A única mulher a comandar um destacamento da GNR na região
Capitão Irina Pinto está a comandar desde Julho o destacamento de Torres Novas que abrange cinco concelhos
Irina Pinto é a única mulher comandante de destacamento na área do comando territorial de Santarém da GNR que abrange todo o distrito. Tem sob o seu comando cinco postos da Guarda com 122 militares. Só nove são mulheres. Natural de Torres Novas mas onde não viveu até agora, quando pediu para ir para a terra dos pais, a capitão diz que esta é uma boa zona onde não há os índices de criminalidade de outros locais do país. Considera-se comandante de um destacamento calmo.
Quando era pequena brincava aos polícias e ladrões? Não. Tinha as brincadeiras normais de qualquer criança. Ingressar na GNR não era um sonho que tinha desde pequena. Surgiu quando comecei a ter de fazer escolhas profissionais e antes de entrar para a GNR fui militar do Exército. Foi por gostar ou por uma questão de estabilidade em termos de emprego? Tinha uma média do ensino secundária elevada e podia entrar em vários cursos. Mas tinha a ideia de entrar para a Academia Militar e consegui. Foi fácil a adaptação à vida militar? Senti-me sempre muito bem recebida, tanto no Exército como na GNR. Certamente as primeiras mulheres tiveram mais dificuldades. A adaptação foi bastante boa.Sentiu-se deslocada por estar numa instituição muito dominada pelos homens? Tinha amigos rapazes desde pequena e até jogava à bola com eles. Em pequena era um pouco maria rapaz e não estranhei. Mas não era daquelas crianças que já sabiam o que queriam ser quando fossem grandes. Como é que a família encarou a sua entrada na vida militar e depois na GNR? Encararam bastante bem. Para os meus pais sou o orgulho. São muito orgulhosos do que faço mas também têm alguma apreensão porque é uma profissão de risco. Se vêem alguma notícia telefonam-me logo para saberem se estou bem.Lembra-se do primeiro dia que entrou na escola. Antes de entrar na primária (primeiro ciclo) frequentei o jardim-de-infância e gostava muito de fazer as actividades. Sempre tive boas notas mas não precisava estudar muito para ter bons resultados. Na primária estive para passar da segunda para a quarta classe directamente mas depois não deu porque mudei de residência. Gostava muito de aprender… Gostava muito de livros, não gostava de bonecas. Quando era pequena gostava muito de brincar com carros. Nunca tive Barbies (risos). Que área gostava mais quando estudou? Tenho especial apetência pelas artes. Gosto muito de pintar. Normalmente a minha preferência é pintar paisagens, a óleo, mas pinto um pouco de tudo quando tenho tempo. Antes de entrar para a Academia Militar estudei numa escola de artes, a António Arroio. Artes era uma das coisas de que gostava. O que faz aos quadros que pinta? Normalmente ofereço alguns, outros tenho em casa. Pintar acalma, é uma boa forma de terapia para o stress.Lembra-se como foi o primeiro dia na vida militar? A ansiedade era muita, não sabia ainda bem para o que ia. Ingressei primeiro na classe de sargentos e nessa altura as mulheres eram muito poucas. Em jovem já tinha alguma apetência para a liderança, para comandar? Não creio que tivesse. Essas competências de comandar e liderar são adquiridas na Academia Militar. E como foi quando entrou na Guarda? Quando acabei o 5º ano era a primeira a escolher porque era a primeira classificada e queria logo ficar na actividade operacional como comandante de destacamento. Tinha estagiado em Vila Franca de Xira e tinha gostado muito. Só que não abriu nenhuma vaga para a zona de Lisboa, onde residia. Surgiu a hipótese de comandar interinamente o destacamento de Portalegre, onde estive um ano. Depois estive três anos na Escola da Guarda e no gabinete do comandante geral.Como era a reacção quando viam uma comandante tão nova? Não me parece que as pessoas olhem para mim pelo facto de ser mulher ou mais nova. Quando cheguei a Portalegre tinha 26 anos e era dos elementos mais novos. Fui muito bem acolhida pelos militares e pela população. Nunca ouvi comentários nem me contaram que tivessem existido. Como veio para Torres Novas? Pedi para vir porque tenho cá os meus pais e os meus sogros. Com o nascimento da minha filha, há dois anos, precisava mais do apoio da família. Está a correr bem a mudança para Torres Novas? Gosto mais do ambiente de Torres Novas do que de Lisboa. Vivo perto do destacamento, na cidade, que é um bom sítio para se criar um filho. Os níveis de criminalidade aqui são menores. Em Lisboa vêem-se coisas que aqui não se passam. Torres Novas não é uma grande cidade mas tem tudo o que precisamos e conhecemos as pessoas. Quando vê condutores a fazerem asneiras na estrada fica irritada? Se estiver em serviço e fardada tenho de fazer cessar a infracção. Ver condutores a cometerem infracções deve irritar toda a gente. Irrita-me quem tem um tipo de condução perigosa, que meta crianças em risco, ou os condutores que circulam pela faixa do meio na auto-estrada. Um guarda homem impõe mais respeito? Não é o género que determina a imposição do respeito. Ser homem ou mulher é igual. Num meio em que as mulheres são uma pequena minoria tenta impor o feminismo ou compreender o machismo? Nem uma coisa nem outra, temos de ser como somos. As mulheres são diferentes e temos de tratar diferente o que é diferente. Sendo mulher não vou ter comportamentos como os homens mas também não vou impor o feminismo. Trato as pessoas com respeito.Não tem saudades às vezes de usar no dia-a-dia roupa mais feminina em vez da farda? Quando me desfardo gosto de usar vestidos. Em relação à farda há uma grande vantagem, que é não perder tempo de manhã a escolher a roupa. Também não sou do tipo de mulher que goste de andar nas compras, se calhar porque também não tenho essa necessidade em virtude de passar muito tempo de farda. Também não tenho paciência para andar a comprar roupa, sapatos ou malas. Tenho duas ou três malas e chegam. Também não gosto muito de maquilhagem.Gosta mais de trabalhar com homens ou com mulheres? Como comandante tanto dou uma ordem a uma mulher como a um homem. Sempre me dei bem com todas as mulheres com quem trabalhei, tal como com os homens. Quando estava na academia sentia falta de estar com mulheres porque o meu curso eram só homens. O meio militar levou-a a ter horas e regras rígidas para fazes as coisas? Já era organizada antes de entrar no meio militar e embora tivesse andado numa escola de artes gostava da ordem. Por isso me adaptei bem à vida militar, porque nunca me custou ter de cumprir regras. Sempre fui muito disciplinada, o que considero uma virtude nos tempos de hoje. Um destacamento calmoQuais são os problemas neste destacamento? O destacamento é calmo comparando com outros a nível nacional. Em termos de criminalidade há alguns furtos. Tivemos a problemática do furto de metais não preciosos que, fruto do trabalho dos militares da GNR, conseguiu-se quase erradicar. Que relação tem com os presidentes de câmara da área do destacamento? Quando cheguei apresentei-me a todos e manifestaram-me o apoio. Para já é uma relação bastante saudável. Já falou com a presidente da Câmara de Alcanena sobre as condições do posto? Estive com ela num incêndio e falámos de algumas questões e essa foi uma delas. Estão a ser ultimados os passos necessários para a celebração de um protocolo com a câmara para a mudança de instalações. Todos os outros postos do destacamento apresentam condições boas. O posto da Chamusca já não tem cavalos porquê? Os cavalos da GNR agora estão concentrados em Tomar, mas sempre que temos necessidade solicitamos esse meio. Fazemos vários patrulhamentos a cavalo em zonas florestais.Há mais problemas nas zonas rurais ou nas urbanas? As situações acontecem independentemente de ser cidade, vila ou aldeia. Mas quando se tem um maior aglomerado populacional há mais probabilidade de acontecer algum problema, porque também há mais pessoas.Voltar à terra onde nasceu mas onde não tinha vividoIrina Pinto, 33 anos feitos a 4 de Janeiro, nasceu em Torres Novas por acaso. Os pais, naturais de uma aldeia do concelho, viviam em Póvoa de Santa Iria (Vila Franca de Xira) e numa das vezes que foram à terra natal matar saudades, Irina resolveu vir ao mundo. De ar simpático e voz calma, a capitão Irina perdeu a mãe quando tinha 12 anos. Tem uma madrasta mas quando se refere a ela é como mãe. Fala sempre em pais. “Ela sempre me tratou como filha”, refere. Acredita que o falecimento da mãe lhe fez desenvolver os instintos de protecção. Quando fazia testes psicotécnicos para perceber qual a área melhor para seguir em termos de estudos ou carreira, os resultados iam sempre ter à protecção de pessoas. Na altura tinha um irmão mais novo e sentia muita necessidade de o proteger. Depois nasceu a irmã do segundo casamento. Considera-se uma mãe galinha e está sempre preocupada em proteger a filha. A oficial viveu até aos oito anos em Póvoa de Santa Iria, concelho de Vila Franca de Xira, depois mudou-se para a zona de Sintra, onde esteve até 2005. Casada há três anos com outro militar, também capitão da GNR e a prestar serviço actualmente no comando de Santarém. A sogra da capitão, Francelina Costa, foi médica de família muitos anos no centro de saúde da cidade. Irina Pinto entrou para a Academia Militar em 2003, terminando o curso em 2008. A oficial de infantaria é comandante do Destacamento Territorial de Torres Novas, que abrange os postos de Torres Novas, Alcanena, Chamusca, Golegã e Vila Nova da Barquinha, desde 1 de Julho deste ano. Antes tinha estado cerca de um ano como Chefe da Secção de Justiça do Centro de Formação da Figueira da Foz da Escola da Guarda, onde foi também formadora das disciplinas de Direito Disciplinar e Legislação Militar, além de coordenar as disciplinas da Área do Direito na primeira parte do Curso de Formação de Sargentos.De 1 de Novembro de 2012 a 6 de Abril de 2014 foi assessora jurídica do Comandante-Geral da GNR. É licenciada em Direito, segundo curso superior que tirou após concluir o curso da Academia Militar. Foi professora adjunta na área do Direito Administrativo na Academia Militar, entre Outubro de 2012 e Abril de 2014. Desempenhou ainda os cargos de oficial de Comunicação e Imagem da Escola da Guarda (EG), adjunta do Gabinete de Estudos e Assessoria do Colégio Europeu de Polícia (CEPOL).
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