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Um médico que não foi para engenharia devido aos cálculos matemáticos que fez
Eduardo Doutel Haghighi, especialista em medicina interna no Hospital Vila Franca de Xira
Filho de pai iraniano e mãe portuguesa, Eduardo, 34 anos, é um apaixonado pela medicina que gosta de se colocar à prova todos os dias. Diz que a seriedade, coerência e curiosidade são os valores dos quais os médicos não podem abdicar. Recentemente venceu um prémio nacional da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ligado à geriatria e adora trabalhar no Hospital Vila Franca de Xira.
Adoro praticar desporto e sobretudo crossfit. Mas gosto também de praia para relaxar e umas festas ao pôr do sol. É preciso saber desligar a cabeça do trabalho. Também gosto de viajar e todos os anos tento fazer uma viagem que seja de sonho. A próxima, se tudo correr bem, será à Argentina.
Nasci em Teerão, capital do Irão, mas vim para Portugal com três meses. O meu pai é iraniano e a minha mãe portuguesa. Conheceram-se em França e decidiram viver aqui. Ainda não consegui ir visitar a cidade onde nasci mas essa viagem não está posta de parte.
Quando era pequeno tinha os sonhos típicos de uma criança, como vir a ser astronauta. O meu tempo a infância e juventude não se pode comparar com o tempo em que vivemos. Tínhamos outra forma de pensar e outra maturidade Havia uma relação menos virtual do que hoje em dia.
Uma pessoa que não seja naturalmente curiosa e estudiosa não dá para a profissão de médico. Um médico deve ter como valores principais a seriedade, coerência, curiosidade e gostar sempre de estudar. Sou médico especialista de medicina interna no Hospital Vila Franca de Xira e também o coordenador do Percurso Clínico do Idoso (PCI) nessa unidade de saúde. O médico tem de ser alguém em quem se possa confiar plenamente. Adoro o que faço e considero-me uma pessoa polivalente: Quando me dedico a algo é logo a duzentos por cento. Devo a minha situação actual aos meus pais, que me ensinaram os valores da educação e do rigor.
Fui um bom aluno e era quase sempre o mais certinho e o mais reservado. A dada altura duas profissões assaltaram-me a mente: engenharia, por influência do meu pai que também é engenheiro e medicina. Quando era pequeno a imagem do meu pediatra marcou-me e vi que era aquilo que queria ser. O meu pediatra era uma pessoa altamente credível. Quando entrávamos no consultório víamos uma aura à sua volta, era sábio, nunca errava no que falava. Isso marcou-me bastante e pensei em seguir as suas pisadas.
Ponderei muito bem que profissão ia escolher. Fiz um quadro com os prós e contras de cada opção, dei uma ponderação a ambas e matematicamente calculei a que ganhou. Isso foi excelente porque a pessoa em vez de ficar confusa até ao momento da decisão, está a usar os seus argumentos próprios de prós e contras, sabe o que é bom e mau em cada decisão e assume-a. A medicina saltou logo à frente de forma destacada.
Ainda vivo em Lisboa e a falta de tempo impede-me de conhecer melhor Vila Franca de Xira. Mas gosto imenso de trabalhar aqui. Recentemente a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa distinguiu-me com o prémio Nunes Correa Verdades de Faria, no âmbito do “progresso da medicina na sua aplicação às pessoas idosas”. Gosto muito da geriatria, área em que, infelizmente, parece que o país ainda não se debruçou muito. Fui o mentor do Percurso Clínico do Idoso, uma iniciativa que visa melhorar a assistência aos doentes com mais de 65 anos, traduzindo-se num acompanhamento rápido, completo e eficaz dos idosos que necessitam de cuidados hospitalares. O objectivo é aumentar a autonomia e a independência dos idosos, melhorando a sua qualidade de vida e reduzindo as complicações decorrentes da duração do internamento.
Em paralelo com o Percurso Clínico do Idoso temos feito outros trabalhos a nível interno. Temos uma consulta multidisciplinar de geriatria que é única no país. Temos também um serviço de farmácia para evitar que os idosos tomem muita medicação ou em doses erradas. Vamos começar a recolher dados para demonstrar que estes idosos ficaram melhor com o PCI. Se correr bem poderá ser um projecto para ser implementado noutros hospitais do país. Espero no futuro poder continuar a desenvolver projectos na área dos idosos.
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