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Os Companheiros da Noite querem continuar na vida daqueles que ajudam

Os Companheiros da Noite querem continuar na vida daqueles que ajudam

A associação apoia os sem-abrigo e famílias carenciadas do concelho de Vila Franca de Xira e a presidente, Helena Timóteo, defende que não se pode dar uma ajuda pontual a quem precisa e desaparecer: é preciso criar laços e mantê-los a longo prazo.

No concelho de Vila Franca de Xira pode pensar-se que os sem-abrigo desaparecem no Verão, porque é com o mau tempo do Inverno que as suas carências se tornam mais evidentes. Mas a verdade é que precisam de ajuda durante todo o ano e a Associação Os Companheiros da Noite, da Póvoa de Santa Iria, presta-lhes o mesmo auxílio faça chuva ou faça sol.
Os Companheiros da Noite são uma associação sem fins lucrativos, encabeçada por Helena Timóteo e que conta com 70 voluntários. Sem receitas próprias à excepção da quotização dos sócios, toda a ajuda de fora é bem-vinda. “Há pessoas e empresas que nos chegam com propostas de campanhas e damos graças a Deus porque toda a ajuda é precisa. Temos tido o carinho de muita gente e entidades que nos têm ajudado a continuar. E por muito que acreditássemos e muito esforçados que fôssemos, não poderíamos continuar sem o apoio da comunidade”.
A realização de almoços solidários, noites de fados, caminhadas, corridas e outros eventos ajudam a angariar fundos. A associação apoia actualmente mais de uma centena de pessoas, entre as quais 24 famílias. “Muitas delas eram famílias que tinham uma vida estável, mas que as circunstâncias da vida acabaram por levar a precisarem de ajuda. Ou se tornaram famílias monoparentais, ou os dois pais ficaram desempregados ou outros casos que os levaram a perder o nível de vida que tinham”.
É em Vila Franca de Xira e Alverca, as maiores cidades do concelho, que surgem mais pessoas carenciadas a receber comida durante as rondas de distribuição nocturna. “A ronda de sábado é suportada por nós, mas toda a comida que distribuímos na ronda de quarta-feira é angariada pela Câmara de Vila Franca de Xira”, explica Helena Timóteo, agradecendo a ajuda, mais vezes logística que financeira, tanto da câmara como das juntas de freguesia do concelho, que disponibilizam espaços para a realização de eventos de angariação de fundos.

“Não pode ser só arranjar-lhes a casa e ir embora”
Além de distribuírem comida, Os Companheiros da Noite sinalizam situações de carência, acompanham pessoas, tanto física como psicologicamente, e motivam-nas para a mudança. Não contam com psicológos “porque é difícil encontrar os que queiram trabalhar em voluntariado e nós não conseguimos pagar ordenados”, avisa a presidente, pelo que o apoio é dado pelos voluntários que vão ganhando conhecimento ao longo dos anos de contacto com os sem-abrigo.
A associação conta ainda com um banco de mobiliário doado e ajuda a mobilar ou “dar alguma dignidade” às habitações daqueles que já não vivem em boas condições.
Desde o início do ano já conseguiram encontrar casa para três sem-abrigo e ajudaram a pintá-las, mobilá-las e torná-las um lar para eles. “Mas depois não pode ser só arranjar-lhes a casa e ir embora”, alerta Helena Timóteo: “Temos de continuar a acompanhar estas pessoas porque elas não deixam de precisar de ajuda de um dia para o outro. Mas é uma ajuda que tem de ser muito bem pensada porque não podemos invadir o espaço pessoal delas. Às vezes há quem se esqueça e pense que estas pessoas só porque estão na rua deixam de ter o seu território e a sua intimidade, mas nós não podemos chegar e violar isso, nem podemos mudá-lo de acordo com o nosso padrão, temos de seguir o padrão da pessoa. Temos de tentar perceber, para cada um, o que é que funciona, o que é que ela precisa. Tudo para que eles se sintam o mais confortável possível”.

É de pequenino que desperta a vontade de ajudar
Helena Timóteo nasceu e passou a maior parte da vida na Póvoa de Santa Iria, mas viveu um período com os pais na Alemanha. Foi nessa altura, quando tinha seis anos, que o contacto com uma “situação de sem-abrigos na rua me incomodou profundamente” e poucos anos depois percebeu que o futuro passaria por tentar ajudá-los.
“Aos dez anos o meu sonho era construir um abrigo para estas pessoas”, conta a presidente d’Os Companheiros da Noite, agora com 52 anos. Juntou-se à associação há uma década “por ter este apego a uma associação local, vestir a camisola pela nossa freguesia e fazer este trabalho com orgulho para os de cá”. E embora não tenha aspirado ao posto de comandante, “por força da necessidade alguns de nós, voluntários, tivemos de assumir a direcção”.
É um trabalho exigente conjugar as rotinas do voluntariado com as da família e da profissão de tripulante numa companhia aérea portuguesa, mas Helena Timóteo defende que “só é preciso força de vontade, com força de vontade tudo se alcança porque nada é impossível”.

Os Companheiros da Noite querem continuar na vida daqueles que ajudam

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