Uma jovem acordeonista agarrada às tradições
Começou a aprender a tocar aos nove anos por influência da mãe e nunca mais parou
Aos 19 anos, Andreia Sofia Rodrigues já decidiu que o seu futuro vai estar ligado à música. É para isso que estuda, embora também já ensine. Espírito de iniciativa não lhe falta e apesar de ainda estar a entrar na idade adulta já tem obra para mostrar. A ajuda na organização do recente festival de acordeão do Cartaxo, onde tocaram alguns dos seus alunos, é um bom exemplo.
“Agora já é mais normal”, mas quando andava no 5º ano Andreia era a única menina no Cartaxo que tocava acordeão, já aparecia nos cartazes das festas e os seus colegas de escola brincavam com ela. “Nunca gozaram”, afiança, mas achavam piada porque não percebiam como conseguia extrair melodias de tantos botões. Quando iniciou a aprendizagem a jovem nunca tinha visto um acordeão. Hoje tem vários e o mais caro custou mais de dez mil euros. Andreia está a tirar uma licenciatura em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa e também tem aulas de acordeão no Conservatório de Música em Lisboa. O seu grande objectivo é “abrir uma escola de música na região” e poder dar continuidade às tradições do Ribatejo. Andreia considera que se devia dar mais atenção às tradições populares de cada concelho, não só ao nível dos ranchos folclóricos como também ao cancioneiro português. Nas escolas do Ribatejo deviam-se mostrar os grupos etnográficos, as músicas e a história, porque é uma aprendizagem não só a nível musical mas também cultural. “Se não forem as crianças a continuarem as tradições elas acabam”, explica. A jovem acordeonista considera ainda que devia existir uma disciplina na escola dedicada às tradições locais. Outro dos projectos da acordeonista é reunir músicas populares ribatejanas e passá-las para a pauta para que fiquem registadas para o futuro. “Não há muitas músicas escritas” e Andreia quer fazer as “partituras e as gravações em áudio das músicas populares do Ribatejo”. Andreia tem uma vida bastante atarefada e não tem passatempos. Em tempos praticou ioga e ténis mas como não tinha tempo acabou por desistir. Confessa que “talvez tenha começado demasiado cedo no acordeão”. Não que essa actividade lhe tenha tirado a infância ou a adolescência, mas abdicou de estar com os amigos ao fins-de-semana para ir tocar a eventos no Alentejo ou no Algarve, região onde existem muitos acordeonistas. Também não tem namorado por “falta de tempo”.Andreia não vive nas redes sociais mas usa bastante a Internet para divulgar o seu trabalho, e nunca imaginou que o seu público, na sua grande maioria já com alguma idade, utilizasse tanto o facebook para interagir com ela. “Enviam mensagens, fazem perguntas, partilham vídeos do youtube. Se por acaso estou a dar uma entrevista na rádio aparecem logo mensagens a dizer que me estão a ouvir”. A acordeonista tem vídeos no youtube com milhares de visualizações. Até a mãe de Andreia utiliza o facebook. “Há quatro anos não percebia nada de computadores”, conta a jovem.Há alguns anos foi convidada para trabalhar num projecto em São José da Lamarosa, Coruche, para dar aulas de acordeão. Chegou a dar aulas a 11 alunos mas como entretanto entrou na faculdade não tinha tempo para tudo e neste momento dá aulas de acordeão no Cartaxo, tem seis alunos. Quatro deles, de Coruche, Rebocho, e Foros de Benfica já se estrearam no Festival de Acordeão do Cartaxo no início de Outubro perante mais de um milhar de pessoas. E para Andreia “foi um orgulho vê-los no palco”.
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