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“Santarém foi vítima de algum marialvismo e falsa preocupação cultural”

“Santarém foi vítima de algum marialvismo e falsa preocupação cultural”

Emídio Almeida, veterinário e proprietário do Hospital Veterinário Tutivet

Rodeado de animais desde pequeno, Emídio Almeida sempre quis ser veterinário. Proprietário do Hospital Veterinário Tutivet, vive para o trabalho restando-lhe muito pouco tempo livre. Diz que gostava de conseguir criar um projecto pedagógico para idosos e crianças abandonados na quinta onde vive nos arredores de Santarém. Crítico, afirma que o futuro de Santarém foi hipotecado por algum marialvismo e falsa preocupação cultural da classe política.

Desde pequenino que sonhava ser veterinário. Moro numa quinta na zona das Fontainhas e em pequeno aparecia em casa com bichinhos que estavam doentes ou que já tinham morrido. Abrir uma coelha morta com crias e ver aquelas criaturas pequeninas foi uma das experiências que mais me marcou.Os meus dias são sempre imprevisíveis. Num hospital veterinário que está aberto 24 horas podemos receber urgências durante a madrugada e ter de começar uma operação a meio da noite sem sabermos a que horas vai acabar. É um horário bastante intenso.Acabei o curso no dia dos meus anos. No dia seguinte, estava a trabalhar numa cooperativa leiteira em Santarém onde estive durante oito ou nove anos, mas continuei sempre a fazer a minha agricultura. Depois, a cooperativa acabou por fechar e grande parte dos clientes tornaram-se meus clientes quando abri a primeira clínica.Quase morri com hepatite quando tinha 10 anos. Foi na sequência de uma ida à piscina. Adoeci eu e mais 40 crianças. A hepatite foi diagnosticada tarde, foi mal tratada e estive às portas da morte. Parte das memórias da minha vida até aí varreram-se naquela altura.Gostava de ter tempos livres. Esta vida que eu abracei é quase um sacerdócio. De facto não me consigo afastar da minha vida profissional, mas sempre que posso ocupo o tempo a passear no campo, a jogar à bola, a fazer desporto ou a brincar junto ao rio com o meu filho. Ele gosta de animais, mas não me parece que tenha a paixão que eu tinha.Se alguém da minha família tem um problema ele passa também a ser meu. Sou um cuidador. Gosto de cuidar dos animais e também das pessoas. Quanto tinha 18 anos, salvei uma família inteira durante aquelas cheias horrorosas de 1979. Os meus animais são fiéis e não me atraiçoam nem enganam. Acho que todas as pessoas têm muito de bom e de mau para mostrar, mas a verdade é que os animais por norma não nos surpreendem negativamente, enquanto que as pessoas nos desiludem muito. Isso torna os animais muito fiéis e mais expectáveis.Quando andava no liceu não me lembro de estudar. Assim que saía das aulas ia a correr para a quinta para trabalhar no campo e estar com os animais. Com 12 anos ia buscar as mulheres para irmos para a apanha da azeitona ou vindimar. Na hora de concorrer para a faculdade, coloquei Medicina Veterinária em todas as opções sem hesitar. Nunca mesmo pensei em seguir outra profissão que não esta. Acho que já nasci veterinário (risos).Quando viajo para algum lado é em trabalho. Estou constantemente a fazer novas formações e cursos. Tento sempre ir no último avião e voltar no primeiro. Tenho um jardim zoológico em casa. São duas cadelas de estimação, a Ema e a Petra, que normalmente estão no hospital, quatro cães, uma gata, uma papagaia que fala que se desunha, faço criação de bois belgas azuis, e por aí em diante (risos). Tenho o sonho de criar uma projecto para idosos e crianças abandonadas. Sonho desenvolver um projecto que é o “Avós e Netos” ou “Netos e Avós”. A minha ideia é criar uma quinta pedagógica onde os mais velhos possam, por exemplo, ensinar os mais novos a plantar uma alface. A minha quinta tem uma área muito grande com boas infra-estruturas que devidamente reestruturadas podem ser adaptadas a um lar para idosos e uma creche para crianças.Santarém foi muito acorrentada pela classe política. Sempre vivi em Santarém e gosto muito da cidade, mas acho que foi vítima de algum marialvismo e falsa preocupação cultural. Com a história de proteger o centro histórico, muita indústria fugiu para outros lados e hipotecou-se o futuro.  Mariana Apolónia
“Santarém foi vítima de algum marialvismo e falsa preocupação cultural”

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