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Gosto de dizer que Samora Correia é uma mini Nova Iorque

Gosto de dizer que Samora Correia é uma mini Nova Iorque

Aos 37 anos, Pedro Pereira, ex-jogador do Sporting e ex-jornalista, assumiu as rédeas da concelhia do PS em Benavente para fazer oposição num município dominado pela CDU. Funcionário da câmara, este técnico superior licenciado em Administração Regional e Autárquica mostra-se extremamente crítico com o executivo camarário, apesar de lhe reconhecer méritos na gestão financeira. Ao seu PS admite ainda faltar maturidade para estar à frente da autarquia. Nesta entrevista defende intercâmbios culturais e aponta Samora Correia como um exemplo na questão da integração dos imigrantes

Na última Assembleia Municipal de Benavente queixou-se de que o PS, ou as minorias, não são tratadas da mesma forma que os outros partidos. Existe um défice democrático na Câmara de Benavente? Haver uma maioria absoluta de décadas, uma gestão centralizada do anterior presidente e sendo a CDU uma força política conservadora, não permite que haja grande abertura para outros protagonistas terem um papel mais activo no desenvolvimento do concelho. Há casos em que a fronteira entre o que é uma democracia participativa e aberta e o que é uma democracia fechada e limitada existe. O poder tem vícios e acredito que já estejam tão entranhados que dificilmente se conseguem libertar deles. Há quase um sentimento de propriedade, como se fossem os donos disto tudo.A actuação do vereador José Rocha, do PS, tem sido amplamente criticada por CDU e PSD. A ausência nas cerimónias solenes do 25 de Abril, em que você mesmo disse que ele deveria ter estado presente, foi um episódio com contornos de descoordenação. Há credibilidade junto dos eleitores para o PS se constituir como alternativa? Somos a única força opositora e alternativa à CDU. A posição do vereador do PSD é totalmente conivente com a da maioria. Não considero que hoje ou amanhã estaríamos em condições de assumir a Câmara de Benavente. Há um caminho a percorrer que requer envolvimento em torno de um projecto e de um candidato a médio prazo. A questão da sessão solene é um episódio isolado. Tento lutar para inverter o rumo que o PS trilhou ao longo dos tempos. Existem, no concelho, dificuldades várias na oposição dado o poder da CDU e as dependências e favores que qualquer câmara que está no poder há muitos anos, como esta, detém sobre a população.Admite uma coligação pré ou pós eleitoral ou apenas considera ver o PS a concorrer sozinho nas autárquicas? Abro as portas a todas as pessoas, sejam de que quadrante político sejam. Terei muito gosto que, na constituição das listas para 2017, os descontentes, porque os há, das listas da CDU, e os desta actual governação, integrem as listas do PS.É mais apelativo, neste momento, o PS conseguir a Câmara de Benavente ou a Junta de Freguesia de Samora Correia? Neste momento, as quatro juntas do concelho estão a fazer um trabalho mais positivo do que a câmara. O PS tem de apostar forte na Junta de Samora, porque estamos ante um presidente em fim de mandato que até deixa algumas ideias mais arrojadas do que a câmara. Esta linha é mais próxima do que o PS pretende e num cenário de outros candidatos à câmara, por exemplo, com o Hélio Justino os entendimentos seriam mais fáceis. Já há candidato PS para a Junta de Samora Correia? Não está definido. É um assunto que tem sido pensado. O que queremos é apostar forte, porque não há um sucessor para Hélio Justino. Tal como não existiu na câmara para António José Ganhão. Esse sairá do projecto socialista.Disse que muitas pessoas consideram ser este o pior executivo de sempre. Faz essa análise? O que ouço das pessoas, mesmo as que estiveram e estão nas listas da CDU, é que este é o pior executivo de todos os tempos. Politicamente não me custa esta caracterização. Concordo. O que me custa é ver um conjunto de jovens vereadores com formação fazer uma equipa que não funciona. Só uma nova liderança pode inverter este rumo. Reconheço que as contas estão consolidadas, mas isso é só uma parte da gestão, a financeira. Na área do emprego, uma bandeira da CDU, entre os 21 concelhos da área de Santarém, somos o quarto com maior taxa de desemprego. Só este ano é que foi feita a primeira feira do empreendedorismo e do emprego, ao fim de 30 e tal anos.Defende que a CDU não consegue projectar o concelho a nível nacional e internacional. Como se propõe fazê-lo? A CDU não tem aproveitado o forte potencial do concelho. Gosto de dizer que Samora Correia é uma mini Nova Iorque. Temos imigrantes de leste em grande número, brasileiros, africanos e asiáticos, sobretudo chineses. Deve haver intercâmbios culturais e não existe política que fomente isso. As festas tradicionais já deviam ter um dia destinado às tradições dos povos que temos cá. Temos de acolher estes imigrantes, porque também evita outro tipo de problemas sociais.Novo aeroporto seria fundamental para o desenvolvimento da regiãoO PS defende a inclusão do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL) no Plano Director Municipal (PDM) ao contrário da CDU. Não irá isso onerar a câmara no caso de futuras indemnizações? Em 2008 o Conselho de Ministros aprovou o NAL para o campo de tiro de Alcochete. Não há nada em contrário a essa decisão e tem de ser mantida. Não há outro investimento que possa desenvolver tanto a região a nível económico, turístico e de emprego. Eventuais indemnizações são da responsabilidade do Governo. Claro que não queremos que a câmara suporte essas possíveis indemnizações, no caso, maioritariamente à Portucale.De quem é a responsabilidade pelo sucessivo atraso da revisão do PDM? Há 14 anos que a câmara o elabora, com avanços e muitos recuos. Sendo o pelouro, neste momento, bipartido entre CDU e PSD, a culpa cai aí. O PS esteve no pelouro tripartido, que até correu bem até nos depararmos com irregularidades várias. Se ganharmos as legislativas e depois a câmara, se o processo não estiver resolvido vai ficar rapidamente. A câmara quis apostar no turismo de natureza. A política está correta e tem sido levada a cabo? Não se compreende que diga isso e depois inscreva zero euros no orçamento para esse capítulo. Depois da pressão do PS, inscreveu uma verba. Temos as nossas tradições ligadas à cultura tauromáquica, ao cavalo e ao campino, a uma forte componente económica alimentar e temos a possibilidade de fazer turismo de natureza como poucos podem. O que propomos é que a projecção destes eventos seja feita além-fronteiras. É preciso envolver os agentes de turismo para colocar Benavente na rota de Turismo. Ao fim de 30 anos fomos, pela primeira vez, à BTL. Isto é prova de que não têm sido capazes.A segurança é uma das preocupações na população do concelho. Há falta de meios? Como a resolver? A câmara, por concurso ou contratação de serviços, tem de recrutar uma empresa especializada que permita patrulhar, com a GNR, o concelho. Podemos iluminar melhor determinadas zonas identificadas. É preferível gastar mais dinheiro e ter segurança na população do que, semanalmente, abrirmos O MIRANTE e vermos notícias de mais uma desgraça.Há um sentimento de insegurança? Há. Tem havido homicídios, crime que não é organizado aqui, mas que vem organizado da área metropolitana de Lisboa e a câmara sabe disso. Vamos agir activando o Conselho Municipal de Segurança, accionando todos os meios de alerta. A reabilitação urbana é outra das bandeiras da CDU para o mandato. É uma área em que o PS tem sido extremamente crítico. Que soluções apresenta? O cuidado que foi tido na intervenção urbanística em Santo Estêvão para uma classe alta, não tem paralelo em Samora Correia, onde há uma classe média/média baixa. Samora está descaracterizada e é quase um depósito da área metropolitana de Lisboa. É fruto de uma política urbanística sem rigor ou qualidade. Tem havido crescimento para a periferia. Estamos à espera de um estudo de mobilidade que a câmara diz, há anos, que está quase. É preciso uma linha de crédito que permita investir na recuperação de edifícios que estão degradados, para que se possa devolver dinâmica às zonas antigas de Samora e Benavente.A nível pessoal tem-se preparado para exercer competências autárquicas. A presidência da câmara está os seus horizontes? Para quando? Se for para mudar algumas políticas erradas e que têm atrasado a projecção e desenvolvimento do concelho podem contar comigo, seja como presidente, vereador ou como estou agora.Mas para já? Não é um cenário que se tenha posto. Colocar-se-á após as presidenciais. Estou ligado a Benavente, mas também a Lisboa e não me restrinjo ao nível autárquico. O concelho de Benavente precisa de pessoas com capacidade de influência noutros locais, de um deputado, ministro ou secretário de Estado natural ou residente em Benavente.Ser funcionário da câmara e membro da oposição é complicado de gerir? Tem-lhe trazido dissabores? Foi uma decisão que demorou muitos anos a tomar. Recusei vários convites de todos os quadrantes políticos. Em determinada fase questionei-me sobre o que queria fazer: servir a população só como funcionário público, ou dar veia à minha intervenção de cidadão e integrar um partido político. Integrei aquele em que sempre votei. Não devo nada ao poder instituído. Devo, sim, à instituição câmara municipal.
Gosto de dizer que Samora Correia é uma mini Nova Iorque

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