Direcção dos Bombeiros de Alcanede desafia comandante a demitir-se
Clima conturbado na corporação já levou à demissão de 23 bombeiros por causa de litígio eleitoral
A direcção dos Bombeiros Voluntários de Alcanede, Santarém, considera a recente demissão de 80 por cento dos operacionais voluntários da corporação como uma “atitude irresponsável, premeditada e com fins e interesses alheios ao bom funcionamento e bom nome da instituição”. Num comunicado, os elementos da direcção referem que não conseguem descortinar os reais fundamentos das demissões, salientando que estas foram anunciadas primeiro na comunicação social. A direcção desafia ainda o comandante da corporação, Filipe Regueira, a demitir-se.
No comunicado, os dirigentes realçam que “só interesses paralelos, organizados e premeditados podem levar a esta atitude, reprovável a todos os níveis”, justificando que sempre deram as condições para o bom funcionamento da associação humanitária e salientando o trabalho que fizeram na recuperação financeira da instituição. Os elementos dizem que a situação financeira grave da corporação, quando tomaram posse, era, essa sim, condicionadora da operacionalidade do corpo de bombeiros.
A direcção refere que se mantém em funções, apesar de ter havido um acto eleitoral em Março, procurando “unicamente a defesa dos interesses da instituição”. E acrescenta que estranha que o comandante não tenha sabido exercer cabalmente as suas funções, tomando medidas como manter os demissionários em funções, alertando para a distinção entre as funções de direcção e as de comando e sugerindo a sua demissão. “A falta de frontalidade e coragem levaram-no, antes, a dar entrevistas e a ser o foco fomentador das aludidas demissões”.
A demissão dos 23 bombeiros foi justificada com o facto de existir um mau estar na corporação devido ao conflito surgido na sequência das eleições de Março. Os bombeiros dizem que estão dispostos a voltar ao quadro activo quando o actual impasse directivo, que está nos tribunais, estiver resolvido. A situação coloca em causa o socorro à população, uma vez que, devido à demissão, a corporação só tem condições para manter uma ambulância de socorro durante o dia e apenas nos dias úteis e não tem meios para combater incêndios.
Filipe Regueira referiu a O MIRANTE, na edição de 26 de Maio, que a questão das eleições está a provocar um grande descontentamento nos operacionais. A situação já está a ser acompanhada pelo comandante nacional da Autoridade Nacional de Protecção Civil e se o braço de ferro entre bombeiros e direcção se mantiver, a autoridade deverá mandar uma inspecção ao local para avaliar as condições e decidir o que fazer com o funcionamento do corpo de bombeiros.
Eleições polémicas
Recorde-se que a confusão instalou-se após a assembleia eleitoral de 13 de Março, que deu a vitória, por três votos, à lista liderada pelo empresário Nelson Durão. Das tentativas anteriores para escolha de uma nova direcção não apareceram listas. Mas com a apresentação da lista de Nelson Durão, apareceu uma segunda lista, liderada pela tesoureira da direcção cessante, Ana Ferreira, que avançou com uma providência cautelar para anulação das eleições, alegando irregularidades. O Tribunal de Santarém não decidiu a seu favor, tendo esta recorrido para o Tribunal da Relação. As eleições ocorreram cerca de um ano após a anterior direcção se ter demitido e entrado em gestão corrente, que se mantém. Enquanto decorre a batalha judicial não é dada posse à lista vencedora.