Treinador de orientação da Golegã faz sucesso na Noruega
Bruno Nazário foi seleccionador nacional de orientação durante dez anos, até ir à procura de novos desafios. Na Noruega encontrou condições para se dedicar à modalidade a tempo inteiro e o seu trabalho já vai dando frutos. A habituação tem decorrido com normalidade, mas as saudades da família custam a suportar.
Há algum tempo atrás Bruno Nazário, 36 anos, estaria longe de pensar trocar a lezíria ribatejana pelas florestas da Noruega para treinar um dos melhores clubes da modalidade de orientação daquele país nórdico. Partiu há três meses e na Golegã deixou a família e os amigos. Encontra no gosto pelo que faz e no empenho dos seus atletas a força e motivação para ultrapassar as dificuldades e as saudades.
Bruno é professor de Educação Física e começou a praticar orientação desde novo na escola, interessando-se logo pela modalidade que dava os primeiros passos no nosso país. Chegou a representar Portugal em campeonatos do mundo de desporto escolar e competiu depois no CLAC - Clube de Lazer Aventura e Competição do Entroncamento, tendo participado em dois Campeonatos do Mundo de Juniores e numa Taça do Mundo de Seniores.
Mais tarde passou a representar o Ori-Estarreja e foi aí que conheceu a sua esposa, também ela atleta de orientação, que é natural dessa localidade próxima de Aveiro. O casal, que tem duas filhas, reside na Golegã e continua a representar o clube de Estarreja.
Habituado a competir ao mais alto nível, Bruno Nazário viu-se obrigado, depois de uma lesão, a abrandar o ritmo e foi aí que decidiu dedicar-se mais ao treino. Começou por treinar os jovens do clube do Ori-Estarreja, conseguindo mesmo que um deles chegasse a campeão da Europa.
Foi também seleccionador nacional de juniores e seniores, tendo os seus atletas conseguido resultados muito positivos, com participação em finais de campeonatos do mundo. Um grande feito considerando que os atletas em Portugal não são profissionais. “Deixou-me orgulhoso”, refere.
Foi então que surgiu a oportunidade de mudar de ares, tendo-se candidatado para um lugar no Kristiansand Orienteringklubb, clube norueguês da modalidade. Apresentou o seu projecto ao clube, foi contratado há cerca de três meses e já está a dar cartas: “Estou a fazer o meu trabalho com uma motivação incrível e a trabalhar com jovens e seniores que têm uma vontade enorme de evoluir a cada treino”. Recentemente conseguiram a vitória nos campeonatos nacionais de sprint na Noruega, no escalão de elites femininas, com a atleta Marianne Anderson.
A opção por esse país do norte da Europa não foi por acaso, pois é aí que a modalidade da orientação se encontra mais desenvolvida e se encontram os maiores e melhores clubes. Só aí teria condições para ser treinador profissional de orientação. Para além disso é um desporto que vive da natureza e a Noruega é um país com muitas florestas o que dá excelentes condições para a prática da modalidade.
As saudades são a maior dificuldade
A adaptação à Noruega, conta Bruno Nazário, tem sido relativamente fácil até porque já tinha tido contacto com a cultura nórdica. A língua é um factor complicado mas a maioria fala bem inglês, o que facilita. Já vai conseguindo aprender algumas palavras na língua nativa embora não seja fácil. “Dentro de alguns meses já vou conseguir falar alguma coisa”, conta.
A alimentação também não foi problema, embora haja diferenças: “não é a carne e o resto, é mais o resto e um bocadinho de carne”. O que facilita é mesmo estar no país do bacalhau e para um português isso é óptimo. Até já chegou a cozinhar bacalhau para alguns dos seus atletas e colegas para experimentarem algumas das nossas receitas.
De resto a sua integração, e apesar de dizerem que os nórdicos são mais frios, foi fácil. O pior são as saudades da família, que com muito esforço vai conseguindo ultrapassar, “muito pela motivação que tenho pelo trabalho e também por saber o que estou a fazer por eles.”.
Bruno Nazário pretende continuar a treinar o clube da Noruega e tudo aponta nesse sentido. O clube tem interesse na sua continuidade, mas para isso gostaria de poder criar condições de levar a sua família consigo, pois as saudades são muitas.
Um desporto ligado à natureza
A orientação é um desporto que tem como objectivo percorrer uma determinada distância em terreno variado e desconhecido, obrigando os atletas a passar por determinados pontos no terreno, postos de controlo, descritos num mapa distribuído a cada concorrente. Os competidores têm de saber ler o mapa e podem ainda ter a ajuda de uma bússola. Partem numa espécie de contra-relógio e o objectivo é concluir o percurso o mais rapidamente possível.
Segundo Bruno Nazário, não é um desporto muito fácil à partida pois requer uma capacidade de interpretação e leitura grande, mas também não é nenhum quebra-cabeças e existem percursos e mapas simples para quem deseja aprender e começar.