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Fonfonfónico Serafim das Neves

Soube esta semana que, num inquérito feito em 15 das mais de 600 escolas secundárias do país, cerca de 10 por cento dos alunos declararam nunca terem lido um livro até ao fim. Primeiro quero dar os parabéns aos doutos investigadores pela trabalheira que tiveram. Alargar o inquérito a tantas escolas deve tê-los deixado de rastos e não havia necessidade. Como se sabe bastava fazer a coisa numa ou duas escolas para que os resultados fossem validados pela comunidade de jornalistas das secções de divulgação científica dos jornais que, como se sabe, já tem no seu currículo a validação de trinta e sete curas para o cancro e vinte e três curas para a Sida, por exemplo.O que me espantou não foram os resultados mas eles serem vistos como algo negativo, em vez de serem celebrados com champanhe e tudo o mais que se usa em momentos de festa. Qual é o país do mundo em que oitenta por cento dos estudantes do secundário já leu um livro de cabo a rabo. Eu não conheço, e tu?Quando eu andava no secundário não havia ninguém que tivesse lido um livro até ao fim e seriam raros os que tivessem sequer olhado para um livro. O meu pai costumava dissertar sobre essa realidade enquanto me dava umas chapadas para ver se me despertava o gosto pela leitura...dos livros de estudo. É claro que para ele, o facto de eu ler carradas de livros do Tio Patinhas, do Major Alvega ou do Kit Carson, do princípio ao fim, não contava, porque tinham poucas letras e muitos bonecos.Agora esta rapaziada nova dá cabo da vista a ler e ainda é criticada por analistas e jornalistas. Uma injustiça. Olha para o professor Marcelo, por exemplo, e diz-me se ele alguma vez leu até ao fim um daqueles muitos livros que recomenda todas as semanas na televisão. Claro que não. Basta ouvi-lo falar sobre eles. Sei que é uma falha enorme em termos culturais um jovem não ter pachorra para ler até ao fim, “A vida que eu escolhi” do Tony Carreira ou “Jardel - Os meus segredos”, ou mesmo “Os segredos da Casa” da autoria da Marta, concorrente daquele Big Brother em que o investigador Marco deu um pontapé nas mamas de uma companheira de reclusão para ver se eram postiças e o Zé Maria criou uma nova escola filosófica com base nos seus monólogos com galinhas, mas, caramba, todos nós temos algumas lacunas formativas. Eu próprio confesso que nunca li até ao fim “Cabo Verde Terra d’ Sodad” do doutor António Rodrigues, de Torres Novas. Se bem me lembro nunca passei do título.Os vereadores da oposição na Câmara de Ourém abandonaram a reunião do executivo alegando estarem muito ofendidos por a vereadora do PS, Lucília Vieira, ter escrito à Assembleia Municipal sem lhes dar conhecimento antecipado. Assim que li a notícia só me deu vontade de lhes telefonar a felicitá-los. Haja coragem para defender as tradições marialvas. Como é que uma mulher se atreve a dar ao dedo sem consultar os homens? É um desaforo. A sorte dela foi já não estar na sala quando se deu a indignação porque ainda era apedrejada, mesmo que em vez de pedras fossem usados processos de obras, por exemplo.Antes de saírem, os ofendidos ainda chamaram cobarde e mentirosa à vereadora o que eu também aplaudo porque, falando ainda em pedras, não foi colocada nenhuma sobre o assunto. E nós sabemos a importância que têm para a boa gestão autárquica estes confrontos ideológicos, numa altura em que a política precisa de recuperar alguma credibilidade.Saudações arejadasManuel Serra d’Aire

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