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Madalena Toscano

39 anos, designer de moda, Aveiras de Cima
A poucas semanas de lançar uma nova colecção da sua autoria consegue dormir bem?Não acordo a pensar nisso. Esta colecção saiu-me numa manhã. As minhas peças são feitas assim, quando não estou para ninguém, fecho-me no atelier, descalço os sapatos, meto a minha música favorita e começam a voar tecidos. Depois chamo o pessoal e pergunto se gostam. Esta linha foi pegar nos lápis e começar a desenhar. Já pensou em sair de Aveiras de Cima?Adoro a minha terra, não me peçam para sair de cá. Já morei em Santarém e implorei ao meu marido para voltar para Aveiras. É um sítio excelente para viver. É uma terra que pode oferecer bom vinho e que tem pessoas extraordinárias. É uma terra com gente carinhosa, meiga, que sabe receber as pessoas de fora. Quando trago aqui pessoas de outros concelhos elas ficam apaixonadas por Aveiras. Vai votar nas próximas eleições?Vou. Devia ser obrigatório votar. Ainda acredito em alguns políticos.O melhor das férias é...Ir à praia, andar de mota, curtir o filhote e curtir o marido. As férias são tão curtinhas que temos de aproveitar ao máximo cada momento. Lá em casa vamos tirando um fim-de-semana de cada vez, depois outro, onde aproveitamos para viajar, quando há tempo. Nunca consigo desligar-me a cem por cento do trabalho. Levo as minhas tralhas comigo. Se lhe oferecessem uma travessa cheia de caracóis comia?Todos, até ao último! Acompanhado por umas imperiais. Adoro petiscos, sobretudo com boa companhia. O meu filho, que tem quatro anos, também adora caracóis, nós os dois comemo-los à disputa. Acredito que o futuro vai ser bom para esta nova geração, mas quero deixá-lo crescer, ser criança, deixá-lo viver cada momento da forma como tem de viver, sem criar expectativas elevadas.O pronto-a-vestir matou as criações de autor?Continua a haver mercado para as duas coisas. Há pessoas para tudo. Há pessoas que adoram as lojas de chineses, por exemplo, e nisso sou completamente contra. Não vou, recuso-me a ir, só em último recurso. Há os clientes de pronto a vestir normal e outros clientes que tenho já com 12 anos. Numa ocasião especial vêm sempre aqui. Tem clientes fiéis?Tenho clientes onde todo o guarda-roupa é feito aqui. Pessoas que não têm tempo nem paciência para ir a lojas. Não concordo com essa ideia do comprar, usar e deitar fora. Há coisas que temos de ter com qualidade. Um sapato tem de ser de qualidade, tal como um casaco ou uma calça. A parte de cima já pode ser mais barata mas há coisas que têm de ser de qualidade.Sente-se mais atraída por um homem bem-vestido?Tem mais a ver com a forma como me abordam. O vestido transforma-se. É verdade que a roupa faz a pessoa mas sobretudo ligo mais à forma como conversam, que conversas têm e os piropos que mandam. Tudo tem a ver com isso. O meu marido faz-me várias surpresas.Vai a uma sala de teatro onde está tudo em silêncio menos alguém a tossir a todo o momento. O que faz?Dava-lhe delicadamente um rebuçado para a tosse. Era uma mensagem discreta para o mandar ir à rua.Não haver comboios em Aveiras de Cima é vantagem ou problema?É claramente uma vantagem. Gosto muito de Azambuja mas passou a ser um dormitório, precisamente por causa da linha de comboio. As pessoas saem de Lisboa e vão dormir a Azambuja. Se Aveiras tivesse comboio ia acontecer a mesma coisa. Aqui temos autocarros em abundância para Azambuja. Isso dá-nos uma terra mais calma e mais pacata. Quando conduz tem mais medo dos outros ou de si própria?Dos outros, porque sou bastante consciente a conduzir. Nunca faço abusos, vou à velocidade que acho que devo ir mas tenho sempre os meus olhos em redor, nunca se sabe o que pode acontecer.Se um velhote cair na rua vai a correr ajudá-lo?Às vezes caem aqui velhotes em frente à farmácia e nós saímos disparados para ajudar. Na cidade talvez isso não aconteça porque as pessoas vivem muito o mundo delas, tudo o que está à volta passa ao lado. Mas aqui nas terras mais pequenas há outra proximidade, isso faz a diferença. Em Santarém, por exemplo, as pessoas nem diziam bom dia quando se cruzavam no prédio, isso faz-me confusão. A crise obrigou a cortar em muita coisa?Tivemos de abdicar de algumas coisas mas abdica-se em tudo menos na comida. Quando se fala em ir ao cinema, concertos, festivais, aquelas coisas que gostamos de fazer e ir com amigos, pensamos no que é prioritário. Aceitava fazer um fato para o actual primeiro-ministro?Fazia mas dizia-lhe para sair de lá (risos). Já o presidente da Câmara de Azambuja, Luís de Sousa, adoro, gosto muito dele, é uma pessoa muito humana e ajuda imenso os que precisam. Ele é uma pessoa que abordamos na rua e tem sempre tempo para ouvir e perceber as necessidades das pessoas.

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