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Carta aberta ao ministro da Agricultura sobre áreas de salvaguarda de sobreiro e azinheira

Esta fórmula, carta aberta ao Governo, caiu em desuso há bastantes anos. E, no entanto, vou utilizá-la para uma proposta concreta de defesa do montado de sobro e azinho em grave risco de sobrevivência.A proposta é que se acrescente urgentemente às actuais medidas agro-ambientais do programa de apoio à agricultura uma medida que beneficie os proprietários de áreas dedicadas exclusivamente à salvaguarda do montado.O problema é o seguinte: as alterações climáticas em curso já provocaram um aumento da temperatura média do ar, além de longos períodos sem chuva durante o ano. Esta alteração provocou uma proliferação dos microrganismos patogénicos no solo e de insectos que atacam e conduzem a uma mortalidade em grande escala dessas árvores.Um estudo publicado pelo Instituto de Ciências Ambientais da Universidade de Évora, mostrou, através de cartografia, que cerca de 90.000 hectares de montado desapareceram em 16 anos (de 1990 a 2006)! Veja-se o que tem acontecido na serra do Caldeirão, Santiago de Cacém, Sines, Grândola, serras de Cabrela, Mora, etc.Mas a situação hoje é bem pior porque existem muitos mais milhares de hectares de árvores doentes que irão secar porque não existe qualquer tratamento – apenas se conhecem algumas precauções!Neste quadro negro ambiental há uma pequena esperança: verificou-se que a mortalidade das árvores se verifica em solos delgados – solos com camadas impermeáveis pouco abaixo da superfície, de xisto argiloso ou em areias onde também existe uma camada impermeável de greda – nesses solos, nem a água se infiltra nem as raízes conseguem obter água em profundidade. Os solos delgados e a diminuição dos caudais no subsolo promovem a cultura de microrganismos tais como a oomiceta fitóftora cinnamomi, chamada de podridão radicular, que ataca as raízes finas e causa incapacidade da árvore de absorver água. A partir deste stress hídrico, as pragas dos diversos insectos acabam por destruir a árvore. E, infelizmente, esses solos delgados existem numa enorme área do centro e sul do país – os organismos oficiais saberão qual a área total.Há, no entanto, áreas com solos profundos onde se verifica que o montado se está a aguentar bem: as árvores estão de uma forma geral saudáveis e só em casos pontuais surge uma ou outra seca. Em muitos casos, porém, o pastoreio de gado bovino não permite a existência de árvores jovens e, só existindo as árvores adultas, o futuro corre risco.Na realidade, por impossibilidade económica quase que desistiram os agricultores da produção de cereais, sendo assim, a produção de bovinos é neste momento o sector que lhes oferece não muito mas algum regular rendimento e estas palavras não pretendem de forma nenhuma prejudicar essa situação.Mas, prevendo-se a evolução desfavorável das condições climáticas e a dramática progressão da extinção do montado, esta carta propõe que sejam criadas urgentemente alternativas aos proprietários que se proponham dedicar à salvaguarda da floresta de sobreiro e azinheira e sejam por isso compensados – e para essa salvaguarda de áreas de floresta com árvores em vários estados de desenvolvimento poderão ser exigidas todas as regras de boa gestão do solo e do montado, tais como a recuperação do solo, a não mobilização com grade que causa erosão, o não pastoreio de bovinos nessas áreas, etc.O certo é que as actuais ajudas de custo para projectos florestais não são suficientemente atractivas para a maioria dos proprietários e é esta situação que deveria ser rapidamente atendida e corajosamente resolvida, sem o que, em poucos anos, teremos um país desertificado a sul.Com os melhores cumprimentos, souAntónio A. P. Vacas de CarvalhoNota: A foto mostra o montado onde existe pastoreio de bovinos. 

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