Uma tal comissão de utentes de que só se conhece uma pessoa, anunciou que recolheu quatro mil assinaturas em defesa da requalificação da Estação de caminho de ferro do Entroncamento. Estávamos bem mal se apenas quatro mil cidadãos defendessem a requalificação da estação de caminho de ferro do Entroncamento. Só a cidade tem vinte e tal mil habitantes. Ainda há poucos dias foi anunciado que três mil pessoas assinaram um abaixo-assinado defendendo o não abate de um cão, na Póvoa de Santa Iria, que nem sequer estava para ser abatido.
Os abaixo--assinados são como as cerejas. Puxa-se por um e aparecem logo uma data deles. Numa busca feita em dois minutos encontrei nos últimos meses e só por estes lados, notícias de um abaixo-assinado a defender obras na Capela de São Pedro em Santarém; um abaixo-assinado para recuperar um jardim de Alverca; um dos oradores de Arcena contra falta de estacionamento e um outro contra a degradação do Casal das Areias, penso que também em Alverca. Se eu lançar um abaixo assinado pelo aumento generalizado dos ordenados e pensões, pela requalificação das ruas de qualquer terra, pelo fim dos impostos, pela criação de autocarros de dez em dez minutos ou pela criação de mais e melhores empregos no interior, vou ter assinaturas que nunca mais acabam.
Escrevo isto para dizer que a banalização dos abaixo-assinados e o facto de eles serem promovidos por anónimos na internet ou por activistas de partidos de esquerda ou sindicalistas, não abona nada a favor da credibilidade dessas formas de congregar vontades de grupos de cidadãos. Alguns dos abaixo-assinados que citei e muitos outros que existem, são genuínos mas acabam abafados pelos que já vêm inquinados por forças que têm uma agenda própria e que usam os seus activistas para agitar as águas.
Ivete Marques