Prazenteiro Serafim das Neves
Em Muge, durante a procissão das festas em honra do Mártir S. Sebastião, o padre foi por uns caminhos e o povo foi por outros, levando o material religioso. É mais um passo para o ressurgimento da velha escola do PREC (Processo Revolucionário em Curso) que defendia que o povo é quem mais ordena.
No tempo actual tem vindo, cada vez mais, a cimentar-se esse poder. São os doentes que ditam aos médicos os medicamentos e exames que estes lhes devem passar; são pais dos alunos e os alunos que explicam aos professores o que estes lhes devem ensinar e quais as notas que lhes devem dar; são os políticos que explicam aos jornalistas o que eles devem escrever e são agora os crentes que ensinam a missa ao vigário.
Eu fico contente com este regresso à pureza inicial do 25 de Abril. Se foi feita uma revolução para restituir o poder ao povo e se o povo decide nacionalizar uma procissão, a única coisa a fazer é seguir o povo e nada de se fazerem piadas de mau gosto com o efeito rebanho; o efeito manada; o efeito vara ou o efeito cáfila. Dir-me-ás que uma procissão sem padre não é uma procissão mas um desfile. É verdade...mas também é verdade que um desfile com andores é uma procissão...popular e, quiçá, revolucionária.
Também fico feliz por ver que o povo da Glória do Ribatejo quer manter as tradições e recusa o fecho de quatro passagens de nível no ramal de Vendas Novas, que a CP quer fechar. Há lá coisa melhor do que ouvir as campainhas a fazer dring-dring durante os longos minutos que antecedem a passagem do comboio. Uma vez que já perderam a tradição de andar de mula ou de carro de bois, pelo menos que não percam as passagens de nível. Aí valentes!!!
De dois em dois ou de três em três anos, cabuuummm, lá vinha por ali abaixo mais um naco gigante da encosta de Santa Margarida, sobranceira à Entrada Nacional 114, em Santarém. O deslizamento regular de terras naquilo a que alguns também chamam barreiras, interrompia a circulação automóvel e originava a realização de excursões organizadas de técnicos, autarcas, jornalistas e membros do governo ao local. O último cabuuummm aconteceu há quatro anos e, para desolação de muitos, a estrada nacional ficou cortada até hoje.
Os cabuuunnnssss da encosta de Santa Margarida foram visitados por presidentes de câmara como José Miguel Noras e Rui Barreiro, ambos do PS, Moita Flores, independente eleito pelo PSD e Ricardo Gonçalves do PSD. Na prática todos tiveram direito a serem fotografados de capacete de obras na cabeça, junto a toneladas de terra e pedras e a prometerem solenemente acabar com aquilo de uma vez por todas mesmo que isso significasse acabar com um dos raros entretenimentos locais.
Quem está a cumprir a promessa é o actual presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, e há quem não lhe perdoe tamanho atrevimento, tanto mais que, pelas contas de técnicos do Laboratónio Nacional de Engenharia Civil e adivinhações das vidente da região, estaria para breve o gande cabuuummm final pelo qual tantos anseiam. Aquele cabuuummm em que, deslizariam pela encosta abaixo, algumas casas, o que equipararia Santarém a outros grandes destinos europeus de Sky imobiliário com tudo o que isso significaria de incremento do turismo aventura.
Constrangido por verificar que iria perder a oportunidade de, na sequência de um arrastamento de casas, felicitar o presidente da câmara, o vereador da oposição e ex-presidente de câmara Rui Barreiro, votou contra a expropriação das casas, que na maior parte dos casos não estão habitadas, para demolição.
Para ele a expropriação é uma violência e defende que as negociações com os proprietários deviam continuar até à derrocada final. Aquela posição é compreensível uma vez que com a demolição irá impedir que os ratos, baratas e aranhas que as habitam, possa sentir a emoção do tal Sky imobiliário. Barreiro, quando era secretário de Estado das Florestas no último governo de José Sócrates, autorizou a caça ao melro que era uma ave protegida mas isso não significa que não seja amigo de...certos animais.
Saudações humorísticas
Manuel Serra d’Aire