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No dia 25 de Abril não senti alegria mas apenas apreensão

Vem aí mais um aniversário do 25 de Abril e pelo que vou lendo de testemunhos, naquele célebre dia de 1974 andava toda a gente alegre e eufórica. Foi por isso que resolvi dar também o meu testemunho dizendo que eu, na altura com 18 anos, apenas senti apreensão e até medo, confesso. A apreensão teve a ver com o facto de ter percebido que a polícia política tinha disparado sobre cidadãos, junto à sua sede em Lisboa e os mortos que fez terem desaparecido no meio das notícias de uma revolução pacífica. Também receei pela minha família que estava em Angola quando ainda na tarde e noite do 25 de Abril se começou logo a defender a entrega imediata e sem condições das colónias aos mais bem armados grupos que lutavam pela sua independência. O meu pai era militar e estava a fazer uma comissão de serviço naquela colónia e a minha mãe e o meu irmão tinham ido com ele (eu tinha ficado com os meus avós porque no local onde o meu pai fora colocado não poderia prosseguir os estudos). Sem comunicações como agora e com o que comecei a ouvir pensei que nunca mais os veria.O pior de tudo foi quando, após muita expectativa, apareceu na televisão um grupo de generais soturno e grave intitulado Junta de Salvação Nacional, quando eu estava à espera de ver os jovens militares de que rádios e jornais vespertinos tinham falado nessa tarde. Senti-me esmagado. Não tinha interesses políticos mas era rebelde e contestatário. Não era aquela gente que iria modernizar o país. Aqueles iriam defender os antigos amigos e os seus privilégios. Agora, este tempo todo passado, sou pelo 25 de Abril e estou eternamente grato a quem derrubou o regime mas ainda temos muito que fazer para termos uma verdadeira democracia e um país para todos. Temos boa justiça, bons serviços de saúde e bom ensino para ricos e tudo de pior qualidade para pobres. Temos um Portugal melhor mas continuamos a ter dois países dentro do país. O dos privilegiados e o dos outros. Que siga o 25 de Abril, pelos anos que forem precisos.João Fernando Barradas Franquelim

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