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Adolescentes

Um eminente antropólogo, filósofo, etc, catalão, monge em Montserrat, de que não gostei particularmente, disse em Lisboa que “somos uma sociedade de adolescentes”. A tendência é sermos adolescentes dos 12 anos até ao fim da vida. Nesta, pelo menos, o homem tem razão. Na verdade, andamos todos imbuídos de um verdadeiro espírito adolescente que se desresponsabiliza de quase tudo, como é próprio e aceitável nesta fase da vida, mas que pode ter consequências menos interessantes quando se generaliza por todas as idades e por todos, ou pelo menos, pela maioria.Os resultados estão à vista e são inquestionáveis. A desfaçatez geral chega à hipocrisia de nos admirarmos do que aconteceu em Salvaterra de Magos ou em Guimarães. Com todos os ingredientes existentes, poderia ter sido diferente? A família demitiu-se, há muito que os pais não têm tempo para os filhos e que os casais têm vidas separadas. Muito para além da exigência profissional há um conjunto de mitos sociais, desde a cultura do ginásio a outras atividades ditas terapêuticas, sempre pela saúde, que nos afastam do essencial. A escola deixou de ter autoridade. O professor perdeu o seu estatuto, é desrespeitado, e os que o são por nobre vocação não serão a maioria. Qualquer jovem diz palavrões e os impropérios que lhe dá na gana em qualquer lugar, à frente de qualquer pessoa. A igreja é o que é.É urgente formular duas perguntas: no actual contexto, pode o resultado ser diferente? O que fazer para mudar? A resposta à primeira questão é, para nós, óbvia e natural: uma sociedade marcadamente adolescente não pode ter melhores resultados. Mais complicado e muito mais difícil é não só identificar o que mudar, mas sobretudo, como implementar essas ações. Assumo, mais uma vez, a minha obsessão pela dimensão local da vida das comunidades. A tal dimensão da identidade cultural dos lugares que lhes confere sustentabilidade e resiliência. Não vejo outra forma de contrariar a industrialização do tempo e do espaço que conduzem à aceleração da vida quotidiana, que por sua vez nos afasta dos valores essenciais, designadamente da “lei da consciência”. Sem afectos não há forma de ultrapassarmos os enormes problemas transversais à maioria das comunidades. É por demais evidente, e não é preciso ser especialista de coisa nenhuma, que é nas comunidades locais, designadamente onde ainda faz sentido o termo vizinho, que as condições de vida sã têm maior probabilidade de se manifestarem. Se tivesse alguma dúvida quanto ao que aqui escrevo, bastava olhar com olhos de ver para o exemplo da minha própria família: é nos meios mais pequenos que há mais consistência social no melhor dos seus sentidos. E, já agora, suspeito que é aí, nesses locais, que as pessoas são mais felizes, embora muitas delas possam não o saber. Carlos A. Cupeto

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