A nova vida de Maria que aos 92 anos vive pela primeira vez numa casa
Nova habitante do centro histórico de Tomar encantada com as rotinas de tratar da habitação. Maria Júlia Morito está há duas semanas na sua nova casa, no centro histórico de Tomar. Para trás ficaram 92 anos a viver em habitações pouco condignas, muitos dos quais no acampamento do Flecheiro.
A vida de Maria Júlia Morito nos últimos quinze dias tem sido de azáfama. “Tenho sempre a casa cheia, são visitas da família, de vizinhos e até de desconhecidos”, que querem ir ver como está instalada a idosa de 92 anos que vive numa casa pela primeira vez. Maria é cigana e toda a vida viveu em barracas, até que agora a Câmara de Tomar a alojou numa habitação no centro histórico da cidade. Nos momentos em que está só, o que até agora têm sido poucos, a idosa já definiu rotinas, gosta de fazer limpeza e também aprecia lavar a roupa e estendê-la no pequeno estendal que tem à porta de entrada. Quando lhe apetece vê um pouco de televisão. “O segredo é nunca parar”, revela a idosa.
Maria Júlia diz que se dá melhor com o Inverno, mas agora que tem uma casa fresca também já gosta do Verão. A habitação fica num rés-do-chão da Rua da Saboaria. É uma construção antiga que foi reabilitada, constituída por uma sala com cozinha, quarto e casa de banho. As paredes são grossas e mantêm a casa fresca mesmo nos dias de maior calor. Maria espera que também sirvam de escudo para o frio nos dias de Inverno que vão chegar. As despesas relacionadas com a habitação também devem chegar um dia destes e a idosa mostra alguma preocupação pois a sua parca reforma, de pouco mais de 300 euros, vai ter que ser suficiente para fazer face às despesas de farmácia, alimentação e às novas contas relacionadas com a casa, como luz, água, gás e a própria renda, cujo valor ainda não tem conhecimento.
Maria Júlia Morito é de etnia cigana e a contabilidade da família não é fácil de fazer. Foi com a ajuda da filha e da nora que lá fez as contas: quatro filhos, sete netos, e perto de vinte bisnetos. Cada nascimento é como uma nova ruga no rosto de Maria, mas são boas memórias para a nonagenária. A voz embarga-se-lhe é quando fala do marido, que faleceu há quinze anos e não teve oportunidade de viver para ver “uma casinha assim”. “Ele havia de ter gostado”, confessa a idosa.
A maior parte dos móveis foram-lhe atribuídos, tal como a casa, e Maria Júlia sente que agora não lhe falta nada, só talvez alguma companhia para passar a noite. É por isso que uma das netas a tem acompanhado nesta fase de transição e de mudança de hábitos.
Câmara quer ir realojando pessoas aos poucos com projecto social
Maria Júlia Morito faz parte dos habitantes do bairro do Flecheiro que já teve habitação atribuída pelo Município de Tomar, presidido por Anabela Freitas. Desde 2013, a autarquia realojou cerca de metade dos habitantes deste acampamento, onde há mais de 40 anos se instalaram várias famílias de etnia cigana, muitos deles em casas ou bairros sociais. “O realojamento das pessoas é um processo que ainda tem um longo caminho para percorrer, mas o importante é irmos resolvendo aos poucos até que o consigamos resolver na totalidade”, refere Anabela Freitas.
“Arranjar habitação e despejar numa casa não é suficiente, é um processo que tem que ser acompanhado com um projecto social e de integração das duas comunidades, quer da comunidade que está a ser integrada quer da comunidade que está a receber”, acrescenta a autarca. Neste momento, de acordo com a autarca, já foram realojadas metade das 230 pessoas que viviam no Flecheiro. Contudo, o problema da habitação não se esgota neste acampamento, o realojamento e a atribuição de habitações destina-se a qualquer cidadão necessitado. “Qualquer cidadão pode concorrer ao concurso de atribuição de habitação social”, esclarece Anabela Freitas.