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Truculento Serafim das Neves

Disseram-me que foi inaugurado um museu ferroviário no Entroncamento. Se te disserem o mesmo, não ligues. O museu ferroviário já foi inaugurado há uns sete ou oito anos, digo-te eu que sou teu amigo e que até já visitei o museu mais que uma vez. O que foi inaugurado foi o Museu do Coches mas foi em Lisboa e até deu na televisão e tudo. É certo que esta coisa de museus se presta a confusões e que os caminhos de ferro chamavam cocheiras aos lugares onde guardavam comboios mas os coches eram puxados por cavalos e mulas e as locomotivas não. Eu até fui ao facebook de um amigo nosso do Entroncamento para verificar se tinha havido a tal inauguração mas a única coisa que encontrei foram umas fotos tiradas nas traseiras da estação, com uns comboios velhos e uns políticos que também já não são novos e o grupo coral dos sindicatos a actuar nas escadas da ponte pedonal. Chamar àquilo inauguração de um museu ferroviário é tentativa de iludir o povo. É sempre possível inaugurar um museu à socapa e muito mais possível isso se torna numa terra de fenómenos mas caramba, se tivesse havido alguma infracção dessas, a coisa aparecia nos relatórios da PSP, não é verdade? A câmara de Abrantes castigou com vinte dias de suspensão um Técnico Superior que meteu baixa para fazer de Herodes numa representação do musical Jesus Cristo Superstar. Percebe-se que, perante uma fraude a entidade patronal actue. O que não se percebe é porque só actuou à centésima quadragésima quinta interpretação ou coisa que o valha. O actor fez uma temporada em Lisboa na companhia do Lá Féria, a fazer de sacerdote no mesmo musical e nem um simples puxão de orelhas lhe deram e assim que abre as goelas para cantar a parte do Herodes no Centro Cultural de Carregal do Sol, pimba...é logo castigado com uma carrada de dias de suspensão? Então onde está a luta contra a desertificação do interior e contra a centralização de tudo em Lisboa?! Ora gaita!!Quero aqui realçar o estoicismo dos ribatejanos amantes da festa brava. Não há marrada de toiro que os páre. Cabeças partidas, pernas perfuradas, braços escavacados não são coisas que preocupem ninguém. Defender as tradições é duro mas os bravos aficionados não recuam. Mordem o pó, sangram, andam engessados durante meses mas voltam sempre, mesmo sem baço ou de pulmão esburacado. É bonito ver uma tal dedicação e daqui apelo ao Presidente da República para que se lembre destes mártires quando fizer a lista dos que vão ser condecorados no 10 de Junho. Se eles não merecem a Torres e Espada quem é que a merece?!!Depois dizem que o povo anda afastado da política e dos políticos. Pudera!!!O vandalismo está em alta. Os autarcas lamentam. As autoridades pouco conseguem fazer para travar as hordas que atacam onde menos se espera. Li no compêndio de história que a Península, em tempos que já lá vão, foi invadida por vândalos, alanos, suevos e outros que tais e que árabes e romanos, que também por aqui passaram, não eram bons de assoar. Serão estes actos destrutivos resultado de algum chamamento do sangue? Do fervilhar do ADN? Da comichão interior provocada pela brutalidade histórica? A mim às vezes também me apetece uivar, levar tudo à frente ao pontapé, entrar em certos departamentos do Estado opressor e mijar tudo. Estarei na altura da andropausa visigótica? Claro que há sempre o Xanax para me manter civilizado mas será que toda a gente tem dinheiro para o Xanax? E será que todos são tão disciplinados como eu a tomar medicamentos?Uma investigadora da Universidade do Minho descobriu que mais de metade dos utentes dos centros de saúde não tomam os medicamentos que os médicos receitam. A minha dúvida é a seguinte: se não aviam as receitas porque andam a fazer manifestações e abaixo-assinados para terem médicos de família?Saudações aspirínicasManuel Serra d’Aire

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