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Uma vida ligada à arte de trabalhar a madeira

Uma vida ligada à arte de trabalhar a madeira

Manuel Joaquim Duarte tem 74 anos e há 36 que gere a Casa do Artesanato em Pernes.

Sábio na arte do torneiro, admite algumas dificuldades no negócio mas continua a fazer o que mais gosta. Nessa vila do concelho de Santarém é ainda conhecido pela sua ligação ao associativismo e pela seriedade em fazer contas.

Toda a vida esteve ligado à arte de tornear a madeira e com 74 anos não quer parar. Manuel Joaquim Isidro nasceu e vive em Pernes, tem clientes em todo o país mas teme não haver futuro para a Casa do Artesanato que mantém há 36 anos nessa freguesia do concelho de Santarém. “Tenho três netos que não ligam a isto, são de outra geração, e apesar da minha filha estar a trabalhar noutra firma ligada à madeira e do meu filho já ter trabalhado aqui não vejo continuidade para esta”, desabafa.
Na oficina de carpintaria, onde a sua mulher ainda o ajuda, Manuel Joaquim produz de tudo um pouco: caixas para chás, de costura, para relógios, para cápsulas de café, mealheiros, molduras, bandejas, brindes, brinquedos e outros objectos, mas o tempo tem feito com que o negócio tenha diminuído um pouco. “Antes existiam umas 20 oficinas em Pernes, hoje são duas”, sublinha.
Enquanto tirava a quarta classe Manuel ajudava os pais no campo, a guardar borregos e a apanhar erva para os animais e quando chegou aos 10 anos foi logo trabalhar. “Não haviam sonhos para o futuro. Normalmente seguíamos as pisadas dos pais ou fazíamos o que nos diziam para fazer e era melhor ir para as oficinas de carpintaria do que ir para o campo”, afirma.
Pediu aos pais para trabalhar numa oficina de um tio e a partir daí foi saltitando de oficina em oficina em Pernes, tal como os outros rapazes da sua idade. “Muitos não se adaptavam mas começávamos sempre por fazer recados. Íamos aos correios, buscar água, apanhar figos na fazenda e fazíamos esses pequenos trabalhos. Só depois é que vinha a madeira”, conta.
Depois da tropa, aos 19 anos, Manuel começou a mexer na madeira “a sério”. Aprendeu o ofício e tomou o gosto pela arte de torneiro. “Não tive dificuldades em mexer com a madeira mas os golpes nas mãos foram muitos, apesar de nunca ter tido nada de muito grave. Naquela altura quase todos os dias alguém ia para o hospital fazer um curativo porque as plainas e as garlopas são muito perigosas e quanto mais confiança temos pior é”.
Aos 38 anos “entusiasmou-se” e avançou para um negócio em nome próprio, a Casa do Artesanato, que desde 1981 funciona em Pernes. Manuel diz já ter ficado a trabalhar até às seis da manhã a fazer peças mas admite que hoje o volume de trabalho abrandou.
Com a criação do negócio as contas começaram a fazer parte do seu dia-a-dia, matéria com a qual ganhou afeição apesar de na escola não ter grande gosto por ela. E foi essa valência que lhe permitiu ser tesoureiro no Atlético Clube de Pernes onde nunca foi jogador. “Tínhamos de levar a água da fonte para os balneários, marcar o campo e levar os jogadores para os jogos”, recorda Manuel que também passou pela tesouraria da Sociedade Recreativa e Filarmónica Pernense (Música Velha) - “sempre fui sério e as pessoas confiavam em mim”, acrescenta.
Na oficina faz todas as fases do processo: cria as peças, faz trabalhos por medida, despacha encomendas pelos correios e atende os clientes no espaço situado em frente à Rádio Pernes. Manuel Joaquim Duarte está ainda contactável através do site www.manuelduartemadeiraseartesanato.blogspot.com e assegura qualidade no que faz. “Há lojas que começaram a fazer coisas parecidas mas as pessoas começaram a perceber quem mostra qualidade e um bom trabalho e aqui temos isso, não tenha dúvidas”, remata.

Uma vida ligada à arte de trabalhar a madeira

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