Autor do Coração de Fátima desanca no actual presidente de Ourém
Fernando Crespo diz que Câmara de Ourém lhe fez uma proposta ofensiva sobre a peça e que Luís Albuquerque era uma coisa na oposição e que agora está a revelar-se outra na presidência.
O autor da escultura do Coração de Fátima, inaugurada aquando da visita do Papa Francisco em Maio de 2017 considera uma ofensa que a Câmara de Ourém proponha adquirir os direitos da obra por 60 mil euros. Fernando Crespo, em declarações a O MIRANTE, diz que o anterior presidente, o socialista Paulo Fonseca, não se portou bem, ao arranjar uma empresa que nunca financiou a peça, mas que o actual, o social-democrata Luís Albuquerque, que enquanto oposição até questionou a seriedade da empresa, não se está a portar melhor. O artista diz mesmo que entre os dois não há grande diferença e que Albuquerque “deve ser dos que acham que os artistas trabalham por um prato de sopa”.
O presidente do município, Luís Albuquerque (PSD/CDS), explicou a O MIRANTE
que fizeram esta proposta ao autor da obra, depois de terem pedido um parecer jurídico sobre o caso. “Estamos a aguardar a resposta do escultor à nossa proposta”, referiu, confirmando que o escultor ainda não recebeu um cêntimo pela obra que criou. O autor diz que não reconhece nem competências artísticas, nem de idade, nem outras à advogada que fez o parecer indicando a verba de 60 mil euros, acusando o autarca de se estar a aproveitar de uma situação falada na altura das eleições.
Fernando Crespo esclarece que antes da mudança de poder que Paulo Fonseca propôs-lhe adiantar por conta de alguns materiais que o escultor teve de pagar a verba de 60 mil euros, com o compromisso de falar com o sucessor para arranjar uma solução. “A chico-espertice incomoda-me”, refere o escultor, sublinhando que teve sempre um diálogo com Luís Albuquerque quando este estava na oposição, mas que agora que é presidente está a surpreendê-lo pela negativa. “Dou visibilidade ao município e a Fátima, porque a escultura é falada em todo o mundo, e só quem é burro é que não sabe o que se está a passar”, realça o artista.
O escultor recorda que em 2012 uma peça com dimensões idênticas, um monumento ao empreendedor, em Famalicão, ficou em 400 mil euros mais IVA. O maior coração do mundo em Fátima tem um valor estimado de meio milhão de euros. Só o transporte da peça custou vinte mil euros e a sua instalação no local rondou os 25 mil euros. A Câmara de Ourém fez alarde da importância da peça mas depois de inaugurada, em Maio de 2017, Paulo Fonseca desvinculou-se da situação mandando o escultor falar com uma empresa que iria financiar a obra, que entretanto passou o assunto para outra entidade, e até agora nem acordo nem dinheiro.
O escultor esclareceu, na altura, que Paulo Fonseca lhe deu luz verde para avançar com a construção da peça escultórica, o que teve de fazer em praticamente metade do tempo que em circunstâncias normais demoraria, para estar pronta aquando da visita do Papa Francisco a Fátima. A ideia era a empresa pagar a peça e ficar com os direitos de autor.
Esta situação está a criar complicações a Fernando Crespo, que ficou com despesas para liquidar com a empresa metalomecânica com quem costuma trabalhar e onde foi feita a peça. A escultura tem cerca de 12 metros de altura e 12 de largura e é uma homenagem ao Papa Francisco, como forma de assinalar a sua visita a Fátima e marcar o centenário das aparições.