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“Sociedade ainda não é inclusiva para as pessoas com deficiência”

“Sociedade ainda não é inclusiva para as pessoas com deficiência”

Helena Carona é presidente da Associação de Apoio aos Deficientes com Paralisia Cerebral de Santarém

A formadora de informática explica que se dedicou a esta causa pela filha. Admite que se ela fosse “saudável” talvez não estive-se desperta para esta situação.

Helena Carona é formadora profissional de informática e há cerca de um ano que concilia a sua profissão com a presidência da Associação de Apoio aos Deficientes com Paralisia Cerebral Maria do Carmo Silva Melancia (AADPCMCSM) de Santarém. Helena Carona é mãe de Carolina, uma menina de nove anos que nasceu com paralisia cerebral. Foi a condição da filha que despertou a formadora para esta área. “Eu e um grupo de pais, com filhos com paralisia cerebral, percebemos que Santarém não tinha as respostas necessárias para os nossos filhos, soubemos que existia uma associação que não tinha actividade e decidimos avançar”, conta a O MIRANTE.A associação existe desde 2000 mas estava parada devido ao facto dos sócios terem todos “alguma idade”. Este grupo de pais começou a dar-lhe nova vida em Março do ano passado. “A parte burocrática já estava toda tratada. Contactamos o advogado da associação que apenas ficou triste porque aparecemos um bocadinho depois do senhor Melancia ter morrido. A associação tem o nome da esposa do senhor Melancia, que tem uma filha com paralisia cerebral, que se encontra actualmente numa instituição em Lisboa”, explica.Os novos sócios, cerca de seis dezenas, pretendem preparar a comunidade para receber pessoas com deficiência. Consideram que a sociedade ainda não é inclusiva mas querem que isso venha a acontecer no futuro. Helena Carona considera que as pessoas são abertas às pessoas com deficiência. O problema são as estruturas que ainda não estão preparadas para a inclusão. “É normal que as empresas não recebam pessoas com deficiência porque não sabem como lidar com elas. Se os empresários e os seus funcionários tiverem formação específica, com facilidade vão dar emprego a pessoas com deficiência. É um processo que ainda vai demorar uns anos mas, felizmente, tem havido alguma evolução”, sublinha.A filha de Helena frequenta a sala de multideficiência, do ensino básico regular, da Escola dos Leões, em Santarém. Além disso, costuma andar de transportes públicos e avião com a mãe e vai ao cinema. Helena Carona garante que a filha se porta “lindamente” porque está habituada a este convívio. “Se eles se habituarem desde bebés a terem todo o tipo de estímulos é muito positivo. A Carolina é fabulosa socialmente. Não fala, não anda, comunica apenas com o olhar mas porta-se muito bem porque está habituada desde sempre a estar com outras pessoas”, explica a mãe, acrescentando que não quer colocar a filha numa instituição para deficientes. Helena Carona explica que existem espaços para pessoas com deficiência mas tem que existir o direito de escolher onde os pais querem que eles fiquem. A formadora de informática explica que se dedicou a esta causa pela filha. Admite que se ela fosse “saudável” talvez não estivesse desperta para esta situação. Quando teve conhecimento da condição da filha não se vitimizou nem baixou os braços. Foi à procura de soluções para a filha e é isso que tem feito desde que está à frente da associação.Helena considera que também os médicos devem ter formação “específica” sobre como dar notícias aos pais que têm filhos portadores de deficiência. “A maneira como me disseram que a minha filha tem paralisia cerebral é tudo aquilo que não deve ser feito. Após o nascimento da Carolina fizeram-lhe vários exames e no final eu perguntei se estava tudo bem. A médica virou-se para mim e disse-me: ‘Depois de tantos exames feitos acha que a sua filha é normal?’. Isto não é maneira de se dar uma notícia”, critica.A associação participou recentemente no projecto “Tenho Voz” da SIC Esperança e do Lidl e foi um dos 54 projectos seleccionados dos 700 que participaram a nível nacional. As crianças do concelho de Santarém, até aos 18 anos, que têm dificuldade de comunicação vão ter acesso a todo o tipo de material, hardware e software, de modo a poderem comunicar. Também criaram uma parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em que, com regularidade, vão trazer uma equipa a Santarém para fazerem a avaliação das pessoas com deficiência e prescrever ajudas técnicas que possam ter. Esta parceria evita que as pessoas tenham que se deslocar a Lisboa como acontecia”.
“Sociedade ainda não é inclusiva para as pessoas com deficiência”

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