Alunos com deficiência ainda são vistos como um estorvo nas salas de aula
Cidade de Alverca recebeu debate sobre inclusão das pessoas com deficiência. Quatro secretários de Estado despiram as gravatas e os formalismos dos gabinetes e falaram de forma descontraída com quem apareceu no auditório da filarmónica alverquense na manhã de sábado.
Os alunos com deficiência ainda são vistos como um estorvo nas escolas e há ainda um longo caminho a percorrer rumo a salas de aula ainda mais inclusivas. O desabafo foi deixado pelo Secretário de Estado da Educação, João Costa, num debate sobre inclusão realizado na manhã de 28 de Maio em Alverca.
A iniciativa, promovida pela Juventude Socialista (JS) da concelhia de Vila Franca de Xira, liderada por João Pedro Baião, visou captar contributos sobre como se pode passar das palavras à acção no que toca à inclusão. O debate contou com quatro secretários de Estado, que falaram de forma descontraída com o público e sem o protocolo por norma associado a quem desempenha cargos no Governo. No debate compareceram representantes de associações, pessoas com deficiência, professores, educadores e assistentes operacionais. Mas notou-se a falta de mais políticos locais, sobretudo presidentes de junta, incluindo do PS. A única excepção foi o anfitrião, Afonso Costa.
“Nos indicadores europeus dizemos que 98 por cento dos alunos com deficiência estão integrados na escola. Devemos orgulhar-nos disso, mas a verdade é que estão em salas ocupacionais, em percursos adaptados, à margem dos outros, estão segregados. Há trabalho a fazer para preparar o sistema e os enquadrar no grupo. A situação actual não é boa para eles nem para os outros alunos”, lamentou João Costa. O secretário de Estado lamentou também que as necessidades educativas especiais estejam “transformadas num negócio que vive da não inclusão”.
Ana Garcia, mãe de uma criança com paralisia cerebral, constatou essa segregação no debate que se seguiu. “A separação em sala de aula é uma perda de oportunidades também para as outras crianças poderem conviver com estas. Há também um desconhecimento grande dos professores titulares face a situações básicas da deficiência e uma superprotecção destas crianças”, criticou.
Ana Sofia Antunes, secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, lembrou a falta de recursos humanos, as barreiras ideológicas e “sobretudo a falta de vontade” dos líderes políticos como principais culpados por não existir uma verdadeira inclusão nas escolas.
Isabel Santos, assistente social, lamentou que não haja da parte das associações e empregadores “um esforço real para garantir o acesso ao trabalho das pessoas com deficiência” e Isabel Veiga, directora do Agrupamento de Escolas Alves Redol de Vila Franca de Xira lembrou que os professores “precisam de formação” para lidar com estas questões. “A escola deve ser igual para todos e não está a ser. É pena que não estejam aqui mais professores porque esta matéria merece uma reflexão plena”, disse.
Turismo inclusivo é oportunidade
Portugal está a deixar escapar a oportunidade de ganhar dinheiro com o turismo inclusivo. A opinião é de Ana Mendes Godinho, secretária de Estado do Turismo, que também esteve na sessão para falar dos desafios à criação de territórios inclusivos. “O turismo representa 15,3 por cento das nossas exportações mas continuamos com um défice de colocação deste turismo para todos. É um imperativo de igualdade e cidadania mas também de negócio. Face ao Reino Unido ou a França estamos a anos luz. Eles já perceberam as potencialidades deste tipo de turismo e nós andamos a perder passo”, lamentou.
Estadias mais prolongadas e com maior número de acompanhantes são alguns dos aliciantes económicos do turismo inclusivo. “Não é aceitável que o [portal] «Visit Portugal» não dê visibilidade ao país como destino acessível”, criticou.
Se por um lado os edifícios do Estado já começam a ser adaptados às necessidades das pessoas com deficiência, o mesmo não se aplica na generalidade dos privados e igrejas. “No Coliseu de Roma meteram elevadores para as pessoas com deficiência, por que motivo aqui se continua a achar que isso desvirtua os monumentos? Não faz sentido”, criticou Manuela Ralha, da associação Mithós de Vila Franca de Xira.
Carlos Miguel, secretário de Estado das Autarquias Locais, criticou o que disse ser “o radicalismo” em torno deste assunto. “O futuro dos territórios passa por ter quotas zero nos passeios e colocá-los todos ao mesmo nível. Mas depois temos de lutar com os automobilistas que vão parar o carro em todo o lado. Vai ser preciso bom senso”, defendeu o ex-autarca socialista, que geria a Câmara de Torres Vedras.