Campeão nacional de contra-relógio é também um craque na humildade
José Neves é conhecido pela disponibilidade em ajudar os colegas durante as provas
O jovem ciclista do Couço sagrou-se em Junho campeão nacional de contra-relógio no escalão de sub-23, no mesmo dia em que terminou o 12º ano.
José Neves Fernandes, 19 anos, natural de Évora mas desde sempre morador no Couço, concelho de Coruche, é o novo campeão nacional de contra-relógio, no escalão de sub-23. O ciclista da equipa Anicolor-Mortágua conseguiu a proeza em Braga, numa prova de 27 quilómetros, feitos em 33 minutos e 59 segundos, terminando com mais de um minuto de vantagem sobre o segundo classificado.“Era um contra-relógio a meu gosto. Fui o último a partir e passei o que partiu à minha frente e ainda outro que partiu 4 minutos à minha frente. Na primeira volta já estava a ganhar tempo aos outros. Na parte final, o chefe disse que a 300 metros da meta havia uma curva e para eu ir devagar que já estava ganho. Fiquei muito contente. É um orgulho vestir a camisola de campeão nacional. É o reconhecimento do trabalho feito ao longo da época e dos sacrifícios que fiz na pré-época, como treinar à chuva, treinar à noite, chegar a casa por vezes às 23h00”, contou o jovem a O MIRANTE.Mas essa não foi a única emoção do dia. No mesmo dia em que vestiu a camisola de campeão nacional em Braga, viajou para Coruche, onde terminou o 12º ano com a apresentação do Plano de Aptidão Profissional. No dia seguinte já estava novamente em Braga para participar na corrida de fundo dos nacionais. José Neves tirou o curso profissional de Técnico de Recursos Florestais e Ambientais mas não pensa seguir com os estudos, pois quer dedicar-se por inteiro ao ciclismo. “Se continuasse com os estudos tirava um Curso de Especialização Tecnológica para ver se conseguia entrar na universidade e, se entrasse, ia para a área de desporto”, explica.Admirador de Rui Costa, o ciclista português em maior evidência no panorama actual do ciclismo internacional, José Neves sonha seguir-lhe os passos e ir para uma equipa estrangeira e participar numa das três grandes voltas, de preferência a Volta a França. “Penso que posso lá chegar, com dedicação, trabalho e esforço mas ainda tenho de evoluir um pouco, principalmente a descer”, diz, aproveitando para contar que há 2 meses foi atropelado numa descida e que ainda não superou o trauma.Entregou de bandeja a vitória a um colegaJosé Neves começou a pedalar muito novo, tendo ganho a paixão das bicicletas por influência do pai, Joaquim Fernandes, que chegou a ser treinado por Joaquim Agostinho nos juniores do Sporting. Com apenas sete anos, José embarcou na sua primeira grande aventura, fazendo um passeio de quase 40 quilómetros até Coruche. Aos 14, começou a competir no BTT mas no segundo ano de juniores optou por trocar o todo-o-terreno pelo ciclismo de estrada. Foi nesse mesmo ano que se tornou conhecido por ter entregue de bandeja a vitória numa prova a um colega de equipa do Clube de Ciclismo José Maria Nicolau.“Aconteceu no Turcifal (Torres Vedras). Saltei logo na primeira volta e fiz o circuito todo em fuga. Quando faltavam duas voltas, o treinador disse para eu baixar o ritmo e esperar pelo Paulinho, que o Paulinho ainda não tinha ganho nada e ele queria que a equipa toda ganhasse. Eu esperei por ele e dei-lhe a vitória. Fiz segundo”, conta o jovem, justificando a disponibilidade para ajudar um colega com o facto de na altura serem todos “uma família e muito unidos”.Alguns anos se passaram mas a intenção de ajudar os colegas mantém-se. É isso que tem planeado para a Volta a Portugal do Futuro, que começa esta quinta-feira, 16 de Julho, e termina no domingo, 19. “Sei que não é uma volta ao meu jeito porque é muito a subir e eu não estou nas melhores condições. Tenho colegas de equipa que estão melhores do que eu e, por isso, vou tentar ajudá-los ao máximo e dar o melhor em prol da equipa”, afirma, provando que o título nacional não lhe subiu à cabeça.
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