Passagem de nível é travessia mortal no cais de Vila Franca de Xira
Familiares de vítimas avisam que mais gente vai morrer no local se nada for feito. Desde 2006 já morreram 25 pessoas em atropelamentos ferroviários na cidade. Filho de Carlos Romano, a última vítima da passagem de nível do cais, mostra-se disponível para encabeçar uma comissão de familiares das vítimas que lute pelo fecho da travessia.
Se nada for feito rapidamente na passagem de nível da Linha do Norte junto ao cais de Vila Franca de Xira mais pessoas vão perder a vida. A opinião é de vários familiares de pessoas que perderam a vida naquele local e que não conseguem compreender como é que, passados tantos anos de acidentes, nada tenha sido efectivamente feito para fechar ou reduzir a perigosidade do local.
Carlos Romano, ex-autarca da cidade e pessoa estimada na comunidade, foi a última vítima da linha ferroviária. O filho, António Romano, diz a O MIRANTE que esta é a hora para se tomarem decisões. “Tem de haver formas de resolver este problema, seja com uma passagem superior ou inferior. Mas alguma coisa deve ser feita porque não faz sentido isto continuar assim como está, custe o dinheiro que custar porque a vida humana não tem preço”, lamenta.
António Romano ainda está a fazer o luto pela morte do pai mas mostra-se disponível para encabeçar uma comissão de familiares das vítimas daquela passagem de nível, que possa reivindicar em grupo o seu encerramento e promover acções de sensibilização para a perigosidade do local. “Estou disponível para me encontrar com as pessoas que também queiram fazer parte”, refere.
Tal como outros moradores, António Romano acredita que “infelizmente” o seu pai não será a última vítima daquela passagem de nível. “Tem acontecido aqui muitos milagres e há gente a apanhar sustos. O problema é que a câmara pensa que isto não dá votos. Têm-se feito outros investimentos no concelho mas este nunca foi considerado prioritário. Está na hora de mudar isso”, conta.
“Até admira que durante as festas não morra aqui mais gente”
Actualmente as cancelas existentes são pequenas demais para a passagem e permitem que os peões e os automobilistas cruzem a linha mesmo quando estão fechadas. “O ideal era meter aqui alguém a vigiar enquanto não se encontra uma solução. Um guarda de nível ou um gratificado da polícia nas horas de maior movimento”, defende.
Também Fernanda Barreiro, viúva de João Barreiro, que morreu na mesma passagem há quase oito anos, lamenta que o assunto não se tenha resolvido. “Esta passagem de nível é uma assassina que está aqui e ninguém faz nada”, condena. Fernanda também acredita que “mais pessoas vão morrer” no local devido à configuração da passagem, situada logo a seguir a uma curva cega. “Ou metiam umas cancelas grandes que fechassem tudo ou então isto não é nada. Ninguém liga aos avisos e às luzes. Até admira que durante as festas não morra aqui mais gente”, critica.
PCP questiona Governo
Nos últimos anos a bancada da CDU na Câmara de Vila Franca de Xira tem sido quem mais recorrentemente chama a atenção do executivo para os riscos desta passagem de nível. Depois do acidente com Carlos Romano voltaram a fazê-lo, defendendo o seu fecho imediato e a tomada de medidas de redução da perigosidade no local, por exemplo com a colocação de um guarda na passagem de nível.
Também a bancada parlamentar do PCP na Assembleia da República questionou na última semana o Governo sobre que medidas urgentes vai tomar para garantir uma “segurança adequada” naquela passagem de nível, designadamente a “colocação de um guarda até solução mais definitiva do problema”.
No documento assinado pelos deputados Rita Rato, Ana Mesquita e Miguel Tiago considera-se que a existência do passeio ribeirinho, biblioteca e jardim municipal “fazem deste ponto um local de passagem de muitas pessoas entre as quais crianças e idosos” e consideram que a passagem superior pedonal existente a poucos metros “tem-se demonstrado desadequada e insuficiente”.
25 mortos em 12 anos
Em média, duas pessoas morreram por ano em atropelamentos ferroviários na área da cidade de Vila Franca de Xira nos últimos 12 anos. A empresa pública Infraestruturas de Portugal explica que a supressão da passagem de nível está protocolada com a câmara desde 2011, prevendo a construção de uma passagem superior pedonal – já existente, que liga à biblioteca – e uma segunda passagem, rodoviária, que seria construída pelo município mas que ainda não avançou. O presidente da câmara, Alberto Mesquita (PS), já admitiu que a supressão da passagem de nível será uma prioridade para o executivo.