uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
Escritor de Marinhais conquista TV Globo com um romance
Norberto Morais - foto DR

Escritor de Marinhais conquista TV Globo com um romance

O escritor Norberto Morais, com raízes em Marinhais, conquistou os decisores da TV Globo com um romance.

A maior e mais importante estação televisiva da América Latina vai filmar O Pecado de Porto Negro, um romance passado na cidade imaginária de Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão. O principal personagem é Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho. O MIRANTE falou com o autor que confessou o seu amor à terra dos seus familiares e onde também é feliz.

Norberto Morais nasceu na Alemanha em 1975. Veio viver para casa dos avós maternos, em Marinhais, após o divórcio dos pais. Tinha seis anos. A primeira tentativa de escrever uma história aconteceu aos 15 anos. Aos 42 recebeu a notícia de que o seu segundo romance, “O Pecado de Porto Negro”, que foi finalista do Prémio Leya, vai ser adaptado para televisão pela brasileira TV Globo. Confessa que os melhores anos foram os vividos em Marinhais e guarda muitas memórias das brincadeiras na vila ribatejana.
O gosto pela leitura nasceu com a sua avó materna, com quem foi viver, em Marinhais, concelho de Salvaterra de Magos, quando tinha seis anos. Norberto Morais, 43 anos, conta que começou a ler tarde porque era a sua avó que lia para si todos os dias, na hora de dormir a sesta. E o gosto pela leitura ficou. As bibliotecas itinerantes da Gulbenkian que passavam na vila, de quinze em quinze dias, eram sempre esperadas com entusiasmo. Norberto ia sempre buscar livros. Gostava de livros grandes. Trazia sempre um para a sua avó e vários para si. “Dos livros que trazia para mim nunca lia mais de meia dúzia de páginas. Começava a ler as histórias e depois inventava o resto”, conta.
O seu segundo romance, intitulado “O Pecado de Porto Negro” e editado em 2014, foi finalista do Prémio Leya e vai ser adaptado à televisão pela TV Globo, maior cadeia de televisão brasileira. “A notícia de que o meu romance iria ser adaptado pela Globo não foi um choque porque tive sempre conhecimento do processo e ia tendo o feedback das várias pessoas que o leram e foi sempre excelente. Quando recebi a notícia fiquei muito contente. A TV Globo é a segunda maior rede de televisão comercial do mundo e é assistida diariamente por mais de 200 milhões de pessoas, no Brasil e no mundo. Tirando ‘Os Maias’ e ‘O Primo Basílio’, ambos de Eça de Queiroz, não me recordo de outras obras de autores portugueses que a Globo tenha querido adaptar para série televisiva. É uma grande satisfação mas também uma enorme responsabilidade”, afirma.
O livro teve duas edições em Portugal. Entre as edições portuguesa e brasileira vendeu cerca de 10 mil exemplares. Norberto foi convidado para apresentar o livro em São Paulo e no Rio de Janeiro. Não existe ainda uma data para avançar com a série na televisão mas o roteiro já está concluído. Existe a possibilidade das filmagens arrancarem ainda este ano. Foi uma agência brasileira que depois de ler o livro o propôs à Globo para o analisar, que aceitou a proposta. O autor considera que este é o seu melhor livro até agora. “Este livro levou-me o dobro do tempo a ser escrito e está mais trabalhado ao nível dos pormenores”, refere.
Norberto Morais prefere não revelar quanto vai receber financeiramente pela adaptação da história pela TV Globo. Diz que mais do que o dinheiro que vai ganhar pela adaptação e futuras mais-valias é a projecção que a série poderá dar ao livro em termos nacionais e internacionais que é realmente importante para si. “O Pecado de Porto Negro” tem recebido boas críticas, como é exemplo a do escritor Domingos Amaral que o considerou um dos melhores livros que leu nos últimos tempos. Também o jornal “A Folha de São Paulo” tece rasgados elogios à obra portuguesa.

“Foi em Marinhais que me fiz homem”
A primeira tentativa séria de Norberto Morais para escrever uma história aconteceu por volta dos 15 anos. Não se recorda se deu um nome à história, mas é provável que não o tenha feito, até porque nunca deu muita importância aos títulos. Recorda-se apenas que a história passava-se numa aldeia dos Alpes. “Não sei o que é feito dessa história. Sei que não a completei. Para mim escrever era um exercício de entretenimento. Não havia o objectivo de terminar. Ainda hoje, terminar é o que me aborrece mais. Quando a ideia está completa na cabeça perco o interesse”, confessa a O MIRANTE.
Os melhores anos da sua vida foram passados em Marinhais. É da vila ribatejana que guarda as melhores memórias. “Foi em Marinhais que me fiz homem, que amei pela primeira vez, que fiz luto pela primeira vez. Foi lá que fiz amigos para a vida toda. Guardo óptimas memórias da escola, dos escuteiros, da casa dos meus avós, dos meus amigos de infância e adolescência, das noites a tocar guitarra na rua, da formação da banda que tive. São muitas memórias e todas muito boas”, diz.
O gosto pela leitura e pela escrita não passavam despercebidos. Por volta dos 12 anos recebeu uma máquina de escrever oferecida por um casal amigo dos avós. Ficou encantado com o presente. Foi nela que deu largas à imaginação e colocou as suas ideias no papel. Apesar deste gosto pela escrita, que afirma ser uma necessidade, Norberto só decidiu que queria ser escritor, “para o resto da vida”, aos 27 anos, quando já ia a meio do seu primeiro romance, “Vícios de Amor”.
Aos seis anos queria ser médico. Aos dez jogador de futebol. Aos 18 tencionava conciliar a música com a psicologia. “Quando terminei o curso era esse o rumo traçado. Frequentava o Hot Club e preparava-me para seguir a carreira académica e clínica. Até que uma madrugada – escrevo sempre pela noite fora – senti aquilo que não se explica por palavras. A partir daí fiquei condenado a ser escritor”, diz a O MIRANTE.

A sinopse de “O Pecado de Porto Negro”

Na cidade de Porto Negro, capital da ilha de São Cristóvão, toda a gente conhece Santiago Cardamomo, o bom malandro que trabalha na estiva, tem meio mundo de amigos e adora mulheres, de preferência feias, raramente passando uma noite sozinho. O seu sucesso junto do sexo oposto enche, aliás, de inveja aqueles a quem a sorte nunca bateu à porta, sobretudo o enfezado Rolindo Face, que há muito alimenta esperanças no amor de Ducélia Trajero – a filha que o patrão açougueiro guarda como um tesouro. Mas eis que, no dia em que ensaiava pedir a sua mão, assiste sem querer a um pecado impossível de perdoar que acabará por alterar a vida de um sem número de porto-negrinos, entre os quais a da própria mãe; a de um foragido da justiça que vive um amor escondido para se esquecer do passado; a de Cuménia Salles, a dona do Chalé l’Amour, a mais afamada casa de meninas da cidade; ou a de Chalila Boé, um mulato adamado que, nas desertas horas da madrugada, se perde pelo porto à procura do amor.

Escritor de Marinhais conquista TV Globo com um romance

Mais Notícias

    A carregar...