Diletante Serafim das Neves
Hoje aprendi uma nova palavra. Foi com o Pacheco Pereira, nosso vizinho da Marmeleira, Rio Maior. Trata-se de uma palavra não utilizável em mensagens de telemóvel mas que já foi usada por poetas e escritores como nós, há muitos anos atrás. Tresvaliar. Pimba! Assim que a escrevi o corrector ortográfico sublinhou-a logo a vermelho para me informar que dei um erro. O problema é do corrector, não é meu. Que culpa tenho eu que ele nunca tenha ouvido falar de Sá de Miranda ou de Camilo Castelo Branco...espero que a revisor automático não mude este último nome para camelo de Castelo Branco, que também os há. Explica o mestre Pacheco que tresvaliar é o equivalente a estar-se a passar. Eu acredito e também me tresvalio quando leio certas notícias.Foros de Benfica é cenário de uma guerra de mestres de obras por causa de umas estradas que abateram depois de terem sido alcatroadas, já lá vão cinco anos. Para o empreiteiro a culpa é da câmara que quis alcatroar antes das terras estarem bem compactadas. Claro que para a câmara a culpa é do empreiteiro que não sabe alcatroar em terra mole como os alcatroadores que trabalham em estradas na Arábia Saudita ou em outros países moles. Eu só posso acrescentar que quem passa nas estradas com aqueles abatimentos todos deve estar a tresvaliar não tarda nada.Em Tomar, nos serviços de saúde pública, as Juntas Médicas são feitas na rua. É uma grande inovação em matéria de contacto com o ar livre e a natureza urbana. Um dia destes foi lá um senhor em cadeira de rodas e ficou encantado. Até lhe foi permitido urinar na rua, coisa que ele já não fazia desde que era um miúdo traquinas que fazia concursos com os amigos a ver quem conseguia mandar um esguicho mais alto contra a parede das traseiras da escola.O que se passa em Tomar deve resultar do Decreto-Lei nº 81/2009 sobre a reestruturação dos serviços operativos de saúde pública a nível regional que teve como objectivo e agora vou citar, para não me enganar: “(...) responder à necessidade de reforçar a capacidade de actuação dos serviços, de modo a que a sua intervenção seja mais adaptada a uma realidade que deixou de conhecer fronteiras, mais eficiente no consumo de recursos que são sistematicamente escassos e norteada por critérios de qualidade que permitam satisfazer as necessidades de uma população mais informada e exigente.”. A parte final do douto diploma legal (estou a tresvaliar outra vez, como já deves ter percebido) relativa a “satisfazer as necessidades da população”, parece-me a mais ajustada ao que se passou. No entanto quero realçar que, ao contrário do Cristiano Ronaldo que também andou a urinar ao ar livre como qualquer bom macho que se preze, o cidadão a que me refiro, não apareceu nas capas dos grandes jornais nacionais nem das revistas da especialidade. Afinal Tomar não é Saint Tropez e Portugal não é a França.Continuando em Tomar chamo a tua atenção para o dilema que por ali se vive. A cidade balança entre ser capital Templária ou capital do Lego. Se é bem verdade que por ali andou Gualdim Pais e outros mata-mouros que exerciam a actividade em nome de Deus, também é verdade que os eventos que metem a Lego vieram catapultar a cidade para a modernidade de uma forma bastante eficaz. Eu por exemplo já não consigo imaginar a presidente da câmara, Anabela Freitas, e o seu chefe de gabinete e seu companheiro, sem ser em peças de Lego coloridas. E entre o Casalinho Lego e o segredo da estátua, que tanto nos diverte quando o revelamos aos amigos, fazendo-os andar à roda da estátua até o guarda-punho da espada se assemelhar, pela sua localização e forma, ao pénis do fundador da cidade, eu sinto-me inclinado a actualizar a imagem do burgo, dando-lhe um ar, digamos...mais infanto-juvenil.Saudações tresvaliantes Manuel Serra d’Aire
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