe devem agradar muito. Estamos perante um Quadro Comunitário completamente diferente dos anteriores. A maior aposta neste momento é para as empresas, para a criação de emprego, para o empreendedorismo, etc..Também é dada prioridade a projectos intermunicipais embora os municípios sejam exímios em ultrapassar esse tipo de imposições. Ouvindo os presidentes de câmara da região já se percebe que isso vai ser, pelo menos, tentado. Não. Nada disso. No nosso caso vamos ter, por exemplo, um projecto intermunicipal com intervenção de duas câmaras, Torres Novas e Ourém. Trata-se do monumento natural das pegadas dos dinossauros. O ICNF (Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas) vai passar a gestão para as câmaras. Cada presidente de câmara fala nos seus projectos. É verdade que cada presidente traz as suas coisas mas o ITI (Investimento Territorial Integrado), em que não há interferência do Governo a nível de escolha, nós é que temos que gerir o dinheiro que é lá posto, numa lógica intermunicipal, dentro do possível....Tem que se reconhecer que houve muitas obras inúteis apoiadas com fundos comunitários. Fomos confrontados com uma estratégia já definida pelo Governo junto de Bruxelas e a CIMT (Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo) já pouco pode fazer. Pediram-nos uma estratégia. E até fomos felicitados pelo trabalho apresentado mas está tudo muito limitado. Basta dizer que as zonas industriais são uma prioridade negativa. E nós ainda com infra-estruturas por fazer em zonas industriais.Por causa de uns pagam os outros, como diz o povo. Justificaram que há muitas zonas industriais concluídas e abandonadas e agora Bruxelas acha que já há zonas industriais a mais. Para nós é um problema. Queremos acabar a zona industrial de Riachos, queríamos avançar com a porta Norte em conjunto com Alcanena, na zona de Videla. Se não houver verbas para isso ficamos um bocado limitados.Vai conseguir fazer o Centro Escolar Santa Maria? O projecto está a ser feito. Os pais e a direcção do agrupamento querem a ampliação e nós também. Tem uma área superior à que estava prevista para outro centro escolar novo. A construção do Centro Escolar de raiz junto ao hospital está afastada. Em termos de fundos comunitários há 3 milhões e meio para 13 municípios e três milhões custa um centro escolar. Não temos dinheiro para isso. Neste momento até as escolas são prioridade negativa em termos de fundos mas para o Centro Escolar temos que arranjar financiamento.O parque de estacionamento subterrâneo vai permanecer fechado? Vai. Pelo menos até haver uma decisão judicial. Houve rescisão unilateral do contrato de construção exploração por parte da Construtora do Lena. Nós recorremos ao tribunal administrativo e eles ao tribunal arbitral. Vamos ver qual é o tribunal competente e a decisão que irá tomar. Não arriscamos abrir antes disso. Estamos preparados se tivermos que ficar com o parque. Há uma construção feita. São cerca de 3 milhões de euros. A concessão era por vinte anos e estiveram lá dois.A Comunidade Intermunicipal tem gasto milhares de euros em estudos de mobilidade mas cada vez há menos transportes, por exemplo. O que se passa com a ligação entre os hospitais do Centro Hospitalar do Médio Tejo é um exemplo da incapacidade de resolver esse assunto. Dentro da descentralização de competências para as autarquias os transportes são um sector em que tal se justifica. Há uma preocupação dos municípios mas tenho que reconhecer que, em termos práticos, não se tem visto muito. Quando se fala da ligação entre os hospitais, é realmente uma desgraça. Concorda com a transferência de competências? Há sectores do Estado que devem ser preservados a bem do serviço público, como a educação e a saúde, por exemplo. Os municípios não são capazes de perceber melhor as necessidades e de encontrar soluções? Com a saúde, a determinados níveis, devemos ser uns parceiros privilegiados porque conhecemos muito bem a realidade e as necessidades. E porque não queremos que as pessoas tenham dificuldades no acesso à saúde. A educação, apesar de tudo, é um programa comum a nível nacional e o desafio para as autarquias era para serem ainda mais inovadoras. Poderíamos ser inovadores no concelho Y e haver concelhos que não teriam essas condições de ensino. Acho o país ainda muito frágil para fazer essa passagem.Qual é a dimensão da habitação social propriedade do município? Temos cerca de cem casas. É uma situação controlável mas dá muitas dores de cabeça. Nos tempos áureos do INH (Instituto Nacional de Habitação) construímos um bairro social com 50 apartamentos junto ao estádio. Temos casas que eram da Fundação Salazar e passaram para a câmara, junto à Escola Maria Lamas, nas Tufeiras e temos algumas casas espalhadas por aldeias. Não conseguimos fazer a manutenção que gostaríamos de fazer mas não temos nenhuma fechada por falta de manutenção.“Se tenho inimigos eles disfarçam muito bem”O percurso do antigo escuteiro Chefe do Agrupamento 65 do Corpo Nacional de Escutas, compositor de canções para festivais infantis da canção, cronista do jornal O Almonda, dirigente associativo, militante incansável de causas sociais inclui um feito notável para além da circunstância de ter sido vice-presidente da Câmara Municipal de Torres Novas durante vinte anos e ser actualmente presidente daquela autarquia. Foi um dos fundadores do CRIT (Centro de Reabilitação e Integração Torrejano), em 1977 e seu presidente da direcção até à sua eleição para presidente do município. Pedro Ferreira é o sócio nº 2. O sócio nº 1 é o seu amigo Mário Duarte que o desafiou para ir com ele ver o CIRE, uma instituição congénere, que tinha nascido em Tomar.Pedro Ferreira foi o primeiro elemento da família Ferreira a nascer fora do concelho de Alcanena, a 2 de Janeiro de 1952. O pai, Manuel Joaquim Rodrigues Ferreira, era conhecido por Manuel da Farmácia por ter trabalhado durante trinta anos numa farmácia em Alcanena. A mãe, Maria Adelaide Galveia Ramos, era telefonista e tinha ido trabalhar para Torres Novas. A irmã e dois outros irmãos do autarca já faleceram.Depois do ensino básico e dos estudos na Escola Comercial e Industrial de Torres Novas, Pedro Ferreira arranjou emprego na empresa Luz & Irmão, em Riachos, onde permaneceu durante vinte anos. Foi Técnico Oficial de Contas. Entre 1982 e 1994 foi Inspector de Seguros. Entrou na política em 1993, como nº 2 da lista do PS à câmara e foi vereador e vice-presidente até 2013, altura em que concorreu em primeiro lugar e se tornou presidente. Apesar de ter sido eleito para cinco mandatos pelo PS só se inscreveu no partido há cerca de dois anos, Considera que não enganou ninguém. Segundo ele era óbvio para toda a gente que há muitos anos que se identificava com o partido. Já depois de ter feito 50 anos voltou a estudar e licenciou-se em Ciências Sociais. Foi um curso tirado por gosto, depois de anos e anos de uma aturada prática no sector. Uma prenda oferecida a si mesmo depois de ter os três filhos, Sara, Marco e Pedro, praticamente criados. É católico e é casado com Zélia Maria, que conheceu quando a mesma, natural de Matas, no concelho, frequentava o Colégio de Santa Maria, na cidade.Ossos dos soldados de Napoleão e ouro arcaico nos trinta anos de elevação a cidadeO programa de comemoração dos trinta anos de elevação de Torres Novas a cidade integram uma exposição em que poderão ser vistas as ossadas descobertas durante as obras de remodelação da Praça do Peixe, inaugurada no dia 25 de Abril. Segundo elementos encontrados no local as mesmas pertencerão a soldados do regimento 117 do exército do imperador francês, Napoleão Bonaparte. Os achados estão a ser estudados na Universidade de Faro. Também o “ouro arcaico”, duas adagas, conchas, colares, etc... descobertos durante as obras do Convento do Carmo serão expostos na mesma ocasião, acompanhadas de uma pequena monografia. Os objectos têm estado a ser estudados e catalogados numa instituição neozelandesa. Quanto ao crânio que o arqueólogo João Zilhão descobriu na gruta do Almonda em Agosto do ano passado, e que está a ser estudado na Universidade de Barcelona, só em 2016 haverá dados concretos relativos à sua importância. Um livro de aventuras pronto para editarPedro Ferreira chegou a publicar crónicas no jornal O Almonda. Também compôs canções para o já desaparecido festival infantil da canção que se realizava na cidade e gosta de escrever poesia. Confessa que tem um livro de ficção, baseado em experiências pessoais da sua adolescência, pronto para ser editado. “Até agora tem-me faltado coragem para o editar. Considero que é um livro para todas as idades. Já o dei a ler aos meus filhos e à minha esposa e eles entusiasmaram-me. É passado no concelho. São aventuras baseadas em situações que vivi, sobretudo no tempo dos escuteiros”, confessa. O livro já tem título mas o autor não o quis revelar para “não estragar a surpresa”.
Presidente de Torres Novas não lamenta ter ficado com a missão de pagar as dívidas de vinte anos de grandes obras

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