São casos de autêntico amor ao clube. Na época que agora terminou, houve três jogadores do Clube Desportivo de Torres Novas, que milita na 1ª divisão distrital da Associação de Futebol de Santarém, que não quiseram receber nem um cêntimo do que tinham direito por jogarem pelo emblema torrejano. A revelação foi feita a O MIRANTE pela presidente da comissão administrativa do clube, Maria do Céu Ramos, que, aos restantes, estabeleceu um tecto máximo de 150 euros, muito longe dos 500/600 euros que o clube pagava aos atletas há alguns anos e que, segundo a presidente, contribuiu para o seu endividamento. “O máximo que estou a dar é 100 euros. Tenho um jogador ou dois que já cá estão há mais tempo e que ganham 150, mas também são de mais longe e eu tenho de dar qualquer coisa para a ajuda do gasóleo. E também tenho alguns a jogar aqui de borla. Um dos jogadores, quando faltavam dois meses para o início da época, chegou-se ao pé de mim e disse que não queria receber. Outro prescindiu do dinheiro e paga, uma vez por mês, o almoço que fazemos ao domingo. Fazem isso porque gostam do Torres Novas”, diz Maria do Céu, que, mesmo assim, assume que deve dois meses aos atletas, situação que será regularizada muito em breve. “Eles estão de corpo e alma comigo e compreendem. Prometi que lhes vou pagar e vou mesmo pagar”, garante quem passa os dias a arranjar maneira de pagar dívidas que não foram contraídas por si. A presidente lembra também que o clube não tem apoios e que sobrevive das quotas dos sócios e do dinheiro dos bilhetes, o que às vezes nem chega para pagar a taxa de jogo.Maria do Céu Ramos é o rosto principal do Torres Novas há quase um ano, desde Junho de 2014. É presidente da comissão administrativa porque mais ninguém quis avançar. Já está ligada ao clube há cinco anos, primeiro como cobradora de quotas e depois como tesoureira da anterior comissão. Está em final de mandato, já que se aproxima (15 de Maio) uma assembleia-geral eleitoral. Se nenhuma lista se apresentar à direcção, será convocada nova assembleia geral para 15 dias depois, para ser eleita uma nova comissão. “É possível que eu continue, é muito provável, e tenho vontade de continuar, pelo menos para continuar o trabalho que tive ao longo deste ano, que ainda não está pronto e que eu queria deixar pronto. Já estou a tentar fazer aí uma listazinha”, revela, pouco convicta que apareça alguém para a direcção.Mulher num mundo do futebol ainda dominado por homens, Maria do Céu Ramos garante que foi bem recebida por toda a gente ligada ao clube, desde jogadores e treinadores aos adeptos, e diz que fazem falta mais mulheres na presidência dos clubes, por “terem mais iniciativa” e fazerem de tudo um pouco. “Posso dizer que sou presidente, cozinheira, vendo bilhetes, estou na porta, estou no bar, sou cobradora de quotas e nunca deixei de fazer nada disso por ser presidente. Se for preciso ir apanhar bolas eu vou. Não tenho problemas em fazer seja o que for”.Se continuar como presidente da comissão administrativa, Maria do Céu Ramos tem dois objectivos: angariar novos sócios, visto que muitos já estão “velhotes”, e levar mais gente ao estádio. Diz a presidente que muitos adeptos estão “de costas voltadas”, pelo facto de o clube estar a “enterrar-se” há muitos anos. “Houve presidentes que se serviram mais do clube do que serviram o clube”, refere, sem querer mencionar nomes.