Munícipe de Alhandra foi pedir contas do dinheiro desaparecido ao presidente da junta
Funcionária é suspeita de ter desviado, só neste mandato, mais de 20 mil euros. Morador da vila foi pedir contas ao presidente da junta na última assembleia de freguesia.
Tolerância zero: é desta forma que o presidente da Junta de Freguesia de Alhandra, Mário Cantiga (CDU), se coloca face ao caso da funcionária da autarquia que é suspeita de ter desviado mais de 20 mil euros da junta, só neste mandato. O autarca diz que o seu executivo “não abdicará” de ser totalmente ressarcido das verbas desaparecidas. “Não podemos falar muito porque o caso se encontra em segredo de justiça mas ao contrário de outras juntas em que estes problemas se passam, nós tivemos a coragem de o admitir publicamente e nunca esconder nada”, reagiu o autarca.
Mário Cantiga respondia a um morador de Alhandra na sessão da assembleia de freguesia realizada a 27 de Dezembro. “Isto não é uma brincadeira, estamos a falar de dinheiro que é de todos nós. O Tribunal de Contas tem conhecimento disto? Há quanto tempo é que o dinheiro anda a ser escondido? Quem deu as passwords e as autorizações a essa funcionária para mexer no dinheiro? A junta será ressarcida do dinheiro que voou?”, questionou Mário Correia, morador.
O munícipe disse estar incrédulo com o facto de O MIRANTE ter publicado a notícia antes da junta ter explicado publicamente o que se passava. Mário Cantiga limitou-se a confirmar que a junta “apresentou queixa no Ministério Público” sobre o caso e que, logo que termine o inquérito, “prestará todas as informações sobre o assunto”. O inquérito deverá ficar concluído em meados de Fevereiro.
Em causa está, como noticiámos em Setembro último, as suspeitas de que uma funcionária da junta com 36 anos de serviço terá desviado mais de 20 mil euros dos cofres daquela entidade pública. O caso apanhou toda a gente de surpresa na junta de freguesia, já que a mulher era bastante estimada na comunidade e em quem toda a gente confiava. A funcionária era responsável pelo processamento dos vencimentos do pessoal da junta e era ela quem, alegadamente, dava as ordens de pagamento para os bancos com quem a junta trabalha.
Ao que O MIRANTE apurou na altura, a funcionária auferia na casa dos 1200 euros mensais e, alegadamente, ainda transferia um valor adicional próximo dos 450 euros para uma conta sua mas com descritivo em nome de um antigo funcionário. O esquema foi passando pelos diferentes filtros da junta ao longo dos anos, incluindo por quem tinha a responsabilidade de verificar a autenticidade dos pagamentos e a contabilidade.
Colega descobriu desconformidades nas contas
O alegado esquema foi descoberto no dia 16 de Setembro de 2016 quando a funcionária em causa se ausentou do serviço para ir a uma consulta. Uma colega ao aperceber-se das desconformidades foi analisando os processos até perceber que algo não estava bem. Quando a mulher voltou ao trabalho terá sido confrontada pelo executivo da junta com o sucedido mas terá negado o desvio do dinheiro. Mais tarde terá explicado que o caso era do conhecimento do anterior presidente da junta e que o mesmo serviria quase como um empréstimo de curto prazo. Por fim, terá também prometido devolver todo o dinheiro que tirou, ideia que não terá sido aceite pelo actual presidente do executivo, que expôs o caso à justiça.