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O trabalho é mais fácil quando se é honesto e sério no que se faz

O trabalho é mais fácil quando se é honesto e sério no que se faz

Pedro Cardoso Nunes tem 80 anos e diz que ainda não está cansado de trabalhar

Tem uma vida repleta de histórias de trabalho, desde os 14 anos quando começou a vender tabaco e jornais num quiosque de Lisboa até ser dono de uma empresa de transitários. Diz que parar é morrer e o seu maior sonho era ter tirado um curso de engenharia.

Quando se é sério e honesto no trabalho que se desenvolve os clientes recompensam e o trabalho empresarial torna-se mais fácil. A opinião é de Pedro Cardoso Nunes, um empresário de 80 anos que tem uma vida repleta de trabalhos em diferentes áreas, fundador da Intertráfego, empresa de transitários com sede em Aveiras de Cima, Azambuja.Nasceu em Lisboa mas está no concelho da Azambuja desde 1995. Fundou a empresa há 48 anos depois de vários anos a trabalhar por conta de outros. Não se arrepende da escolha, embora admita que ultimamente é mais difícil para os empresários sérios competirem num mercado cada vez mais desleal e onde impera a lei do salve-se quem puder. Ainda hoje, com 80 anos, é o primeiro a chegar à empresa e o último a sair. Já teve quatro enfartes e brinca com a situação dizendo que se um dia parar é que vai desta para melhor. “A minha médica até me diz para continuar a trabalhar”, conta a O MIRANTE com um sorriso.Pedro Nunes começou a trabalhar aos 14 anos depois da morte do seu pai. O seu primeiro emprego foi num quiosque no Largo de São Roque, no Bairro Alto em Lisboa, local conhecido na época por ser local de prostituição e de casas de alterne. “Comecei num quiosque a vender jornais, ginjas e tabaco. Cheguei a ganhar confiança com as raparigas dessas casas que lá iam comprar tabaco”, recorda.Aos 16 anos decidiu que precisava de ganhar mais dinheiro. Foi trabalhar com um tio que era motorista e tinha um camião. Foi a sua primeira aventura como transportador. “Ele andava sempre de um lado para o outro e precisava de alguém para o ajudar. Estive com ele até ser mobilizado para o Exército, onde assentei praça na Infantaria 1, na Amadora”, lembra. O gosto pelos transportes foi sempre uma constante na sua vida. Logo que saiu da tropa tirou a carta de condução de pesados e lançou-se na vida profissional de motorista entrando na antiga companhia de combustíveis Sacor. “Sempre estive ligado à área dos transportes. Fui para França durante quatro anos onde arranjei emprego como motorista de um empresário francês e depois regressei, onde voltei a trabalhar com outra pessoa neste ramo”, conta.Foi por essa altura que Pedro Nunes decidiu arriscar e criar o seu próprio negócio. Como não o deixaram registar a firma em Portugal, foi obrigado a criar a empresa - então chamada Portir - com sede num escritório do Luxemburgo que era pertença de um jovem advogado de nome Vale e Azevedo. “Digo a brincar que o Vale e Azevedo comigo portou-se bem, não tive motivo de queixa, registou a firma lá e eu pude ir trabalhar”, confessa.Naquele tempo os transportes davam dinheiro e Pedro viu a sua empresa crescer de forma sólida. Foram anos dourados que levaram à criação da Intertráfego, que ainda hoje é considerada uma das melhores empresas nacionais de transportes. Pedro Nunes ainda tem na sua vida profissional uma outra passagem pelo transporte de combustíveis, na petrolífera Shell, transportando os seus produtos da Bélgica, Holanda e França. “Não estou arrependido de ter sido empresário mas infelizmente hoje em dia parece que toda a gente virou transportador. Mesmo que faça um mau trabalho. Isso levou a que o mercado se complicasse, sobretudo desde que entraram os estrangeiros a fazer uma concorrência muito dura. Cá no país o negócio tem sido prejudicado também por gente que não sabe o que anda a fazer, que não faz contas aos custos e que arrisca a mercadoria. Levar 700 euros para ir a Barcelona não faz sentido”, critica.Pedro Cardoso Nunes confessa que nunca teve uma profissão de sonho porque sempre preferiu abraçar as oportunidades que a vida lhe concedeu. Mas, se pudesse, gostava de se ter formado em engenharia. “Foi uma pena terem acabado com as escolas profissionais e industriais. Qualquer dia precisamos de alguém para fazer uma reparação, arranjar alguma coisa ou fazer uma peça e ninguém sabe fazer. Toda a gente se preocupou com as licenciaturas, agora somos todos doutores e ninguém sabe fazer nada na prática”, lamenta.
O trabalho é mais fácil quando se é honesto e sério no que se faz

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