Não foi pacífica a última votação do Programa de Apoio ao Movimento Associativo (PAMA) do concelho de Vila Franca de Xira, com a oposição CDU e Novo Rumo (liderada pelo PSD) a exigir igualdade de tratamento entre os dois grupos de teatro profissional do concelho, o Cegada e a Inestética.
Tudo porque no documento proposto pelo socialista Fernando Paulo Ferreira, vice-presidente da câmara, havia uma verba destinada a grupos de teatro amador e outra, específica, apenas destinada ao teatro profissional onde apenas estava contemplada a Inestética. O grupo Cegada, de Alverca, ficou de fora.
Sozinho, o Inestética iria receber mais do que os seis grupos de teatro amador do concelho - 20.600 euros para o Inestética e 20.200 euros os restantes grupos. O Cegada ainda se candidatou a apoios ao abrigo de uma cláusula de mérito do regulamento do PAMA mas a verba foi recusada, com base num parecer de Paulo Renato, técnico municipal, que justificou que a estrutura de Alverca “não tem mérito” suficiente para receber qualquer apoio. Um parecer que a oposição considerou pouco idóneo.
O debate foi fracturante ao ponto do presidente da câmara, Alberto Mesquita (PS), interromper a reunião e reunir à porta fechada com todas as bancadas, algo que aconteceu pela primeira vez neste mandato. Mas não teve sucesso e a câmara vai mesmo ter de dar igualdade de oportunidades às duas companhias de teatro, no que toca à apreciação das propostas de apoio. A globalidade dos apoios do PAMA foram aprovados mas tiveram de deixar de fora a Inestética, cuja proposta de apoio terá de ser apreciada à parte juntamente com o Cegada numa das próximas reuniões de câmara.
Os socialistas continuam a defender com unhas e dentes que a Inestética “é a única companhia de teatro profissional” do concelho e têm-se recusado a considerar o Cegada como tal. A companhia de Alverca tem lamentado a dualidade de critérios e na última semana viu a oposição em peso dar-lhe razão. “A Inestética não deve constar nestes apoios, devia estar num regulamento à parte que não existe ou então numa proposta isolada”, defendeu Aurélio Marques, da CDU.
Helena de Jesus, da coligação Novo Rumo, criticou a intenção, “nitidamente irregular”, de apoiar a Inestética ao abrigo do PAMA. “Se olharmos para o Cegada ou para a Inestética não vemos diferença nenhuma. Não entendo porque se fala de apoio ao Inestética e se exclui o Cegada. A proposta não é clara. Não é o técnico que decide a quem são atribuídos os apoios, somos nós”, criticou, acusando o técnico municipal de produzir um parecer “pouco isento”.

Acusações de “sobranceria intelectual”
Rui Rei, do Novo Rumo, foi mais duro, considerando que os socialistas estão a mostrar “sobranceria intelectual” ao “discriminar” as duas companhias teatrais ao não lhes dar igualdade de oportunidades no acesso aos apoios. “O sol quando nasce é para todos. Pensava que no concelho éramos progressistas e que todos tinham oportunidades iguais para evoluir e crescer. Não concordamos com uma escolha arbitrária que diz que o Cegada tem de ser eternamente pobre e que nunca poderá ser como os outros”, criticou.
Na resposta o vice-presidente rematou dizendo que os critérios de avaliação das propostas são “objectivos” e alheios a “pressões”, sendo analisados com “imparcialidade”. “A certificação do profissionalismo de um grupo não é dado por ninguém. O PAMA está em revisão e pode bem vir a ser criada a introdução de regras diferentes face à profissionalização dos grupos”, explicou. Fernando Paulo não comentou porque motivo o Cegada não é contemplado como grupo profissional, ao contrário dos Inestética.