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O novo, o velho e o assim-assim....

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A polémica sobre o novo Acordo Ortográfico já foi considerada como “a mais ridícula polémica que assola o espaço público” por alguém que não deve conhecer muitas polémicas que assolam o espaço público. Mas não é por causa desse tipo de classificações mais ou menos ridículas, digamos assim, que a polémica deixa de existir.Uma das mais recentes iniciativas dos que se opõem ao novo Acordo Ortográfico é a recolha de assinaturas para que seja feito um referendo sobre o assunto. Eu assinei. Já que me impuseram acordos sobre a regionalização e o aborto, porque não um referendo sobre o novo Acordo Ortográfico? Não acredito muito que o referendo seja feito porque Portugal não é a Grécia, país onde, pelo que tenho lido, se faz um referendo de um dia para o outro, mas tenho pena que assim seja. Sempre queria ver se, desta vez, a abstenção conseguia chegar aos 80 por cento. Eu por mim vou continuar a escrever como sempre escrevi. Depois de tantos anos e anos de palmatoadas e puxões de orelhas durante a escola primária e da leitura de centenas e centenas de livros, jornais, diários da República, bulas de medicamentos, instruções para preenchimento de declarações de impostos e outras cangalhadas, não me sinto capaz de qualquer mudança. Vou dar erros mas não deve ser grave, até porque raramente escrevo à mão e no computador o corrector consegue emendar-me a maior parte deles. Mas, por muitos erros que vier a dar, nada se comparará com os erros que leio diariamente um pouco por todo o lado, a começar pelos erros que transformam aquelas legendas dos rodapés dos telejornais em complementos humorísticos de certas notícias, já de si divertidas, relacionadas com algumas querelas políticas. É certo que alguns pais e avós aplicados vão deixar de poder ajudar os filhos nos trabalhos de casa da disciplina de português porque não percebem, nem querem perceber, as novas regras. Mas antes da aplicação do Acordo Ortográfico muitos deles também experimentavam sentimentos de frustração e impotência perante a incapacidade de alguns infantes em matéria de ortografia.Quando li, pela primeira vez, um livro do José Saramago, só me apercebi que aquilo não tinha vírgulas nem pontos finais no dia em que um amigo me perguntou, já eu tinha lido muito mais de metade da obra, se a falta de pontuação não me estava a atrapalhar a leitura. Entusiasmado como estava com as peripécias de Baltazar e Blimunda do Memorial do Convento nem tinha reparado naquele...pormenor, confesso. E o mesmo me acontece agora quando leio bons textos e bons livros escritos segundo o novo Acordo Ortográfico ou editados com a nova grafia, uma vez que muitos deles, como os clássicos, por exemplo, foram escritos numa altura em que farmácia, por exemplo, se escrevia com Ph.Já agora, e a propósito, leia lá o parágrafo que se segue e depois diga se está escrito segundo o novo ou o velho Acordo Ortográfico. “Sguedno um etsduo da Uinvesriadde de Cmabgirde, a oderm das lertas nas pavralas não tem ipmortnacia qsuae nnhuema. O que ipmrtoa é que a prmiiera e a utlima lreta etsajem no lcoal cetro. De rseto, pdoe ler tduo sem gardnes dfiilcuddaes... Itso é prouqe o crebéro lê as pavralas cmoo um tdoo e nao lreta por lerta.”Rui Ricardo 

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