A professora que dedicou a sua vida à música
Prazeres Marçal foi homenageada pelo Círculo Cultural Scalabitano pela defesa dos valores artísticos e culturais
Durante muitos anos integrou várias secções da associação cultural de Santarém que agora a distinguiu pela sua capacidade de trabalho, empenho e dedicação.
Quando as igrejas de Santarém não tinham os órgãos em condições para acompanhar as missas com música, Prazeres Marçal pagou adiantado do seu bolso os órgãos electrónicos que vieram dar outra vida às homilias das igrejas da cidade. Depois disso mobilizou a população para angariar donativos e conseguiu pagar a totalidade do investimento feito. A sua paixão e dedicação à música durante várias décadas foram agora reconhecidas pelo Círculo Cultural Scalabitano (CCS), que a homenageou na tarde de sábado, 13 de Fevereiro, no Teatro Taborda, em Santarém. Prazeres Marçal foi professora musical da secção de ballet do CCS, tendo também tocado acordeão na Orquestra Típica Scalabitana (OTS) e fez parte do coro do CCS.Visivelmente emocionada com o espectáculo feito em sua homenagem e que recordou o seu percurso de vida desde que nasceu há 76 anos, em Maljoga, pequena localidade do concelho da Sertã (distrito de Castelo Branco), no dia 1 de Outubro, Dia Internacional da Música. Prazeres Marçal deixou a sua terra natal com cerca de dez anos quando foi viver para Santarém para junto de uma das suas irmãs que estava na Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, da Fundação Madre Andaluz. Foi em Santarém que fez a quarta classe e fez a sua vida.Estudou no Conservatório de Lisboa e no Instituto Gregoriano de Lisboa, sempre como bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian. Tirou o Curso Superior de Piano e licenciou-se em Educação Musical, tendo sido professora até se reformar. Era freira até que encontrou o homem da sua vida, Lourenço Lopes, com quem casou e viveu sempre em Santarém. “A música é a minha vida, significa tudo. Tive que deixar de tocar por causa da minha vista. Não vejo quase nada e foi muito difícil ter que deixar de fazer uma coisa que adorava fazer”, confessa em entrevista a O MIRANTE.A tarde de sábado foi de emoções com os amigos do CCS a recordarem momentos passados com a homenageada. Vasco Nogueira, director artístico da Orquestra Típica, lembrou quando tiveram que actuar no Festival do Tâmega, em Amarante, num espectáculo com o fadista Carlos do Carmo. O palco ficava no meio do rio e tinham que ir de barco até lá. “Fui eu que a consegui convencer a entrar no barco porque a Prazeres tinha muito medo. Foi difícil metê-la dentro do barco”, lembra. Vasco Nogueira lembra ainda quando a mãe de Prazeres Marçal faleceu no dia de um espectáculo da OTS. A professora de música demonstrou o seu profissionalismo e só regressou à terra natal para o velório da mãe depois de terminar o espectáculo.O presidente do Círculo Cultural Scalabitano afirma que Prazeres Marçal foi sempre uma mulher corajosa, amiga e lutadora. “Prazeres Marçal encontra-se entre aqueles que se entregaram ao Círculo em defesa dos valores artísticos e culturais. A sua passagem por esta instituição deixou marcas que se perpetuam no tempo, revelando a sua capacidade de trabalho, empenho e dedicação, com total desprendimento de bens materiais e, porventura, muitas vezes, com prejuízo da sua própria vida, em prol da cultura e das artes da nossa cidade, país e mesmo além-fronteiras”, destacou Eliseu Raimundo.Prazeres Marçal recorda que desde pequena sempre gostou de ouvir música e apanha as letras das músicas só de ouvido, não precisando decorar nenhuma letra. Apesar de já não poder tocar ainda gosta de ouvir, sobretudo música clássica. Na tarde de sábado actuaram as três secções que Prazeres Marçal integrou durante a sua ligação ao CCS: ballet, coro e Orquestra Típica Scalabitana.
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