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“A sala de aula é a minha terapia”

Noémia Martins é a professora mais experiente do Agrupamento de Escolas de Azambuja

Foi um dos 170 docentes recebidos pela câmara municipal em vésperas de se iniciar um novo ano lectivo. Confessa que continua a ter prazer em dar aulas, mas reconhece que há muito a corrigir no sistema educativo.

Noémia Martins, 62 anos, arranca este mês para o seu 28º ano a leccionar português na Escola Secundária de Azambuja. É a professora mais experiente de todo o agrupamento do concelho e já ensinou várias gerações de alunos, o que a torna mais habilitada para perceber que diferenças há entre o hoje e o ontem. A professora confessa que os tempos são difíceis, mas não se consegue imaginar longe de uma sala de aula.“A educação é a minha grande paixão. Neste momento vejo-a com alguma apreensão, não porque os miúdos não sejam interessados, mas muitas vezes as políticas não são as mais correctas. Noto maior desinteresse e desmotivação, maior dispersão. No entanto, sou optimista e acredito que conseguimos todos dar a volta. É por isso que, aos 62 anos, ainda não me reformei”, afirmou.Noémia foi um dos 170 professores que a câmara municipal recebeu e homenageou no início de mais um ano lectivo. Uma mega reunião, no Convento das Virtudes, em Aveiras de Baixo, que serviu para dar as boas vindas a todos e, ao mesmo tempo, dar a conhecer a forma de funcionamento da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ), que trabalha com o agrupamento.A leccionar desde 1988, Noémia não tem dúvida em eleger os alunos como a grande prioridade, mas não deixa de confessar que lhe dá imenso prazer estar numa sala de aula.“Já tenho filhos de ex-alunos meus que são agora meus alunos. Dá prazer a forma como sou acarinhada pelos pais, é muito estimulante. Quando me reformar vou sofrer imenso por deixar a sala de aula. Por vezes estou em baixo, com problemas pessoais, chego lá e tudo passa. É a minha terapia, apesar de ser uma actividade extenuante. Estou sempre disposta a ajudar. Já há alguns colegas que me pedem conselhos, nomeadamente os mais novos que chegam à escola, porque apesar de estarem preparados, o dia a dia coloca questões novas”, explica.Por vezes, a frustração aparece, “quando o feedback não é o que queria por parte dos alunos”, mas com o optimismo que a caracteriza acaba por conseguir ultrapassar todos os obstáculos. “Tenho um carinho muito especial por todo o pessoal, docente e não docente. A minha prioridade é os miúdos. Acredito sempre que todos vão conseguir, estou sempre a dar a mão e a puxá-los para a frente”, confessa.Noémia teve, até ao ano passado, turmas de adultos em horário pós-laboral, o que lhe deu outro tipo de desafio, mas encontra maior estímulo nos mais novos. Azambuja, apesar de ser um concelho onde os problemas económicos e sociais se fazem sentir, não apresenta grandes dificuldades no ambiente escolar, garante a professora. No entanto, o respeito é algo que diz estar a passar um pouco ao lado desta nova geração. “Há falta de autoridade dos professores, que a sociedade retirou. Por vezes tenho problemas com os alunos, mas acabamos por resolver tudo, cada um de nós no seu lugar da sala de aula”, refere.E não há melhor forma de o sentir do que o agradecimento de ex-alunos com que se cruza diariamente nas ruas de Azambuja. “Às vezes é o beijinho, perguntarem como estou, se não me lembro deles”, conclui.

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